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Eu, as meninas e as lavandas

Em todos os meus compromissos, costumo chegar com uma hora de antecedência. Faço isso para deixar meus clientes tranquilos: é a garantia de que o evento acontecerá, especialmente quando depende da minha atuação. Pode ser como escritora, palestrante ou modelo.

Essa espera, longe de ser perda de tempo, sempre me oferece oportunidades: conhecer o ambiente, fazer uma breve leitura do espaço em que vou trabalhar e, muitas vezes, observar acontecimentos que se transformam em belas histórias para contar.
Nesta semana, enquanto aguardava meu horário em um colégio, tive o privilégio de permanecer no local onde alunos e familiares eram recebidos.

Fiquei encantada com o que presenciei. Primeiro, a recepção: feita com tanto amor e dedicação que me lembrou uma engrenagem perfeita, funcionando em sintonia, como em uma grande empresa. A forma terna como pais e filhos se despediam, também me encantou.

Foi então que uma cena capturou minha atenção. Duas meninas traziam flores em suas pequenas mãos.

A primeira caminhou em minha direção. A pequenina equilibrava com dificuldade um galhinho de lavanda dentro de um copo plástico vazio. Parou diante do bebedouro, ajeitou no chão a mochila e a lancheira, enquanto a irmã ainda abraçava o pai — pela terceira ou quarta vez. Eu, a uns dois metros, percebi que o copo estava envolto em um pedaço de folha de caderno, coberta de listas coloridas, desenhos provavelmente feitos com canetinha hidrocor. Depois de encher o copo de água, pediu ajuda à recepcionista e saiu equilibrando copo, mochila e lancheira. Ali estava uma criança determinada e independente.

A segunda, enfim, se despediu do pai e segurava com cuidado um rolinho de papel, de onde surgia uma flor de lavanda.

A cena me levou imediatamente de volta à infância. Lembrei-me de quando levava flores e maçãs para minhas professoras. Minha mãe cultivava flores para que pudéssemos presentear. Eu me sentia importante por aquele gesto, e imaginava a alegria das professoras naquela tarde ao receberem as flores. Afinal, quem aprecia flores já as associa, naturalmente, ao seu significado.

A lavanda, em especial, carrega mensagens profundas: simboliza pureza, serenidade, calma, devoção e graça. Sua fragrância está ligada ao relaxamento e ao alívio das tensões, enquanto o tom roxo traduz elegância, nobreza e espiritualidade.

No momento certo, fui chamada para a sala em que trabalharia com os alunos do terceiro ano. Ali, apresentaria meu livro Sua Majestade: Donna Locomotiva. Como de costume, preparei a mesa com todo carinho.

Quando a quarta turma entrou, quase três horas após a minha chegada, reconheci as duas meninas da recepção. Vieram direto em minha direção: a primeira me entregou o copo com a lavanda, e pude, naquele instante em que suas pequenas mãos estendiam o presente, ler a mensagem colorida que havia escrito com tanto cuidado para mim. A irmã — sua gêmea, descobri — me ofereceu o rolinho com a flor e um bilhete dentro. Era um agradecimento pela escrita do meu livro e pela visita à escola, tudo ricamente ilustrado.

Ao chegar em casa, coloquei o copo decorado com as lavandas em meu aparador. E então, diante da simplicidade e pureza daquele gesto, senti-me plenamente amada.

Nos encontramos nas próximas linhas !

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