Início Colunistas Aos 45 - Karine Mendes Dinheiro, mídia, status e mais dinheiro: O futebol mudou

Dinheiro, mídia, status e mais dinheiro: O futebol mudou

O campo ainda é o mesmo, mas o que rola fora das quatro linhas está cada vez mais surreal. É como se o futebol tivesse virado um reality show em alta definição, onde o drama acontece tanto no gramado quanto nos bastidores milionários.

Beckham: jogador bom, empresário genial

Divulgação/Lance

Você sabia que ele é o dono e presidente do time do Messi? Sim, isso mesmo! O ex-atacante do Real Madrid topou sair do galáctico espanhol para ganhar cerca de 70% menos no LA Galaxy, um time americano que não se compara ao Real. Mas como bom empresário, ele negociou fatias de royalties e direitos comerciais dos produtos do clube. Ele sabia que esses valores iam disparar com sua ida para lá, e lucrou cerca de US$ 450 milhões.

Além disso, o contrato dava direito a David de ter um time na MLS (Major League Soccer, a principal liga de futebol profissional dos Estados Unidos e Canadá) por um valor “irrisório”, só US$ 25 milhões (risos). E assim se fez: em 2014 ele deu entrada no pedido, em 2018 recebeu a aprovação e em 2020 o Club Internacional de Fútbol Miami (Inter Miami CF) começou oficialmente.

Três anos após sua estreia na MLS, o time, desde julho de 2023, conta com ninguém mais, ninguém menos que Messi no elenco, além de ter um novo estádio previsto para inaugurar no ano que vem. Com essa pequena pisada no acelerador, o time que em 2022 já era avaliado em US$ 600 milhões passou a valer US$ 1,2 bilhão pós-Messimania.

O time que muita gente conheceu no Mundial de Clubes vem crescendo muito e atraindo os americanos para o futebol. E para fechar com chave de ouro, ano que vem tem Copa lá, né? Será que Messi ganha a Copa com a Argentina mais uma vez? Será que agora o povo do soccer vai aprender que foot + ball é jogado com os pés?

Grandes cifrões: O dinheiro desvalorizou ou o jogador foi supervalorizado?

Divulgação/Chris Brunskill/Getty Images

Já que estamos falando de futebol e dinheiro, vocês viram que o Thomas Müller, campeão do mundo pela Alemanha, foi direto ao ponto: os valores atuais do futebol estão surreais. Ele citou, por exemplo, a contratação de Neymar pelo PSG como um divisor de águas nesse inflacionamento do mercado.

Essa crítica toca em algo mais profundo: o futebol está virando um jogo financeiro mais brutal que o talento em campo. O dinheiro, no contexto global, perdeu força com inflação e impressão massiva de moeda. Mas o futebol criou sua própria lógica de bolha, onde o valor de um jogador se mede mais pelo que ele atrai fora do campo do que pelo que entrega dentro dele.

Como vimos nas jogadas do Beckham, jogadores viraram ativos multimídia. Eles:

  • Vendem camisas
  • Movimentam seguidores
  • Atraem patrocinadores
  • Viram marca global

E isso é exatamente o que Beckham entendeu antes de todo mundo. Ele não foi o melhor do mundo tecnicamente, mas entendeu que o futebol era entretenimento, marketing e storytelling, e vendeu isso como ninguém. O Inter Miami é a colheita disso.

Mas e você? Acha que isso está demais? Que está atrapalhando o futebol? O que Müller sente é meio que meu sentimento às vezes: uma certa perda de essência, talvez até do romantismo de jogar “pela camisa”. Mas negar o mercado hoje é ignorar que o futebol virou o palco de uma economia criativa bilionária.

O futebol deixou de ser só esporte, virou mídia, branding e influência. Estamos numa era onde o atleta é o produto, e clubes que entenderem isso (como o Inter Miami) crescem mais rápido que muitos bancos.

Afinal, o que está em jogo não é só a bola: é atenção, audiência e ativos digitais. Müller falou do excesso, Beckham explora a oportunidade. E nós, como sociedade, decidimos quem merece 400 milhões ou 400 likes.

As transferências no futebol estão ficando tão rápidas quanto PIX

Divulgação/Estadão

Que a Europa (e o resto do mundo) está sempre de olho nas crias dos clubes brasileiros não é novidade, mas vocês também sentiram que esse Mundial esquentou as negociações? Está tendo muito mais procura. Sente a lista:

Wesley, do Flamengo, entrou no radar do Chelsea, Juventus, Roma e Brighton logo após o confronto direto entre os clubes, além de entrar na mira do Everton, que estuda repassá-lo por empréstimo à Roma como parte da negociação.

Estêvão, joia do Palmeiras, já tinha acerto com o Chelsea, mas teve sua cláusula reavaliada após o Mundial por conta do assédio de clubes da Premier League e da Bundesliga.

Richard Rios (meio-campista): surgiram conversas entre Palmeiras e Inter de Milão, com interesse também de Tottenham, Everton e Nottingham Forest, por valores próximos de €25 milhões.

