“Nossa proposta é proteger negócios e pessoas”
Diante de um cenário econômico em desaceleração por conta da queda das exportações para os EUA, após entrar em vigor as altas taxas impostas pelo presidente norte americano Donald Trump, e até mesmo antes disso, a Fiesc lançou um pacote de programas chamado de DesTarifaço, para auxiliar tanto a indústria quanto o trabalhador. O novo presidente da Fiesc, Gilberto Seleme, já inicia sua gestão com este desafio em mãos.
A Coluna conversou com ele sobre as ações para enfrentar este momento complexo e sobre os desafios de sua gestão. Confira:
Pelo Estado – A Fiesc lançou um programa para apoiar indústrias exportadoras e trabalhadores afetados pelo aumento das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos, que foi chamado de Destarifaço. Como este programa foi construído?
Gilberto Seleme – O tarifaço atingiu a indústria catarinense de uma maneira muito dura. Já no início, ainda surpresos, começamos a trabalhar para ajudar quem foi prejudicado. Nossa proposta é proteger negócios e pessoas. Em agosto, em mais uma ação de ajuda, lançamos o desTarifaço. Ele dá apoio na busca por crédito e benefícios governamentais, consultoria para abertura de novos mercados e adequação de produtos e linhas de produção. Também dá consultoria jurídica sobre recursos da CLT e negociações sindicais. Oferece qualificação a funcionários inativos e acolhimento e requalificação para trabalhadores demitidos. As nossas entidades, especialmente SESI/SC e SENAI/SC, estão mobilizadas nesta ajuda. Também trouxemos o BNDES que apresentou à indústria as linhas de crédito disponíveis para as exportadoras afetadas pelo tarifaço. O financiamento é fundamental para atravessar esse momento crítico e os bancos de fomento têm um papel importante para auxiliar o setor produtivo.
Pelo Estado – Existe uma expectativa para a mudança deste cenário, ou seja, para que os EUA recuem nas tarifas, a curto ou médio prazo? Tem algum movimento sendo feito para que isto aconteça? Qual?
Gilberto Seleme – As tarifas impostas pelos Estados Unidos têm viés político, e não econômico. Não acreditamos em solução a curto prazo. Temos indústrias, principalmente da área de madeira e móveis, sendo fortemente afetadas. Quase 40% do que mandamos para os EUA são produtos de madeira. O pior é que o impacto não acontece só agora. Ele é sentido no futuro também: o empresário que precisa parar a produção, perde trabalhadores. Se a parada durar seis meses, por exemplo, este trabalhador muda de cidade, muda de empresa, e isso tudo dificulta o recomeço. Recentemente, estivemos nos Estados Unidos numa missão da indústria brasileira que pavimentou o caminho para as negociações de longo prazo, a partir de reuniões com o Congresso norte-americano, Câmaras de Comércio, órgãos governamentais e clientes de empresas brasileiras. Nós também reunimos representantes de mais de 30 câmaras bilaterais — elas são canais de promoção comercial. Além disso, estamos realizando missões e rodadas de negócios, buscando a abertura de novos mercados. Mas tudo isso leva tempo e os resultados devem ser sentidos no médio e longo prazos.
Pelo Estado – E como o senhor avalia o cenário econômico atual do Estado diante do Tarifaço?
Gilberto Seleme – O cenário é desafiador. Em agosto, nossas exportações para os Estados Unidos caíram quase 20%. Em julho, tivemos quase 600 demissões nos segmentos de madeira e móveis. Empresas foram obrigadas a fazer novas demissões nos últimos dias, dada a falta de perspectiva de retomada dos negócios com os Estados Unidos. Mas a FIESC está trabalhando para apoiar a indústria e o empresário. Estamos confiantes de que com diplomacia, estratégia e muito trabalho vamos superar esta fase e retomar a normalidade. Além do tarifaço, é importante considerar que a economia nacional também está desaquecendo, em decorrência do longo ciclo de juros elevados. Então, é um momento de bastante atenção.
Pelo Estado – O senhor assumiu recentemente a presidência da Fiesc. Quais são as prioridades da sua gestão?
Gilberto Seleme – Daremos ênfase à valorização das pessoas porque são elas que fazem a indústria: tanto os empresários, quanto os trabalhadores. E são as pessoas que progridem, crescem e se transformam para melhor a partir do desenvolvimento econômico e social gerado pela indústria. Tenho esse compromisso com os empresários, com os trabalhadores e com a sociedade. E é com esse olhar que trabalharemos para manter a indústria de Santa Catarina forte, competitiva e como referência no país e no mundo. Por isso, nossa gestão vai continuar defendendo temas importantes para a indústria catarinense. Educação, inovação e tecnologia sempre estiveram em nossas prioridades. Saúde do trabalhador e defesa dos interesses nas áreas trabalhista, ambiental e legislativa, também. Infraestrutura é outro ponto importante: temos que trabalhar para melhorar as rodovias, principalmente as federais, além de melhorar nossos portos e aeroportos. Também temos que enfrentar o custo alto da energia e a complexidade dos impostos.
Pelo Estado – E quais o senhor considera que serão os maiores desafios?
Gilberto Seleme – O desafio do momento é o tarifaço. Isso pegou todo mundo de surpresa e tem tomado nosso tempo. Estamos falando com muita gente o tempo todo para tentar mudar isso. Mas as questões que integram o Custo Brasil, que tira a competitividade das indústrias da porta para fora das fábricas, seguem sendo agendas centrais.
Pelo Estado – Sua relação com a Fiesc já é de longa data. Quais projetos iniciados na gestão do Mario Cezar de Aguiar que continuarão sendo trabalhados na entidade e quais os novos que virão?
Gilberto Seleme – A gestão do presidente Mário, da qual participei, foi muito positiva. Tivemos grandes conquistas e este trabalho sempre será lembrado pelos bons resultados, principalmente na área da educação. Nós pretendemos seguir no mesmo caminho, na mesma pegada. O importante trabalho realizado na área de infraestrutura vai continuar, pois temos gargalos importantes a vencer, como o acesso aos portos, a conclusão da duplicação das BRs 280 e 470. Também é essencial equacionar os graves problemas das BRs 282 e 101, para citar alguns exemplos. Em relação à qualificação profissional, tenho dito que é prioridade porque o futuro da indústria passa, inevitavelmente, pela capacidade de formar pessoas preparadas para pensar, resolver e inovar. Num mundo onde a inteligência artificial se expande em ritmo acelerado, a inteligência humana segue insubstituível — desde que bem preparada. Destaco ainda o compromisso com a valorização do associativismo. No dia 22 de agosto, quando tomei posse, disse que é o associativismo que dá sentido à missão institucional da FIESC porque é o nosso sistema sindical que permite enxergar com clareza os desafios e as oportunidades da indústria catarinense. São os sindicatos que captam as urgências das empresas, traduzem demandas setoriais e mobilizam os empreendedores em torno de pautas comuns.