Início Entrevistas “Tenho consciência de que preciso fazer um grande governo”

“Tenho consciência de que preciso fazer um grande governo”

Foto:Kélen Bardini/Divulgação/Notisul
Foto:Kélen Bardini/Divulgação/Notisul

Ele nunca escondeu que ser prefeito não estava em seus planos políticos, mas abraçou a ideia com muito empenho e o entusiasmo prevaleceu. Joares Ponticelli (PP), 51 anos, começou a campanha com desvantagem e foi ‘comendo pelas beiradas’. Ao lado do vice Caio Tokarski (PSD), conquistou 45,23% dos votos válidos, exatamente 26.555 eleitores, e governará Tubarão de 2017 a 2020. Ex-vereador, ex-deputado estadual, ex-presidente da Assembleia Legislativa, ex-presidente estadual do PP e atual vice-presidente da sigla, Joares está cheio de planos e vontade de fazer a diferença.

Priscila Loch
Tubarão

Notisul – Primeiro de tudo, deixe um recado para os eleitores.
Joares – A minha primeira palavra é gratidão a todos. Principalmente ao Caio, que foi o vice que me acompanhou em todas as horas, foi muito parceiro; à coligação, aos partidos todos que integraram; à nossa coordenação de campanha, que foi extremamente competente, organizada, trabalhou muito, executou cada parte da campanha com muita competência; aos 69 candidatos  da coligação, que foram muito leais, dedicaram-se muito. Tudo isso nos fez chegar ao eleitor, a quem quero agradecer, muito especialmente aos 26.555 que abraçaram a nossa proposta, compreenderam e depositaram esse voto de confiança, e agradecer também aos demais eleitores, afinal de contas, a partir de 1° de janeiro, eu e Caio seremos o prefeito e o vice de todos os tubaronenses. Passado esse período de euforia e comemoração, precisamos agora enrolar as bandeiras partidárias, pois a eleição acabou, e pensar em unificar a cidade, juntar todos em torno de um projeto. Nossa cidade tem pressa, precisa de um grande mutirão, precisa de toda energia, de todas as forças para enfrentarmos os desafios que teremos pela frente, para que nossa cidade possa andar mais rápido e recuperar a condição de protagonista regional.

Notisul – O que podemos esperar de seu mandato?
Joares –
Muito trabalho, como foi na campanha, muita determinação, muita economia. Vamos fazer o dever de casa, economizar para fazer frente às contrapartidas nas parcerias que pretendemos buscar junto aos governos do estado e federal. Faremos muitas parcerias com entidades, a começar pela Unisul, que vai ter em nossa administração a maior parceria de todos os tempos. Entendemos que a Unisul, por ser a casa do conhecimento e da informação, pode, deve e quer contribuir muito. A solução de problemas na área da saúde, por exemplo, passa necessariamente pela Unisul, como a melhoria da gestão das unidades e a conclusão da UPA. Precisamos separar os clientes, como costumo chamar. Os casos de emergência efetivamente precisam ser atendidos no Hospital Nossa Senhora da Conceição. Os que não são emergência precisam ser atendidos ou em uma unidade básica ou na UPA, para que possamos diminui a fila na emergência do hospital e colocar aqueles mais de 60% das sete mil pessoas que passam por mês, mas não são casos de emergência, lá no prontoatendimento, que vai funcionar até as 10 horas da noite, para resolver essa demanda e humanizar o atendimento.

