O s comerciantes venezianos queriam que seus navios fossem mais longe, estabelecendo limites mais longos nas rotas comerciais com o Oriente, território do qual Marco Pólo e seu pai foram os grandes desbravadores.
Com esse fim, encomendaram a Galileu Galilei e invenção de um aparelho que ampliasse a capacidade da visão humana. Partindo de instrumentos mais rudimentares, Galileu inventou o telescópio. E da observação da curvatura da terra e do movimento dos astros, desvendou, então, o principal mistério do Universo.
Marilena Chauí fez a mais sintética e precisa definição da ciência: “Um instrumento capaz de transformar os mistérios da realidade em uma realidade sem mistérios”. E Eduardo Giannetti da Fonseca acrescentou: “A história da ciência tem sido em grande medida a história da destruição de nossas crenças em causalidades imaginárias: com um simples par de prismas polidos, Newton enterrou milênios de fantasias sobre as causas do arco-íris”.
Voltando de Firenze, onde senti a forte atmosfera renascentista, lembrei-me de que na próxima segunda-feira, dia 15 de fevereiro, transcorre o 446º aniversário de nascimento do físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei. Talvez ninguém como ele represente tão bem essa espécie rara de homens que ousam ir além do conhecido, rompendo barreiras e superando preconceitos arraigados.
Depois de 1.900 anos, Galileu foi o primeiro a contestar afirmações científicas de Aristóteles, que permaneceram como dogmas, desde 300 a.c. até 1615. Muito mais do que ter provado a tese heliocêntrica, descoberto que a massa não influi na velocidade da queda, ter inventado o compasso geométrico e militar e a balança hidrostática, aprimorado o telescópio e descoberto as montanhas da Lua, os satélites de Júpiter e as manchas solares e planetas, seu maior feito foi ter acreditado no homem, em seu espírito de raciocínio e observação, criando o método científico que permitiu a comprovação de verdades da natureza por meio de experimentos sistemáticos.
Antes dele predominava a ciência aristotélica, impregnada de misticismo e empirismo, o que fazia da ciência um labirinto de sofismas, bloqueando seu progresso. Portador de raciocínio geométrico e profundo senso experimental, Galileu dinamizou a ciência de sua época, descortinando-lhe novos horizontes e diretrizes. A condenação de Galileu pela Inquisição deve ter sido a inspiração maior do biólogo naturalista inglês Thomas Huxley quando afirmou que “o destino normal das novas verdades é começar como heresias e terminar como superstições”.
Galileu nasceu em 1564, durante a era áurea do Renascimento da cultura greco-romana, no mesmo ano da morte de Michelangelo e do nascimento de William Shakespeare. Morreu em 1642, mesmo ano em que nasceu o físico inglês Isaac Newton. Foi enterrado, na sua firenzi, na Basílica Fiorentina de Santa Cruz, onde também repousam Machiavelli e Michelangelo. Inconformado com as restrições religiosas ao avanço da ciência, Galileu bradou: “Não me sinto obrigado a acreditar que o mesmo Deus que nos dotou de sentidos, razão e intelecto, pretenda que não os utilizemos”.