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O Codesul, bloco que reúne Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, entregou nesta terça-feira (9) ao Ministério dos Transportes um documento técnico com o diagnóstico atualizado da Malha Sul e propostas para o futuro do modal ferroviário na região. O material foi recebido pelo secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Cezar Ribeiro, durante audiência em Brasília.
O documento consolida o posicionamento dos quatro estados sobre a Política Nacional de Concessões Ferroviárias e sobre a Carteira de Projetos 2026. A entrega foi seguida de reunião com parlamentares das bancadas federais dos estados envolvidos.
Modernização ferroviária avança, mas divisão preocupa estados

No relatório, o Codesul reconhece que a 1ª Política Nacional de Outorgas Ferroviárias representa o maior esforço de modernização do setor em décadas. O plano federal prevê oito leilões e cerca de R$ 140 bilhões em investimentos para expansão da malha, recuperação de trechos e criação de novos corredores logísticos.
Apesar disso, os estados alertam para riscos na proposta de fragmentar a Malha Sul em três concessões distintas — Corredor Paraná–Santa Catarina, Corredor Rio Grande e Corredor Mercosul. Para o bloco, esse modelo compromete a integração logística e reduz a coerência operacional dos fluxos ferroviários.
Diagnóstico revela metade da malha inoperante em parte dos estados
O documento apresenta um panorama detalhado da concessão atual da Rumo Malha Sul, responsável por 7.223 km de trilhos nos três estados da região. O diagnóstico destaca gargalos graves:
Rio Grande do Sul
– Metade da malha total está inativa.
– Após as enchentes de 2024, a extensão operante caiu de 1.680 km para 921 km.
– O transporte ferroviário de líquidos permanece interrompido devido a danos estruturais.
Santa Catarina
– Dos 1.210 km de trilhos, apenas 210 km (17%) estão em operação.
– O estado responde por cerca de 20% dos contêineres movimentados no Brasil, mas utiliza o modal ferroviário em apenas 6% das cargas portuárias.
– A dependência rodoviária aumenta custos logísticos e pressiona rodovias já saturadas.
Paraná
– O Oeste enfrenta restrição de escoamento pela baixa conectividade ferroviária.
– O trecho da Serra da Esperança, entre Guarapuava e Ponta Grossa, limita capacidade e sofre com declividades acentuadas e infraestrutura insuficiente.
– Os gargalos afetam o fluxo de grãos, proteínas e insumos industriais.
O Codesul alerta que a falta de integração plena entre os três estados prejudica cadeias produtivas estratégicas, especialmente a agroindústria, e enfraquece a competitividade regional e nacional.
Dependência do modal rodoviário aumenta riscos logísticos
O relatório também destaca desafios adicionais no transporte brasileiro. No país, 65% da movimentação doméstica é feita por rodovias. No caso do milho, o percentual chega a 98%, apesar das grandes distâncias entre o Centro-Oeste produtor e o Sul consumidor.
Rodovias importantes — como BR-277, BR-101, BR-116, BR-163 e BR-386 — já operam próximas ao limite. Além disso, há redução no número de motoristas profissionais e envelhecimento da categoria, fatores que ampliam o risco de desequilíbrio logístico.
Para o Codesul, fragmentar a Malha Sul aumenta a insegurança operacional, reduz escala e limita investimentos privados.
Diretrizes e propostas apresentadas ao Ministério dos Transportes
O documento entregue lista prioridades e ações consideradas essenciais para garantir a continuidade do serviço e estimular novos investimentos.
Diretrizes centrais
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Resolver passivos da concessão atual, incluindo trechos abandonados e infraestrutura degradada.
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Garantir continuidade operacional durante a transição entre contratos.
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Defender concessão integrada da Malha Sul, vista como a única capaz de assegurar escala e coerência logística.
Propostas imediatas
– Recuperar trechos danificados no Rio Grande do Sul após as enchentes.
– Restabelecer o transporte ferroviário de líquidos.
– Avaliar tecnicamente quais segmentos devem ser preservados, modernizados ou ampliados.
– Estudar aportes conjuntos dos estados e da União para viabilizar uma concessão integrada com VPL zero.
Propostas estratégicas (médio e longo prazo)
– Integrar os estados aos principais corredores nacionais de exportação.
– Atrair novos operadores ferroviários e ampliar a competição.
– Garantir compatibilidade entre decisões de curto e longo prazo.
– Considerar projetos estaduais já em andamento como atrativos adicionais à concessão integrada.