Hoje trago uma convidada muito especial para discorrer sobre um tema igualmente especial e importante: o analfabetismo.
Conheço Carine de longa data e gosto muito de sua abordagem sobre educação, formas de ensino-aprendizagem, relações humanas, consumo… e por aí vai… Por isso, logo que ela me fez a proposta do tema, imaginei que a discussão seria boa, pertinente e passível de muitas reflexões. Afinal, não há dúvidas que o Brasil já evoluiu muito na questão do analfabetismo, mas também há certo consenso que a educação do país ainda precisa melhorar muito, não apenas nos índices, mas também na qualidade da alfabetização.
Ainda hoje – ou talvez sobretudo hoje, já que somos bombardeados com vídeos e áudios – muitas pessoas são consideradas alfabetizadas apenas porque reconhecem letras, sílabas ou palavras, sem entretanto, fazer conexões entre elas e compreender o texto, pois não desenvolveram a habilidade de interpretação. É o chamado analfabetismo funcional.
Isso se dá por muitos fatores: qualidade do letramento, idade de acesso à educação e a alfabetização, condições socioeconômicas, abandono escolar, entre outras, e sem dúvida, a falta de incentivo à leitura está entre eles; principalmente quando se trata da educação básica, que compreende a faixa etária dos 4 aos 17 anos, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Nesta perspectiva, as bibliotecas escolares tem papel fundamental no incentivo à leitura. A Lei de nº 12.244/2010, que trata da Universalização das Bibliotecas Escolares, determina inclusive, que todas as instituições de ensino do país, públicas e privadas, empreendam esforços progressivos para constituírem bibliotecas. No entanto, sabe-se que muitas regiões do Brasil, as escolas não possuem esse importante espaço de formação e descontração.
Contudo, não podemos pensar na biblioteca como “um sujeito autônomo”, achando que sua simples existência enquanto infraestrutura física, estimulará a leitura. As bibliotecas precisam ser espaços lúdicos e atrativos, com atuação ativa e dinâmica. Ou seja, é importante que as unidades escolares possuam bibliotecas e que estes espaços contenham profissionais qualificados que realizem, promovam ou fomentem ações para minimizar o analfabetismo funcional.
Como essa não é uma realidade recorrente – que impacta diretamente no mercado de trabalho e na qualificação das pessoas – e, visando contribuir com a formação de sujeitos que saibam ler, escrever, interpretar e refletir, algumas empresas privadas vêm estruturando bibliotecas e oferecendo reforço na alfabetização, dentro de suas próprias estruturas.
Especificamente na região de Tubarão, podemos citar o exemplo da Indústria Vipel, que possui uma biblioteca com acervo de mais de 2500 títulos literários (infantil, juvenil e adultos), com sistema de empréstimo de livros, orientação de trabalhos escolares e acadêmicos, contação de histórias, reforço escolar, auxílio a tarefas e alfabetização. Todos esses serviços são orientados por uma bibliotecária (que é coautora deste texto) e oferecidos à comunidade de forma totalmente gratuita!
Segundo Carine “ Uma das maiores dificuldades das crianças atendidas de 6 a 9 anos é o domínio das sílabas complexas (duas consoantes e uma vogal), palavras no gerúndio, conjugação de verbos ou até mesmo pronunciar os fonemas”. Por isso, antes de realizar os atendimentos realiza testes para ver se a criança consegue reconhecer letras, sílabas, palavras, acentuação, pontuação e pronúncia dos fonemas na leitura, só a partir daí ela escolhe o método de ensino que irá utilizar.
Desde sua implantação a biblioteca da Vipel já atendeu mais de 10.000 pessoas, fazendo em média 60 empréstimos mensais de livros.
Carine reforça que, “não podemos ser pessimistas com os dados estatísticos sobre a alfabetização, precisamos obviamente de políticas públicas educacionais bem elaboradas e executadas, e de professores, equipe de gestão e administrativa comprometidas com a educação. O método é ponta do Iceberg, mas para que o navio não afunde batendo no iceberg, precisamos navegar avaliando o que está por baixo ou seja, tudo que envolve o processo de alfabetização”.
Por isso, “precisamos pensar o processo de alfabetização de forma didática, para que o professor seja entendido independente do método utilizado. Além disso, é necessário criar oportunidades de aprendizagem como a utilização de jogos didáticos, uso da música, das artes plásticas, do teatro, de livros com narrativas visuais e escritas, contação de histórias, entre outras estratégias que incluam e motivem a leitura”, reforça Carine.
Por meio de sua biblioteca (que foi criada em parceria com o SESI), a Vipel exerce sua responsabilidade social e contribui para a redução dos efeitos do analfabetismo funcional em nossa região. Sem dúvida, uma iniciativa admirável que pode (e deve) ser seguida por outras empresas, fomentando assim o desenvolvimento socioeconômico e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.