Notisul – Como você explica o sucesso na urnas, já que começou lá embaixo nas pesquisas de intenções de voto?
Joares –
De novo, muito trabalho, planejamento, organização, envolvimento e motivação da equipe. Esses foram os fatores que nos fizeram virar. Na primeira pesquisa, a gente realmente tinha 8% de intenções de voto, contra mais de 40% do principal adversário. Mas isso não nos fez desanimar. Pelo contrário. Nos estimulou, tivemos que correr muito, sabíamos que o tempo era curto, que tínhamos que aproveitar todas as oportunidades. Não perdi nenhum espaço para debater, para participar de reuniões. Em uma campanha tão curta, você tem que aproveitar todas as oportunidades de apresentar as ideias. Acredito que minha vida pregressa e a do Caio também ajudou, pelo fato de já termos passado por vários mandatos sem nenhuma condenação, sem nada que desabone a nossa carreira política, falando daquilo que nós fizemos nos mandatos que exercemos, prestando contas e, principalmente, falando do que pretendíamos fazer. A construção do plano de governo envolveu mais de 50 técnicos de diversas áreas da cidade, a maioria sem nenhuma vinculação partidária. Essas pessoas vieram ajudar a construir porque amam essa cidade e acabaram por fim, indiretamente, envolvendo-se na campanha também. A abertura que fizemos através de três encontros presenciais, para discutir o plano de governo, a plataforma digital. Mostramos que queríamos de fato um plano de governo construído pela cidade, pelas pessoas que querem uma cidade melhor. Aí fomos seguindo todo esse planejamento com muita determinação e muito trabalho. Eu sempre tive a convicção, e dizia isso para os candidatos e equipes de trabalho, que a nossa meta era chegar na metade de setembro com algo em torno de 5% a 10% atrás do adversário para na semana da eleição encostarmos e aí até o dia virar a eleição. E tudo isso aconteceu do jeito como planejamos. Quando chegamos na metade de setembro, já estávamos só 8% atrás do principal adversário. Nas pesquisas internas, essas diferença já era um pouco menor. Aí veio o debate da Unisul TV, que junto com a vinda do governador Raimundo Colombo, uns dias antes, foi um divisor de águas. Raimundo praticou um belo gesto, demonstrou comprometimento total quando veio a Tubarão e participou de dois eventos, um partidário e outro me acompanhou na Associação Empresarial, onde reafirmou o compromisso com nosso plano de governo. Na sequência, veio o debate da Unisul TV, que mostrou que estávamos realmente preparados e focados em nosso projeto. Aí, já na segunda-feira depois do debate, tínhamos duas pesquisas internas que mostravam que já tínhamos passado o adversário. Em uma delas, aparecíamos com 1% na frente, e na outra com 3%. Mas isso não nos acomodou. Tanto que a que estávamos com 3% a mais não divulgamos, exatamente para manter a equipe animada, trabalhando muito. E assim foi feito. Foi uma semana de muito trabalho, tínhamos que botar gás na última semana. O time pegou muito forte. No sábado, o evento de encerramento de campanha era para ser bem menor, e as pessoas foram chegando, integrando-se, fizemos uma carreata com mais de mil carros e isso repercutiu muito. O trabalho nas redes sociais também foi muito importante, todo mundo compartilhando, comentando, reproduzindo. Aí, senti que de sexta-feira em diante os nossos eleitores transformaram-se em cabos eleitorais, começaram a se envolver porque viram a possibilidade de ganharmos a eleição. Na sexta, já tínhamos indicativos de que iríamos ganhar com algo em torno de cinco mil votos de diferença. Mas, como as pessoas que tinham intenção de votar na gente acabaram virando cabos eleitorais, isso ganhou ainda mais corpo. No domingo, quando fui visitar as urnas, passei em 25 dos 39 locais de votação e em todos senti uma empolgação muito forte, um envolvimento muito grande. Tanto que terminei o trabalho por volta de 16h30min e já estava convencido de que poderíamos ganhar com mais de cinco mil votos. Para cada três bótons nosso, via um do principal adversário. E logo na abertura das primeiras urnas vimos que a vitória estava se confirmando. Em bairros em que não tínhamos a expectativa de ganha fomos virando e ganhamos em todos os locais de votação.

Notisul – E agora, quais são os planos?
Joares –
O momento ainda é de agradecer a todos. Eu e Caio vamos ter que trabalhar muito para poder retribuir tamanha expectativa que foi gerada em toda essa eleição. Nesta semana, estamos ainda contatando lideranças, vereadores, agradecendo, visitando a imprensa. Já conversei com o prefeito Olavio Falchetti e ele foi muito receptivo, amistoso. Ele concordou de pronto para agilizarmos a transição, disse que vai facilitar todo o processo, e marcamos para a próxima segunda-feira, às 9 horas, uma reunião de transição. Precisamos reunir todas as informações possíveis para esboçar a estrutura administrativa que planejamos e possamos logo no início do governo ter os postos definidos para poder trabalhar rapidamente pelo cumprimento do nosso compromisso de campanha.

