quinta-feira, 4 dezembro , 2025

Quantos Filipe Luís, Maicons e Wesleys ainda vamos deixar escapar?

No último texto escrevi aqui sobre Wesley, o lateral que começou no Atlético Tubarão recebendo R$200 por mês e hoje vale dezenas de milhões na Europa. A repercussão foi intensa: uns criticaram, outros concordaram, mas todos reconheceram que a discussão é mais do que necessária – é urgente. Porque, convenhamos, o caso dele não é uma exceção isolada no meio do nada. Santa Catarina já revelou e perdeu vários tesouros do futebol mundial. E continuamos fazendo a mesma coisa: descobrindo tarde demais.

A transferência de Wesley para a Roma em julho de 2025, por 25 milhões de euros fixos (mais 5 milhões em bônus), não é apenas mais uma venda milionária. É o retrato mais atual do que perdemos sistematicamente: um garoto que o Atlético Tubarão poderia ter faturado R$ 19 milhões, mas vendeu seus 10% de direitos por apenas R$ 80 mil. É o espelho do que aconteceu com dezenas de outros talentos nascidos em solo catarinense.

Filipe Luís, orgulho de Jaraguá do Sul e lenda mundial

Começo pelo maior exemplo vivo dessa lista (dos últimos anos): Filipe Luís Kasmirski.

Natural de Jaraguá do Sul, descoberto e lapidado no Figueirense entre os 14 e 19 anos, onde disputou 57 jogos como profissional, marcou 5 gols e conquistou o bicampeonato catarinense de 2003 e 2004. Mas foi longe de Santa Catarina que se tornou uma lenda mundial. No Atlético de Madrid, não apenas jogou, dominou. Foram 333 partidas oficiais em oito temporadas, onde se estabeleceu como um dos melhores laterais-esquerdos da história do futebol europeu.

Seus números no clube espanhol impressionam: 

1 La Liga (2013-14)

1 Copa do Rei (2013)

2 Liga Europa (2012 e 2018)

2 Supercopas da UEFA (2012 e 2018)

2 Supercopas da Espanha (2013 e 2014). 

Pela Seleção Brasileira, acumulou 44 jogos, disputou duas Copas do Mundo (2014 e 2018) e foi peça fundamental na conquista da Copa América de 2019.

O que mais impressiona é sua capacidade de reinvenção. Aposentado como jogador aos 38 anos pelo Flamengo, onde conquistou mais 10 títulos em cinco temporadas, Filipe se transformou em treinador e hoje, aos 40 anos, comanda o time principal rubro-negro com a mesma genialidade tática que mostrou nos gramados. Em 2025, o Flamengo sob seu comando disputa(ou) Brasileirão, Libertadores e Mundial de Clubes como protagonista. Filipe, mais uma vez, prova que Santa Catarina não exporta apenas craques, mas verdadeiros líderes globais do futebol.

Maicon, o fenômeno de Criciúma que conquistou o mundo

De Criciúma para o topo do futebol mundial: a trajetória de Maicon Douglas Sisenando é um manual de como o talento catarinense, quando bem direcionado, pode dominar qualquer palco internacional.

Revelado na base do Tigre, Maicon não apenas se tornou lateral-direito, virou sinônimo da posição. No auge da carreira, na Inter de Milão de José Mourinho, fez parte do lendário time que conquistou o triplete histórico na temporada 2009-10: Campeonato Italiano, Copa da Itália, Liga dos Campeões da UEFA e Mundial de Clubes. 

Um feito que apenas sete clubes conseguiram na história.

Na Inter, onde jogou de 2006 a 2012, Maicon se estabeleceu como um dos laterais mais dominantes da história do futebol europeu. Foram:

4 Campeonatos Italianos

2 Copas da Itália

1 Champions League

1 Mundial de Clubes. 

Seu gol contra o Barcelona na semifinal da Champions de 2010 é considerado uma das maiores obras de arte da competição. Na Série A italiana, até hoje é reverenciado como um dos melhores estrangeiros que já pisaram nos gramados da península.

