Início Especial Aborto em criança de 9 anos: E você, o que faria?

Aborto em criança de 9 anos: E você, o que faria?

Amanda Menger
Tubarão

A lei brasileira permite o aborto apenas em alguns casos, como em gravidez fruto de violência sexual, quando há risco à gestante e quando a criança é anencéfala. O tema voltou à discussão com o caso da menina de 9 anos que engravidou de gêmeos, do padrasto, em Pernambuco. A justiça autorizou os médicos a interromperem a gravidez, pois este caso enquadra-se em dois itens previstos na legislação.

A polêmica foi ainda maior com as críticas realizadas pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, que afirmou que a mãe e os médicos foram “excomungados após a interrupção da gravidez”. Segundo ele, a menina deveria levar a gestação até o fim, mesmo que representasse risco à grávida, porque “os meios não justificam os fins”. “A lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Então, quando uma lei humana, quer dizer, uma lei promulgada pelos legisladores humanos, é contrária à lei de Deus, essa lei humana não tem nenhum valor”, acredita o arcebispo de Olinda e Recife.
Segundo a ginecologista Daniela D’Agostin Marim, de Tubarão, o risco de levar uma gravidez desta até o fim era enorme. “A gravidez de gêmeos já é de alto risco e o fato de a menina ter 9 anos aumenta a complexidade. Ela não tem estruturas física, hormonal e emocional completas”, afirma a médica.

Além do risco de morte, a garota poderia ter outras doenças, como diabetes gestacional, pré-eclampsia, enfim, doenças próprias da gestação. Uma gravidez precoce, antes dos 20 anos, tem outras consequências. “Os jovens muitas vezes não têm responsabilidade para cuidar destas crianças. São crianças cuidando de crianças. Isso abala a estrutura familiar”, considera Daniela.

O Ministério da Saúde está preocupado com o planejamento familiar, porém, os jovens nem sempre procuram o sistema de saúde para ter acesso aos métodos contraceptivos. “Hoje, as pessoas têm estímulo para a sexualidade cada vez mais cedo e os pais não estão atentos para o fato dos filhos com 13, 14 anos já terem relações sexuais. Os jovens têm muita informação, não sabem como usar e necessitam de orientação dos pais”, acrescenta a ginecologista.

O que pensam os líderes religiosos da região?

Todas as religiões são favoráveis à vida. Entretanto, em alguns casos, como o da menina de 9 anos – que engravidou de gêmeos após ser estuprada pela padrasto, em Pernambuco -, a interpretação pode ser diferente.

Para o presidente do Conselho Regional Espírita n° 15, Carlos Alberto Rebelo, é preciso observar a instrução da doutrina. “Na questão 358 do Livro dos Espíritos, o aborto é crime na medida em que transgride a lei de Deus. Mas, na questão seguinte, trata da gravidez com risco de vida à mãe. Neste caso, os espíritos são taxativos: é preferível sacrificar a vida do ser que ainda não existe à da mãe”, observa. Segundo Rebelo, como o espírito é eterno, estas crianças terão chances de reencarnar novamente.
O pastor Junior Lopes, da Igreja do Evangelho Quadrangular, tem um pensamento semelhante: “A Igreja Quadrangular é contra o aborto e sempre a favor da vida, salvo quando há necessidade de escolha de vida. Então, opta-se por aquela que está inserida na sociedade”.

Os representantes da Igreja Universal do Reino de Deus em Tubarão afirmam que seguem o pensamento do bispo Edir Macedo. Em outubro do ano passado, o bispo declarou ser favorável ao aborto. ”Sou favorável ao aborto. Não é que eu ache que toda grávida deveria abortar, mas acho que nem toda grávida tem condições de ter um filho. Podemos considerar esse assunto sob o ponto de vista sócio-econômico, do ponto de vista da fé ou do ponto de vista emocional”, declara.
A polêmica em torno da história da menina de 9 anos ficou ainda maior devido às declarações do arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, que, por não concordar com o procedimento (aborto), chegou a excomungar os médicos e a mãe da menina.

Em Tubarão, o representante da Igreja Católica, o bispo Dom Jacinto Bergmann, preferiu não se pronunciar sobre o assunto. “Assisti ao caso apenas pela TV, não conheço realmente o lado de todos os envolvidos. Por isso, prefiro não me pronunciar sobre o caso. É questão de coerência”, justifica o bispo.

População é favorável ao
aborto apenas neste caso

Tatiana Dornelles
Tubarão

O caso da menina de 9 anos que abortou gêmeos, em Pernambuco, depois de ter sido estuprada pelo padrasto, mexeu com a opinião popular brasileira. Os médicos foram autorizados pela justiça para interromperem a gestação, uma vez que a gravidez da garota era de risco e ela ainda não tinha estrutura física para aguentar até o fim da gestação.

Em Tubarão, assim como em todo o país, o assunto também está nas ruas. E, de acordo com os entrevistados, a resposta foi unânime: todos foram a favor do aborto no caso da garota.
A dona de casa Íria Terezinha de Jesus, de Capivari de Baixo, é favorável. “A menina é muito pequena para ser mãe. É uma criança gerando outra. Aprovo o aborto apenas neste caso e, se fosse com alguém próximo, também o faria”, admite a dona de casa.

A professora Gelsa Martins Amador, de Tubarão, acredita que as afirmações do arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, foram radicais. “Ele (o arcebispo) está totalmente errado. Ela tem 9 anos, é uma criança e não tinha como levar adiante. Sou favorável somente neste caso”, argumenta.

Para o vendedor Ageu Ferreira, por ter sido um caso de estupro e pela idade da menina, o aborto deveria mesmo ter sido feito. “Neste caso, devido às circunstâncias, acho que o aborto é mesmo a solução. Tenho uma filha da mesma idade e um pai nunca quer que isso ocorra”, ressalta.
O aposentado Carlos Matias, mesmo completamente contra o aborto, diz que, neste caso que ‘abalou’ o país, o procedimento foi correto, já que a garota não tinha como sustentar a gravidez de gêmeos até o fim.

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