Notisul – Em ordem de prioridade, o que deve ganhar atenção especial no primeiro mês de governo?
Joares –
Primeiro, vamos procurar os bancos, porque me preocupa muito essa questão da devolução dos recursos do ISS. O município perdeu, está condenado a devolver e sabemos que tem um banco que pode executar a qualquer momento a dívida. Então, logo no início do governo pretendo tratar isso com os bancos, para ver como vamos fazer essa devolução. Precisamos retomar duas ações que estão paralisadas. Uma delas é o convênio celebrado entre o município e a Rede Ferroviária, entre 2001 e 2002, que prevê a construção da nova oficina para a Ferrovia Tereza Cristina e fazer a transferência, para adaptar a estrutura atual da oficina e levar toda a prefeitura para o bairro Oficinas. O espaço é grande e é possível concentrar toda a estrutura da prefeitura. Para economizar, para respeitar o cidadão e para reanimar aquela grande região que ficou meio esquecida porque a cidade cresceu para o outro lado. Hoje, temos um custo muito elevado de aluguéis, passa de R$ 8 milhões durante o mandato, pelas informações preliminares, podendo chegar próximo a R$ 10 milhões. É um valor muito alto, temos que reduzir isso. Uma outra ação necessária já nos primeiros momentos do governo é a questão da UPA. Precisamos retomar aquela obra, confirmar se a rescisão do contrato é o melhor caminho, concluir a estrutura física e, num segundo momento, buscar parceria com o Ministério da Saúde para equipar e depois procurar a Unisul para fazer uma gestão compartilhada e fazer funcionar. Também vamos tratar logo no início do governo da transferência das escolas Angélica Cabral e Visconde Mauá para o município, para que possamos implantar mais dois Centros de Educação Infantil, uma vez que há falta de vagas na rede pública e precisamos atender essas demandas. Os prédios vão ter que ser adaptados e isso vai levar algum tempo, mas quero acelerar isso logo no início.

Notisul – Durante a campanha, você foi muito atacado com o ‘título’ de inimigo da educação. Como avalia essa situação?
Joares –
Olha, eu fui muito injustiçado. Parte do Sinte, a parte radical do sindicato, tem insistido desde 2011 em colocar em mim e em um grupo de deputados essa pecha. A proposta que aprovamos foi acordada com uma outra parte do sindicato. Na ocasião, aceitei a relatoria do piso do magistério por conta do meu histórico. Eu não sabia onde estava o Sinte por exemplo naquele longo período que o Luiz Henrique (da Silveira) não pagava o piso. O Sinte estava nos braços do governo e não reagia. Só começou a reagir quando o governador Raimundo Colombo assumiu. E eu me propus a relatar a matéria porque sabia que poderia negociar melhor. Na proposta inicial, o piso promoveria um aumento no custo da folha de R$ 18 milhões por mês. Graças ao fato de eu ter sido o relator, elevamos para R$ 38 milhões por mês. Não deu para chegar no ideal, que a parte mais radical do Sinte queria, mas governar não é atender o ideal, e sim atender o possível. O governo chegou no seu limite, agiu com responsabilidade. O reajuste para os professores na implantação do piso oscilou de 39% a 82%. É claro que ainda está aquém do que o professor merece. Também sou professor, com 33 anos de carreira. Evidente que, se pudesse, chegaríamos a um valor muito maior, mas não dá, o estado tem limitações, tanto que estamos entre os cinco melhores pisos do Brasil, com os salários rigorosamente em dia, com 50% do 13° salário já pago, enquanto a maioria dos estados ainda paga parcelado o 13° do ano passado, boa parte já com salários atrasados. Evidente que o professor merece muito mais, mas é um salário justo, possível das finanças do estado absorverem. Essa parte radical do Sinte me acusa inclusive, em uma segunda votação, sobre a carreira do magistério, que foi votada em 2015, quando eu já não era mais deputado há mais de um ano. É muito injusto, fui muito atacado por isso, alguns professores chegaram a andar com adesivos nos carros pedindo para não votarem em mim. Graças a Deus, a população entendeu que aquela manifestação era equivocada, que visava perseguir injustamente. Votei com muita consciência, muita responsabilidade, e tenho certeza que os professores que têm consciência, recebem seus salários em dia, sabem que a minha presença ajudou a construir o piso. Em relação à carreira do magistério, realmente houve um outro tipo de questionamento, mas aí tem que fazer para quem estava na Assembleia naquele período. Se eu fosse inimigo da educação, eu não teria feito o que fiz pela Escola Técnica Diomício Freitas, a construção da quadra coberta do Henrique Fontes, a vinda da Escola Jovem… Na época, só dois municípios do sul do estado ganharam Escola Jovem, Sombrio e Tubarão. Foi uma ação minha como líder do governo na ocasião. O primeiro concurso para professores das Apaes de Santa Catarina fui eu quem liderei. Foram muitas conquistas que tivemos e isso infelizmente não foi reconhecido.

