Tem gente presa até hoje por ter pedido intervenção militar em frente a um quartel com cartaz escrito “142 e GLO”. Quem não lembra do “é só aguardar mais 72h”?
Enquanto isso, o sujeito que era presidente da República à época do surto nacional virou piadista em depoimento ao STF.
Foi esse o show de horrores que assistimos no interrogatório de Jair Bolsonaro diante de Alexandre de Moraes, o “inimigo número 1” da base bolsonarista. Mas, no lugar do guerreiro do povo brasileiro, o que vimos foi um ex-presidente manso, submisso e covarde. Um verdadeiro “patriota de condomínio”.
Na frente do ministro que mandou prender centenas de seus apoiadores — muitos sem julgamento até hoje — Bolsonaro parecia mais disposto a pedir desculpas do que a assumir qualquer responsabilidade. Fez piadas, tratou Moraes como quem convida para um café em Brasília (“quem sabe, meu vice em 2026?”), e seguiu a velha máxima do político acuado: “eu não vi, eu não soube, eu não tava”.
E os “patriotas”? Aqueles que ficaram acampados em frente a quartéis pedindo salvação divina, vivendo de marmita fria, rezando para pneus e dormindo no chão? Esses, ele deixou à míngua. “Ah, mas ele apoia a anistia!” — sim, para ele próprio. Quando podia, não moveu uma palha para desmobilizar os acampamentos. Nem mesmo um tweet. Preferiu pegar um avião para Orlando e tirar foto com chapéu do Mickey enquanto o Brasil queimava no dia 8 de janeiro.
Sim, aquelas pessoas queriam dar um golpe — da forma mais atrapalhada e ridícula possível. Mas não tinham meios, armas ou articulação. Só a fé fanática no mito. Já o presidente da República tinha meios institucionais, militares e políticos para evitar o caos. Preferiu a omissão. Tudo para não mostrar fraqueza e não reconhecer sua derrota.
Ah, mas o processo está cheio de ilegalidades? Está. A condução do inquérito passa longe do devido processo legal em diversos pontos. É um julgamento político? Também é. Isso, no entanto, não apaga o fato: Bolsonaro queria um golpe. Reuniu-se com generais, ministros e assessores buscando formas de impedir a posse do ex-condenado do PT. Se fosse bem-sucedido, não estaria dizendo hoje que “foi tudo uma invenção da mídia”.
E como esquecer o delírio das urnas eletrônicas? Uma teoria conspiratória que virou bandeira de campanha, mesmo sem pé nem cabeça. A mesma eleição em que Bolsonaro alega ter sido “fraudado” foi a que deu às bancadas bolsonaristas a maior representatividade no Congresso.
Ou seja: se houve fraude, foi uma das mais confusas da história — com direito a vitória da oposição no Executivo e avanço da base no Legislativo.
A alegação de insegurança das urnas, hoje se entende, não passava de um plano B. Se ganhasse, as urnas eram confiáveis. Se perdesse, era fraude. Simples assim. Democracia sob demanda.
O problema é que a nossa direita, que tanto fala em honra e coragem, é liderada por um homem que, diante do STF, se comporta como quem tenta evitar a cadeia contando piada. Enquanto isso, seus seguidores seguem pagando o pato — ou melhor, pagando a cela.
Alguns já abandonaram o barco. Outros ainda acham que tudo é parte de um plano genial de um xadrez 4D. Só não perceberam que o plano era fugir. E que o mito, quando confrontado com o algoz, vira apenas um homem tentando salvar a própria pele.