segunda-feira, 20 outubro , 2025

A CONFORMAÇÃO DO OUTRO

Sempre me dirão que comportamentos são maleáveis, que alguém pode transformar-se noutra pessoa. Por método, admito a possibilidade, mas mitigo a admissão: é possível, mas não é provável. Os elementos constitutivos da personalidade são estáveis e informam conteúdos e formas de ser.

 As pessoas não “caem” na sua maneira de viver a vida. Primeiro, são situadas (ou faladas) no mundo, principalmente pelos pais; depois, vão-se situando: lutando um tanto, acovardando-se outro, compondo-se com o derredor, ajeitam-se. É dizer: amoldam-se na lenda que criam de si.

Lenda nossa sobre nós mesmos é uma maneira minha de nomear o que Freud chamou de fantasia e Lacan ensinou com fantasma. Essa narrativa que construímos é fundada na invenção da nossa história: supomos ser o que nos convenceram que somos mais o que nos persuadimos que somos.

Esse conto estabelece um território mental, que, com dores e sabores, torna-se nosso campo conhecido de viver. Nós o sabemos e o supomos seguro. Nos acomodamos. Poucos ousariam e raríssimos conseguiriam aventurar-se fora do mapa indicativo que têm de si próprios.

Para a compreensão psicanalítica, essa experiência seria bastante improvável. Nosso mapa indicativo é traçado pela nossa psique, que tem vontade própria, dado que nossa vida mental abriga uma dimensão inconsciente. O inconsciente, que incide sobre nossas decisões, não é controlável.

Os mecanismos de preservação do inconsciente, ademais, são atentos a mantê-lo como está, porque mudança dá origem a ansiedade. Mudar é dirigir-se para um lugar mental desconhecido. O não sabido implica risco, então, entram em funcionamento sistemas de contenção de aventuras.

No geral das vezes, a vontade impetuosa fenece sem gesto, o sujeito permanece nas suas adequações. Repete-se. Os sujeitos tendem a se repetir. No casamento vencido, no emprego desagradável, mesmo em algum desgosto consigo, arranja pretextos. À custa de si e contra o mundo, fica ali.

Claro, uma situação incontornável: já não se lida com um sujeito, mas com os sintomas de um sujeito. Seus conflitos emocionais – neuroses – expressam-se por sintomas, recursos doentios necessários para seu relacionamento doentio consigo mesmo e com suas circunstâncias doentias.

O humor do indivíduo, nesse modo de existir, se vai turbando. Em geral inconscientemente, ele se aliena das circunstâncias: ou se aniquila, embotando o seu ser, ou hostiliza a quem atribui cerceamento; preserva-se, mas não liga importância com o mundo do qual não gosta e que não gosta dele.

Adianto esses dizeres para alcançar um assunto: convivências. Nas convivências amorosas, sobretudo, costuma-se querer que o outro mude: que o outro seja, ou deixe de ser; faça, ou deixe de fazer. Quero o outro, mas quero que o outro seja e faça o que eu quero, não o que ele é e faz.

Não confio na possibilidade. Lembro o já afirmado: é improvável alguém estruturado psiquicamente de determinada maneira mudar, menos ainda porque outro alguém o quer. Não é tão simples impor mudança. Ademais, talvez o outro em questão simplesmente goste-se como é e deseje ficar como está.

Além disso, intriga-me a ingenuidade, ou a petulância, ou ambas as coisas, de quem cobra mudança. As partes se conhecem, acompanham-se, recebem-se como são. Conferem-se e se aceitam. Se a convivência se consolida, só então, iniciam-se as ingerências nas peculiaridades do outro.

Ora, o outro se apresentou, ou foi buscado, tal e qual era e, supostamente, é. Foi identificado na intimidade e se o aceitou e à sua feição singular. Mediu-se alguém que, no tanto que se pode dar, deu-se a saber. Bem, esse alguém, se tirado do seu modo de ser, não será mais quem é, ou quem foi.

Certos egos, egos ávidos, querem em tudo a projeção de si mesmos, a quem única e verdadeiramente amam. Egos narcísicos são assim: não apreciam a diferença, não têm prazer nas possibilidades tão abundantes das relações afetivas, só prováveis nas afinidades com desiguais.

Quem deseja a própria imagem e semelhança não deseja a mais ninguém. É verdade que esses tipos acabam, por tão solitários, não se encontrando, mas colidindo consigo, e, pior que tudo, tendo o mau gosto de nem de si se gostarem, de só gostarem da imagem idolatrada que projetam de si.

Continue lendo

Equipe do Bem-Estar Animal e Polícia Civil apuram maus-tratos a animais em Laguna

IMAGEM PML Divulgação, Notisul Tempo de leitura: 3 minutos A equipe do Bem-Estar Animal de Laguna, em conjunto com a Polícia Civil, atendeu a uma denúncia...

Três jogos fecham a 29ª rodada do Brasileirão nesta segunda-feira (20)

A 29ª rodada do Campeonato Brasileiro Série A 2025 chega ao fim nesta segunda-feira (20) com três partidas decisivas. Os confrontos Juventude x RB...

Megaevento celebra os 60 anos do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda e marca a história de Capivari de Baixo

Num domingo que ficará marcado na história de Capivari de Baixo, as comemorações dos 60 anos do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda (CTJL) alcançaram seu...

Agronegócio de Santa Catarina bate recordes e reforça protagonismo nacional

Santa Catarina manteve em 2024 sua liderança nacional em diversos segmentos do agronegócio, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Mesmo com...

Santa Catarina oferece tratamento inédito para alívio da dor em pacientes oncológicos pelo SUS

O Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON), instituição do Governo do Estado localizada em Florianópolis, passou a oferecer um procedimento inédito no Sistema Único de...

Lula chama América Latina de zona de paz e critica intervenções estrangeiras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta segunda-feira (20), a soberania dos países latino-americanos e reafirmou a América Latina como uma “zona...

Petrobras reduz preço da gasolina em 4,9% a partir desta terça-feira

A Petrobras anunciou nesta segunda-feira (20) uma redução de 4,9% no preço da gasolina A vendida às distribuidoras. O novo valor passa a valer...

Brasil registra aumento no número de fumantes pela primeira vez em quase 20 anos

Tempo de leitura: 3 minutos Pela primeira vez em quase duas décadas, o número de fumantes no Brasil aumentou, interrompendo uma tendência histórica de queda....
×

Olá!

Clique no contato abaixo para conversar conosco.

× Converse no Whatsapp