Notisul – Você nunca escondeu a vontade de ser governador do estado futuramente. Ser prefeito pode ser um trampolim para alcançar esse objetivo?
Joares –
Eu sou muito persistente nos meus projetos de vida e nos meus sonhos. Se não fosse persistente, não teria saído da roça, com todas as privações e dificuldade, trabalhado como garçom de lanchonete, empacotador de caixas de supermercado e não teria sido vereador, deputado, presidente da Assembleia e governador do estado por um período. Persigo com muito afinco e vigor os meus sonhos e trabalho muito para um dia o meu partido me dar essa oportunidade de disputar o governo do estado. Meu partido já me deixou disputar um cargo de vice-governador. Acredito que posso levar minha energia para o estado todo. Mas, para isso, tenho consciência de que estou tendo uma grande oportunidade. A população de Tubarão me deu a chance de provar que sou capaz, que sou bom. Tenho consciência de que preciso fazer um grande governo, justo, transparente, realizador para que no futuro o resultado desse governo feito para a minha cidade, para a minha gente possa servir de referência para sonhar com um projeto maior. Quero junto com o Caio, nos quatro anos de governo, me dedicar diuturnamente para colocar nossa cidade em uma condição melhor, para recuperar o protagonismo regional, para a cidade ter uma saúde que cuide mais das pessoas, que seja mais humanizada, para ter escolas com mais vagas para as nossas crianças, para ter um espaço de convivência da família. Quero que a cidade abrace essa ideia de Parque Municipal, para construirmos junto com a iniciativa privada. Uma cidade que tenha um trânsito e uma mobilidade planejados, pensando a cidade para 2030. Não dá mais para fazer na improvisação, no amadorismo, é preciso pensar grande, lá na frente. Uma cidade que tenha um sistema de transporte coletivo mais eficiente, mais atrativo, mais acolhedor, mais inclusivo, que o cidadão sinta-se atraído para usar. Uma cidade que tenha mais ciclovias, para as pessoas substituírem o carro também pela bicicleta, até para se deslocarem para o trabalho. Muitas cidades fazem isso. É isso que sonho para essa cidade, que é grande, tem mais de 102 habitantes, que é líder e que precisa pensar e agir como uma cidade grande.

Notisul – Depois de mais uma campanha, dessa vez ainda mais desgastante, na sua avaliação o que precisa ser modificado ou melhorado na legislação eleitoral?
Joares –
Eu acho que o tempo ficou muito curto e restritivo. Numa eleição em um município grande como o nosso, infelizmente não pude conversar com todas as lideranças, com todas as pessoas que gostaria. Houve um exagero na redução do tempo e penso que essa deve ser uma correção que a legislação deve fazer ao longo dos tempos. 

Notisul – Uma das tuas propostas é cortar comissionados, enxugar a estrutura da prefeitura para economizar. Mas é necessário ter espaço para agregar os partidos aliados. Como pretende fazer isso sem se indispor tanto?
Joares –
Vai ser um desafio. Mas o bom é que quando você age com transparência desde o início não precisa gravar o que diz, porque a verdade é sempre uma só. A primeira pergunta que fiz aos representantes de todos os partido que ingressaram em nosso projeto foi exatamente esta, com relação ao compromisso com a redução da estrutura. E todos afirmaram ter esse compromisso. Portanto, a partir do momento em que começarmos a recolher todas as informações vamos esboçar uma estrutura administrativa que possa contemplar todos os serviços com mais eficiência, com mais economia, com mais rapidez, para que possamos iniciar o mandato com essa estrutura pronta e adequada.

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