O governo da Argentina, liderado por Javier Milei, anunciou nesta quinta-feira (22) um plano que permitirá que a população utilize dólares mantidos fora do sistema financeiro formal sem a necessidade de justificar a origem do dinheiro. A proposta, chamada de “Plano de reparação histórica da poupança dos argentinos”, será formalizada por meio de um decreto presidencial e um projeto de lei que será enviado ao Congresso.
A medida busca facilitar o uso de recursos em espécie, popularmente chamados de “guardados debaixo do colchão”, para movimentar a economia por meio do consumo. Com a mudança, os argentinos poderão usar esse dinheiro para comprar eletrodomésticos, carros, imóveis e outros bens de alto valor, sem correr o risco de punições ou questionamentos legais.
Governo aposta em injeção bilionária na economia
Segundo o ministro da Economia, Luis Caputo, estima-se que os argentinos mantenham entre US$ 200 bilhões e US$ 400 bilhões fora do sistema bancário. Esse montante representa até dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) do país, estimado em US$ 600 bilhões. Caputo acredita que, ao permitir que esse dinheiro volte a circular, será possível acelerar o crescimento econômico.
O governo projeta que, com o crescimento da economia entre 6% e 8%, será possível devolver ao setor privado até US$ 550 bilhões por meio de cortes de impostos. O objetivo é reforçar o consumo interno, fomentar investimentos e garantir maior circulação de moeda, reduzindo o impacto de crises recorrentes.
Milei chama sonegadores de “heróis” e critica o sistema
Durante uma entrevista ao programa de TV “Otra Mañana”, o presidente Javier Milei defendeu a proposta e chegou a elogiar quem escondeu dólares do fisco. Para ele, essas pessoas agiram para se proteger de políticos que ele classificou como “ladrões”. Ele afirmou que quem seguiu todas as regras talvez tenha sido ingênuo e disse que os que conseguiram escapar do sistema são verdadeiros heróis.
A fala causou polêmica, mas reforça o posicionamento liberal do governo, que busca reduzir ao máximo a intervenção estatal na economia. A ideia, segundo Milei, é eliminar distorções causadas por décadas de políticas inflacionárias e controles rígidos que afastaram a população do sistema formal.
Nova política cambial encerra controle sobre o dólar
Além da liberação dos dólares não declarados, o governo também anunciou a flexibilização do controle cambial. O chamado “cepo” foi derrubado, encerrando a paridade fixa da moeda argentina com o dólar. Agora, o valor do peso será definido pela livre negociação de mercado, variando entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar, conforme a cotação do dia.
A medida marca o fim de um regime que vigorava desde 2019, criado para evitar fuga de capitais em meio à alta inflação. Com a nova política, o governo aposta em uma moeda mais estável, no controle inflacionário e em um ambiente mais favorável para investimentos, sobretudo com o apoio de recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI), que podem reforçar a base econômica do país.