No Dia do Homem, celebrado em 15 de julho, um alerta ganha destaque: o silêncio que envolve as vítimas masculinas de violência doméstica. A advogada Jamily Wenceslau, especialista em direito do homem, afirma que falar sobre o tema é essencial para garantir equidade e dignidade a todos.
Violência doméstica contra homens é real, mas invisível
Apesar da maioria das vítimas de violência doméstica serem mulheres, dados do Ministério da Saúde mostram que 8,5% das notificações de violência por parceiro íntimo envolviam homens em 2018. De 2020 a 2022, o Mato Grosso do Sul registrou mais de 5 mil casos, com 351 ocorrências nos primeiros três meses de 2023.
Mesmo assim, os números estão longe da realidade. “Apenas 3,9% dos homens que sofrem violência formalizam denúncias. Isso se deve à vergonha, ao medo do julgamento e à pressão social sobre o que é ser homem”, explica Jamily.
Estigma da masculinidade impede denúncias
Segundo pesquisa do JusBrasil, 69,7% dos homens relataram comportamentos abusivos nos últimos 12 meses, mas 76,4% não procuraram ajuda. E só 8,9% se reconhecem como vítimas.
“Existe um estigma muito forte. O homem teme não ser levado a sério ou ser ridicularizado”, afirma Jamily.
Essa cultura de silêncio contribui para a manutenção e agravamento da violência.
Falta de legislação específica fragiliza vítimas masculinas
Enquanto mulheres contam com a Lei Maria da Penha, homens vítimas de violência doméstica não possuem uma legislação equivalente. “Hoje, eles dependem de medidas cautelares do Código de Processo Penal, que não têm a mesma eficácia e celeridade”, aponta a especialista.
A ausência de um amparo legal impede a criação de políticas públicas voltadas para esses homens. Não há delegacias específicas, nem abrigos ou centros de acolhimento como os oferecidos às mulheres.
Consequências emocionais são graves e silenciosas
A violência doméstica contra homens pode gerar traumas profundos. Casos de depressão, ansiedade, isolamento e até pensamentos suicidas são comuns. Sem rede de apoio, muitos sofrem calados.
“O debate não visa competir com a luta das mulheres, mas ampliar a proteção a todos”, reforça Jamily Wenceslau.