Ou seja: os olhos estrangeiros seguem afiados, mas agora, com o Mundial como vitrine, as abordagens ficaram mais diretas e mais rápidas. O talento brasileiro virou ativo quente, ainda mais quando brilha sob holofote internacional.

O bicho árabe: R$ 2,9 milhões por cabeça só por passar de fase

Divulgação/Patricia de Melo Moreira – AFP

Para quem não é do meio: o que é “bicho” no futebol? É uma premiação extra, geralmente em dinheiro, dada por vitória ou conquista. Tipo um bônus motivacional que o clube paga pros jogadores e às vezes paga MUITO bem.

Agora segura essa: R$ 2,9 milhões por cabeça, só por passar de fase.

O Al-Hilal, da Arábia Saudita, distribuiu um dos maiores “bichos” já registrados no futebol. Motivo? Eliminou o Manchester City no Mundial de Clubes, numa virada histórica por 4 a 3 na prorrogação.

Cada jogador embolsou 2 milhões de riyals (quase R$ 3 milhões) e a comissão técnica também entrou na roda. No total? Mais de R$ 93 milhões pagos no vestiário.

E sim, isso foi real, teve anúncio oficial, vídeo do presidente e festa no vestiário. Porque não foi só uma vitória. Foi um golpe de autoridade no futebol global. Ganhar do City hoje não é só resultado: é narrativa, é vitrine, é geopolítica.

Enquanto uns debatem se o mercado está inflado (né, Müller?), outros já estão jogando outro jogo, onde motivação vem em pacote dourado premium.

O clima da Copa do Mundo de 2026: Fuso confuso, calor insuportável e o visto americano como boss final

Reprodução/FIFA

A Copa do Mundo de 2026 ainda nem chegou, mas o ensaio geral (o Mundial de Clubes deste ano) já mostrou que o “caminho da glória” vai exigir muito mais do que futebol.

Calor de derreter plano tático

Durante esse Mundial, algumas partidas nos EUA foram disputadas com temperaturas reais de 36-38°C e sensação térmica acima dos 45°C. Em cidades como Dallas, Houston, Charlotte e Cincinnati, o calor somado à umidade colocaram atletas sob condições classificadas como estresse térmico extremo pelo índice UTCI, sendo inclusive instituída a cooling break.

Segundo estudo da ONG Sport Positive, 10 dos 16 estádios da Copa de 2026 podem registrar sensação térmica superior a 46°C durante o torneio. Ou seja: cenário real de risco físico para atletas, com impacto direto em performance, lesões e qualidade do jogo.

Raios e trovoadas: o 12º jogador no controle do tempo

Nos EUA, a regra é clara: viu relâmpago até 16km de distância, paralisa o jogo. E isso aconteceu em vários momentos do Mundial de Clubes:

  • Chelsea x Benfica (Charlotte): paralisação de quase 2 horas. A partida, que começou no meio da tarde, terminou à noite
  • Auckland City x Benfica (Nashville): interrupção de 2 horas por trovoada
  • Palmeiras x Al Ahly (New Jersey): paralisado por 48 minutos no segundo tempo
  • RB Salzburg x Pachuca (Cincinnati): jogo adiado em 90 minutos por risco de tempestade
  • Sundowns x Ulsan (Orlando): atraso antes mesmo do apito inicial

Tudo isso em um só torneio. Agora imagina isso numa Copa do Mundo, com calendário apertado, transmissão global e milhões de pessoas envolvidas.

Fuso horário ou quebra-cabeça?

Só nos EUA, a diferença de fuso entre cidades-sede varia até 4 horas. Aí entra México (UTC-6) e Canadá, com variações de UTC-3 a UTC-8. Resultado?

  • Um jogo no horário nobre em Toronto pode estar rolando no meio da tarde em Los Angeles
  • Partidas transmitidas ao vivo no Brasil ou na Europa terão cronogramas desalinhados, exigindo ajustes na cobertura, sono dos atletas, logística de recuperação… e do torcedor que vai madrugar ou perder jogo no meio do expediente

E não é só no relógio que o tempo pesa: deslocamentos internos podem levar 5-7 horas de voo entre uma cidade e outra. Fora conexões, imigração, adaptação.

Visto americano: a barreira invisível

A gente fala de calor, tempestade e distância. Mas tem outro obstáculo real: entrar nos Estados Unidos. Para torcedores brasileiros, tirar o visto americano segue sendo um desafio:

  • Agendamentos podem levar meses
  • O processo é burocrático, caro e exigente
  • Ainda há entrevista presencial obrigatória, o que limita quem mora longe dos consulados

E isso não vale só para o Brasil: vários países da África, Ásia e América Latina enfrentam a mesma limitação. Ou seja, em pleno 2026, teremos a “Copa mais global da história”… com barreira na porta de entrada.

