Uma nova forma de fiscalização do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), baseada em monitoramento remoto e uso de inteligência artificial, provocou um aumento expressivo nas cassações de empresas credenciadas que realizam vistorias veiculares no estado.
Até outubro deste ano, o Detran-SP fiscalizou 917 locais presencialmente — sete deles tiveram cassações por irregularidades ou fraudes. No mesmo período, 1.050 vistorias foram monitoradas de forma remota, resultando em 48 cassações. Segundo o órgão, o número de fraudes detectadas a distância é dez vezes maior que o registrado em 2024.
Inteligência artificial identifica padrões suspeitos
A fiscalização remota foi intensificada em 2025 e utiliza ferramentas de IA para cruzar dados, imagens e vídeos enviados pelas Empresas Credenciadas de Vistoria (ECVs).
Essas análises automatizadas têm identificado fraudes como uso de fotos antigas em novos laudos e montagens de imagens com veículos em locais diferentes dos credenciados.
Em um dos casos detectados, um vistoriador inseriu a foto de um jipe em área aberta, sem informar que a vistoria havia sido feita fora do estabelecimento — procedimento proibido para veículos de até dez toneladas. Em outro, a imagem de uma motocicleta foi manipulada digitalmente e inserida de forma irregular em um cenário interno.
Detran-SP amplia controle sobre despachantes e perícias
De acordo com Guilherme Marins, diretor-adjunto de Gestão Regulatória do Detran-SP, a modalidade de fiscalização remota começou em 2022 e vem sendo expandida.
“Temos feito fiscalizações remotas muito próximas de atividades de auditoria desde 2022, mas elas ganharam força neste ano”, afirma.
O modelo já abrange despachantes e, segundo o órgão, será estendido a perícias veiculares. Apenas neste ano, 43 despachantes foram advertidos ou tiveram credenciamento cassado por irregularidades.
Penalidades e bloqueios
Quando há indícios de fraude, o laudo de vistoria é invalidado, bloqueando transferências e outros procedimentos do veículo até a emissão de um novo documento regular.
O proprietário pode ser responsabilizado criminalmente caso tenha participado da irregularidade. A pena prevista no Código Penal para falsidade ideológica em documento público é de até cinco anos de prisão, além de multa.
Os casos mais graves são encaminhados à Polícia Civil e ao Ministério Público para investigação.
Fiscalização digital e rastreabilidade
O Detran-SP informa que a escolha por iniciar as fiscalizações remotas em despachantes e vistoriadoras ocorreu porque essas atividades já operam em sistemas digitais, com rastreabilidade de dados, fotos e vídeos.
As imagens das câmeras instaladas nas áreas de vistoria devem ser armazenadas por até cinco anos, mas algumas empresas autuadas alegaram falhas no envio do material solicitado.
Atualmente, o estado de São Paulo possui 2.333 empresas credenciadas de vistoria (ECVs) em operação.