Pela Seleção Brasileira, foram 76 jogos oficiais, participações em duas Copas das Confederações (2005 e 2009) e uma presença marcante no time de Dunga na Copa do Mundo de 2010, onde o Brasil chegou às quartas de final. Maicon não era apenas um lateral: era um espetáculo à parte, capaz de decidir jogos com dribles desconcertantes, cruzamentos cirúrgicos e chutes de fora da área que faziam goleiros tremerem.

O mais impressionante é que tudo começou nas categorias de base do Criciúma, clube que na época mal conseguia se manter na elite do futebol brasileiro. Imaginem quantos “Maicons” podem estar hoje correndo pelos campos do interior de Santa Catarina, esperando apenas uma oportunidade de mostrar que o talento não escolhe endereço.

Douglas, o maestro invisível que começou em Criciúma

Da base do Criciúma saiu um dos meio-campistas mais inteligentes que o Brasil já produziu: Douglas dos Santos Justino de Melo, o eterno “maestro pifador” que provou que futebol é, acima de tudo, inteligência pura.

Sempre contestado pelo físico aparentemente frágil, Douglas compensava qualquer limitação com uma visão de jogo que poucos possuíam. Seus passes milimétricos e capacidade de leitura tática o transformaram em peça fundamental dos maiores títulos do futebol brasileiro na década de 2000 e 2010.

Pelo Grêmio, conquistou a Copa do Brasil de 2007, sendo peça-chave na campanha que levou o time gaúcho ao título nacional. Mas foi no Corinthians que Douglas alcançou o auge de sua carreira e entrou definitivamente para a história. Nas conquistas da Libertadores e Mundial de 2012, foi o cérebro do meio-campo corintiano, ditando o ritmo das partidas com uma frieza e precisão que impressionavam adversários e companheiros.

O curioso é que Douglas nunca foi o jogador óbvio. Não era o mais rápido, não era o mais forte, não era o que mais chamava atenção. Mas era aquele que fazia a diferença quando os jogos ficavam travados, quando era preciso encontrar espaços onde não existiam, quando a genialidade tática superava a força bruta. É a prova viva de que nem sempre o craque é o mais evidente à primeira vista.

Hoje, quando vemos Douglas comentando futebol na televisão, com a mesma lucidez tática que demonstrava em campo, nos perguntamos: quantos “Douglas” estão jogando bola nos campos de várzea de Criciúma e região, sendo descartados por não terem o físico “ideal”, mas possuindo a inteligência que pode fazer a diferença nos maiores palcos do futebol mundial?

Ramires, do Joinville aos palcos europeus

Ramires Santos do Nascimento: mais um produto da escola catarinense que mostrou ao mundo que talento não tem fronteiras geográficas.

Formado nas categorias de base do Joinville, o meio-campista construiu uma carreira que é referência para qualquer jovem que sonha em jogar nos maiores clubes da Europa. Sua trajetória passou pelo Cruzeiro, onde se destacou no futebol brasileiro, pelo Benfica, onde se adaptou ao futebol europeu, até chegar ao Chelsea, onde escreveu seu nome na história do futebol inglês.

No time londrino, Ramires não foi apenas mais um brasileiro que passou pela Premier League – foi protagonista de uma das maiores conquistas da história do clube inglês. Na temporada 2011-12, foi peça fundamental na primeira conquista da Liga dos Campeões da UEFA pelo Chelsea, competição na qual marcou gols decisivos e mostrou uma regularidade impressionante em momentos de máxima pressão.

Além da Champions, Ramires também conquistou a Premier League de 2014-15, consolidando-se como um dos meio-campistas mais respeitados da elite europeia. Sua versatilidade tática, capacidade de marcação e chegada ao ataque o transformaram em jogador essencial nos esquemas dos técnicos que comandaram o Chelsea durante sua passagem.

Pela Seleção Brasileira, acumulou 52 jogos oficiais e foi campeão da Copa das Confederações de 2009, além de participar da Copa do Mundo de 2010. Ramires representou uma geração de meio-campistas brasileiros que soube se adaptar às exigências táticas do futebol europeu moderno, mantendo as características técnicas que são marca registrada do futebol nacional.

A história de Ramires começou em Joinville, cidade que hoje se orgulha de ter revelado um campeão europeu. Quantos outros “Ramires” podem estar treinando hoje nos campos da região norte de Santa Catarina, sonhando com uma oportunidade que pode nunca chegar se não houver olheiros qualificados para identificá-los a tempo?