A pergunta que não quer calar: com tudo isso, será que dividir a Copa entre 3 países gigantescos foi mesmo a melhor ideia? Ou será que a busca por escala, dinheiro e marketing atropelou a essência do futebol: gente reunida, vibração coletiva e acesso democrático?

Fica o convite para reflexão, porque o campo pode até aguentar o tranco. Mas quem segura o jogo fora das quatro linhas?

Vai ter abstinência de NANANANANANANANA?

Reprodução/CNN

Quem aí já está sentindo a abstinência bater? Na fase de grupos do Mundial de Clubes, a gente levou um banho de futebol de alto nível. Aí vieram as oitavas, e agora já estamos nas quartas… E aí, sente falta do frio na barriga desse tipo de jogo?

Não que a gente não esteja com saudade do nosso Brasileirão, mas… esse Mundial vai deixar saudade ou não? Quem elogiou? Quem criticou? Bora relembrar?

Quem bateu palma

A mídia da América Latina encheu o peito ao ver os nossos dando trabalho aos europeus. O New York Post destacou que os clubes brasileiros “desafiaram a hegemonia europeia” com futebol competitivo e vitórias emblemáticas.

A FIFA comemorou publicamente a vitória do Al-Hilal sobre o Manchester City, tratando o feito como símbolo da globalização do futebol de clubes, onde “o favoritismo mudou de endereço”.

Simone Inzaghi, técnico do Al-Hilal, foi elogiado internacionalmente por montar um time “disciplinado defensivamente e cirúrgico nos contra-ataques” e, segundo a imprensa saudita e europeia, “fez história”.

Pep Guardiola, mesmo entre críticas, disse que estava “orgulhoso de disputar a competição”, destacando que clubes que não participam “reclamam por fora, mas adorariam estar aqui”.

Alguns clubes e jogadores manifestaram apoio nos bastidores, encarando o Mundial como oportunidade de marca, visibilidade e desafio técnico. Nem todos falaram publicamente, mas o entusiasmo ficou evidente nas redes e no engajamento da torcida.

Quem levantou a bandeira de crítica

Jürgen Klopp, ex-Liverpool e hoje diretor global da Red Bull, chamou o novo Mundial de “a pior ideia já implementada no futebol”, condenando o excesso de jogos e risco de colapso físico dos atletas.

Pep Guardiola criticou o regulamento da FIFA, que obriga a escalar os melhores jogadores. Reclamou do cansaço acumulado e admitiu: “quase 80 partidas numa temporada é insano”, mesmo reforçando que, como técnico, segue as regras.

Enzo Maresca, técnico do Chelsea, explodiu após a partida interrompida em Charlotte por quase 2h devido a raios: “Se isso acontece sete ou oito vezes… os EUA não são o lugar certo para essa competição.”

FIFPRO, sindicato internacional dos jogadores, classificou o torneio como “jogo de massacre”, pedindo o adiamento e reforçando o risco à saúde dos atletas.

UNFP (França) apoiou as críticas da FIFPRO e iniciou movimento por greve dos jogadores caso o calendário não seja reavaliado.

O World Leagues Forum, que reúne ligas profissionais globais, também fez pressão pública contra o formato e sua interferência no calendário local.

Javier Tebas, presidente da La Liga, foi mais direto: “Cancelem agora.” Disse que falta apelo comercial, que os direitos de transmissão sequer foram vendidos e que muitos atletas nem queriam estar lá.

Kevin De Bruyne, meia do City, não poupou a FIFA: “No fim das contas, só o dinheiro importa para eles.” Criticou o desgaste físico, o volume de jogos e a falta de consideração com os jogadores.

Rodri, também do City, foi além: sugeriu greve dos jogadores, pedindo freio no calendário e apoio à saúde mental dos atletas. Tebas apoiou publicamente a ideia.

Sergio Busquets, do Inter Miami, se somou à ideia da greve, chamando o formato de “exagerado e desumano”.

Jogadores da MLS protestaram com camisetas escritas “Club World Cup Ca$h Grab”, denunciando a falta de participação nos lucros gerados pela FIFA.

Raphinha, do Barcelona, elogiou os clubes brasileiros, mas criticou o calendário: “É complicado tirar as férias de um jogador europeu para vir jogar Mundial.”

Lautaro Martínez, da Inter de Milão, explodiu após a eliminação para o Fluminense, criticando colegas de time, mas revelando indiretamente o desânimo do elenco com o torneio.

Entre críticas e elogios, a verdade é que o Mundial de Clubes FIFA 2025 conseguiu unir dois polos: de um lado, o encanto esportivo e simbólico com vitórias inesperadas e um futebol mais aberto e global. Do outro, o peso do calendário, o clima desafiador, a logística pesada e a insatisfação dos atletas.

E por aqui, você? Vai ficar com saudade desse ritmo louco de Mundial de Clubes? Ou vai dar graças a Deus que acabou e a gente pode voltar pro nosso Brasileirão de domingo a domingo, com calor tolerável e sem ter que ficar de olho no fuso ou no seen do visto?

Eu vou sentir falta até do NANANANANANANANA!

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