FOTOS Divulgação Notisul
(*) VALTER ALVES SCHMITZ NETO
O ano de 1964 guarda momentos delicados da conjuntura política no Brasil. O país vivia tempos de adaptação ao regime militar recém-instalado, governado pelo cearense Humberto de Alencar Castelo Branco, marechal do Exército, eleito de forma indireta pelo Congresso Nacional em abril daquele ano.
Em Santa Catarina, o governador no poder havia sido eleito pelo voto popular. Era o industrial lageano Celso Ramos, que vinha de família de conhecidos políticos, filho de Vidal Ramos e irmão de Nereu Ramos, único catarinense a presidir o Brasil.
A cidade de Tubarão, por sua vez, havia completado 94 anos como município, com território já bastante diminuído em virtude da emancipação dos municípios de Araranguá, Urussanga, Orleans, Braço do Norte, Armazém, Gravatal, Pedras Grandes e Treze de Maio. Com população de pouco mais de 60 mil habitantes, era a sexta maior cidade do estado.
Eram tempos de desenvolvimento na “Cidade Azul”. A CSN mantinha aqui a primeira usina termelétrica de Santa Catarina, que se tornou a Sotelca – Sociedade Termoelétrica de Capivari. Tubarão já se destacava como centro logístico, sendo parada das principais linhas de ônibus estaduais e interestaduais, contando ainda com a Ferrovia Thereza Christina, que cumpria importante papel no transporte de carvão e passageiros, e com o aeroporto Anita Garibaldi, que há mais de uma década movimentava grande fluxo de pessoas que viajavam pelas aeronaves da Varig e da TAC, interligando os principais destinos brasileiros.
Tínhamos duas pontes sobre o rio Tubarão, três emissoras de rádio, unidade do Exército, agência dos Correios e Telégrafos, os principais bancos, dois fortes times de futebol, clubes de serviço e entidades como Rotary e Associação Comercial e Industrial. Éramos sede da Diocese, e os setores comercial e industrial estavam em crescimento. A cidade era administrada pelo prefeito Dilney Chaves Cabral, na 32ª gestão municipal desde a emancipação de Laguna.
Foi em 25 de novembro de 1964 que a Câmara Municipal aprovou e o prefeito sancionou a Lei Nº 353, que criava em Tubarão a Faculdade de Ciências Econômicas, a primeira estrutura municipal de ensino superior.
Ainda em 1964, no dia 10 de dezembro, pela Lei Nº 355, foi criado o IMES – Instituto Municipal de Ensino Superior, entidade autárquica municipal cujo objetivo era congregar e coordenar as entidades municipais de ensino superior, incluindo a recém-criada Faculdade de Ciências Econômicas.
Três anos depois, em 1967, quando era prefeito o médico Stélio Cascaes Boabaid, o IMES foi extinto e substituído pela Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina, criada pela Lei Nº 443, em 18 de outubro. A Fessc passou a organizar e manter os estabelecimentos de ensino superior, além de assumir outras missões relacionadas ao desenvolvimento regional do Sul de Santa Catarina.
Na década de 1970, a Fessc já demonstrava sua força, participando ativamente do plano de desenvolvimento do estado, no governo de Colombo Machado Salles, ao lado de figuras importantes como o Dr. Alcides Abreu e Fernando Marcondes de Matos. Foi também nessa época, em 1972, que a fundação passou a administrar o Colégio Dehon, fundado em Tubarão em 1947 pelos padres da Congregação do Sagrado Coração de Jesus.
Em 1974, quando Tubarão viveu uma grande tragédia, a Fessc sofreu junto. Mas, do sofrimento, assim como aconteceu com a população, nasceu a força da reconstrução. A instituição teve papel destacado no planejamento e nas ações que devolveram ao município seu protagonismo no desenvolvimento regional.
A Fessc tornou-se universidade em 1989, na gestão do prefeito Estêner Soratto da Silva, pela Lei Municipal 1388, de 20 de fevereiro. A Fundação Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul, reconhecida pelo Conselho Federal de Educação e pelo Ministério da Educação, garantiu formação em graduação, pós-graduação, mestrados e doutorados a milhares de cidadãos da cidade, da região e de todo o Brasil, consolidando-se no ensino e na pesquisa e participando ativamente do desenvolvimento regional. Em setembro de 2006, a Fundação Unisul inaugurou a primeira emissora de TV de Tubarão, a Unisul TV, hoje UniTV SC, veículo educativo universitário e cultural que leva informação de qualidade à comunidade e funciona como laboratório para estudantes de comunicação social.
A Fundação InoversaSul é a instituição que sucedeu a Fundação Unisul após a aquisição da mantença do ensino superior — com cursos de graduação, pós-graduação, mestrados e doutorados — pelo grupo Ânima Educação, em 2021. A nova fundação preserva a história do IMES, Fessc e Fundação Unisul, mantém o Colégio Dehon e a TV e incorpora à sua missão a prestação de serviços especializados, além de projetos de pesquisa e inovação, sem perder de vista a Educação, mola mestra dessa trajetória.
São seis décadas de uma instituição que passou por mudanças, mas cujo compromisso permanece: participação ativa na vida das cidades e no desenvolvimento de áreas como indústria, comércio e serviços, especialmente desde o fim dos anos 1970.
Não há empreendimento que tenha prosperado, transformado vidas, renovado municípios ou promovido desenvolvimento sem que os serviços prestados pelo IMES, Fessc, Unisul e InoversaSul tenham contribuído com efetividade. No esporte e na cultura, com a Arena Multiuso; na inovação, empreendedorismo, pesquisa e projetos, com o Centro de Inovação; e em diversas outras frentes.
Ao longo dos 61 anos dessas instituições, a marca da educação pode ser sentida, vista e acompanhada por todos que pensaram o futuro e o construíram. O desenvolvimento observado não aconteceu por acaso: foi fruto de estudo, planejamento, visão estratégica e, sobretudo, da ação de pessoas e instituições comprometidas com o conhecimento e a inovação — entre elas, quase sempre, a instituição que hoje celebramos.
É nesse contexto que a Fundação InoversaSul reafirma seu papel como protagonista no avanço científico, tecnológico e social do Sul de Santa Catarina, promovendo a integração entre pesquisa, educação e prática consultiva.
O legado do ensino superior na região nos fortalece, traz confiança e abre caminhos para um futuro cada vez mais promissor, ancorado na educação cujas sementes foram plantadas há 61 anos, no Dia de Santa Catarina.
(*) VALTER ALVES SCHMITZ NETO – Presidente da Fundação InoversaSul