Wesley, a história recente que mais dói no presente

Por fim, volto ao Wesley, aquele menino que o Atlético Tubarão ajudava com R$ 200 por mês e que em julho de 2025 foi vendido para a Roma por 25 milhões de euros fixos, podendo chegar a 30 milhões com bônus – aproximadamente R$ 193 milhões na cotação atual. É o retrato mais atual e doloroso do que continuamos perdendo sistematicamente em Santa Catarina.

Wesley Francisco da Silva tem apenas 21 anos e já é considerado um dos laterais-direitos mais promissores do futebol mundial. Revelado pelo Flamengo após passar pela base do Tubarão, estreou como profissional em 2021 e rapidamente se estabeleceu como titular absoluto do time carioca. Sua velocidade, técnica apurada e capacidade de contribuir tanto defensivamente quanto no apoio ao ataque chamaram atenção de grandes clubes europeus.

A negociação com a Roma representa uma das maiores vendas de um lateral-direito brasileiro para o futebol europeu nos últimos anos. O valor da transferência supera até mesmo a venda de Gerson, outro produto da base flamenguista, mostrando o quanto Wesley é valorizado no mercado internacional.

O que mais dói nessa história não são os números astronômicos da venda, mas sim o que ficou pelo caminho. O Atlético Tubarão, clube que descobriu e deu as primeiras oportunidades ao garoto, vendeu seus 10% de direitos por apenas R$ 80 mil. Se tivesse mantido a porcentagem, o clube catarinense teria faturado cerca de R$ 19 milhões com a transferência para Roma. É o exemplo mais claro de como perdemos dinheiro e oportunidades por não acreditarmos no potencial dos nossos próprios talentos.

Wesley hoje veste a camisa número 12 da Roma e é tratado como uma das principais apostas do clube italiano para os próximos anos. Aos 21 anos, tem contrato até 2030 e todas as condições para se tornar uma das referências da posição no futebol europeu. Tudo isso começou em campos amadores de Tubarão, onde um menino sonhava em ser jogador de futebol.

O padrão que se repete e o futuro que podemos mudar

De Filipe Luís a Maicon. De Douglas a Ramires. De Wesley a tantos outros que passam despercebidos na várzea, nos gramados do Hercílio Luz, do Estádio Municipal Domingos Gonzalez em Tubarão, do Estádio da Arena Joinville. Santa Catarina continua sendo um celeiro inesgotável de talentos.

Mas seguimos sendo coadjuvantes das histórias que ajudamos a escrever. Filipe brilhou no Atlético de Madrid e hoje comanda o Flamengo. Maicon se tornou lenda na Inter de Milão. Douglas foi campeão mundial pelo Corinthians. Ramires conquistou a Champions pelo Chelsea. Wesley agora busca seu espaço na Roma. E os clubes daqui? Quase nada lucraram com essas histórias de sucesso que começaram em solo catarinense.

O problema não é a falta de talento – nunca foi. O problema é estrutural, de visão, de investimento em categorias de base, de paciência para desenvolver jogadores, de capacidade financeira para segurar promessas quando os grandes centros vêm buscar. Precisamos entender que revelar um craque não é só descobri-lo: é desenvolvê-lo, lapidá-lo, prepará-lo para que quando a oportunidade chegar, ele esteja pronto para aproveitá-la.

A pergunta que fica ecoando pelos estádios vazios de Santa Catarina é devastadoramente simples: quantos outros Wesley, Filipe Luís, Maicons e Douglas estão jogando nos nossos campos hoje, esperando que alguém acredite antes que seja tarde demais? Quantos diamantes brutos estão sendo polidos em outros estados porque nós não soubemos reconhecer o valor que tínhamos em casa?

A resposta está correndo pelos campos de Santa Catarina neste exato momento. A questão é se vamos continuar aplaudindo de longe ou se finalmente vamos aprender a valorizar o que nasce aqui antes que vire manchete internacional.

E você, quem acha que eu esqueci nessa lista? Comenta lá no Instagram e vamos discutir futebol juntos!

 

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