Dia Mundial da Adoção: Três vezes mais amor

Thiago Oliveira
Tubarão

Hoje é celebrado o Dia Mundial da Adoção. Em todo o planeta, pessoas são convocadas a participar e comemorar esta data compartilhando as suas histórias de adoção e amor. Nas redes sociais, a mobilização já tem ocorrido, basta você desenhar uma carinha sorridente ‘smiley face’ na sua mão, tirar uma foto e postar nas redes sociais utilizando as hashtags #worldadoptionday #diamundialdaadoção #compartilhandoamor. Desde esta quarta-feira, o Notisul traz boas histórias de adoção da região, que farão você se emocionar e, quem sabe um dia, aderir literalmente à campanha.

A história de Jonatan e Samuel poderia ser um filme. Teve drama, comédia, reviravoltas, fortes emoções… E como toda boa obra, precisava de um final feliz. E ele veio quando Kauan, Kauane e Camili entraram na vida deles.

O casal, que mora na região da Amurel, está junto há nove anos, e mesmo com o amor e companheirismo, faltava algo na vida deles, algo para completar a família. E a busca, que no início era apenas por uma criança, ganhou novos rumos conforme eles conheceram a realidade do processo de adoção.

Jonatan, ou Johnny, como é conhecido, já pensou em adotar quando tinha apenas 18 anos – hoje ele tem 27. A ideia voltou à tona quando ele e Samuel já estavam casados há quatro anos. Resolveram esperar mais um pouco. Em 2016, com a vida mais estabilizada, era a hora de dar o próximo passo.

A primeira etapa do processo era a realização de um curso preparatório. Para poderem participar, um dos documentos exigidos era a certidão de casamento, que eles ainda não tinham. E para casar, era necessária uma certidão de nascimento expedida em no máximo 30 dias. E a de Samuel ia vencer naquele dia, às 17h. “No cartório falaram que se déssemos entrada naquele dia, poderíamos casar. Senão, só em 30 dias, e íamos perder a data do curso”, conta Samuel. “A gente se olhou, e pensamos: ‘vai’. E foi muito rápido. Tivemos duas horas para pegar o dinheiro, a documentação e ligar para testemunhas”, completa Johnny. Cinco dias depois, eles já estavam casados no Civil.

Mudança de pensamento
O perfil que eles buscavam para adoção era de uma criança entre 0 e 3 anos. Mas assim que realizaram o curso, no ano passado, mudaram a visão. “A gente foi vendo que o filho tão esperado não é aquele que você quer. Às vezes tem um perfil totalmente diferente, mas vê aquela pessoa e diz: ‘esse é o meu filho’”, revela Johnny. “A maioria não quer adotar uma criança com deficiência ou com problemas de saúde. Mas se o filho sai do teu ventre, depois de um ano ele pode ter uma doença e você não vai dizer que não quer o seu filho”, completa Samuel.

De um perfil com uma criança, já passaram para duas, três. Foram a quatro. A idade máxima, de 3 anos, já estava em 8. “Quando colocamos isso para a assistente social, perguntavam se tínhamos certeza, pois de uma criança para quatro era uma mudança. Mas o grupo de apoio abre muito a tua mente. Mostra que tu tem condições, vai saber ser pai. A criança vem com uma bagagem, uma história. E a gente está preparado pelo grupo de apoio”, relata Johnny.
O casal foi habilitado à adoção em novembro do ano passado. Mas mesmo com um perfil mais amplo, não recebiam nenhuma ligação. Nenhuma notícia. Até que descobriram que os dados deles não haviam sido migrados para o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), já que não havia sido incluído o lugar máximo para busca.

Foram três meses até, finalmente, entrarem na busca, e se o local máximo já era longe de casa, o Rio de Janeiro, o chamado foi ainda mais distante. “Em abril nos ligaram. Cinco crianças em Minas Gerais. Minha perna tremia. Eu não respirava. Ficamos com o coração a mil, mas era muito longe, era complicado ir lá e teríamos que ficar por 30 dias. Tivemos que dizer não, mas foi um ‘não’ muito doído”, lembra Johnny.

O tempo de espera angustiava Samuel e Johnny. Mas o casal ainda não sabia que isso faria com que eles pudessem conhecer o trio que rapidamente mudaria as vidas deles. Samuel, que é gerente de uma cafeteria, recebeu a ligação de uma psicóloga que os encontrou pelo CNA, pois era um dos únicos casais de Santa Catarina que aceitava três irmãos com aquelas idades. Ao mesmo tempo, Johnny recebia a visita de uma assistente social que perguntou se eles tinham o interesse de conhecer três crianças.

Laços criados
Em outros Estados, os adotantes passam por diversos estágios até conhecer as crianças. Em Santa Catarina, eles são levados ao abrigo para ter o contato. Quando conheceram Kauan, de 7 anos, Kauane, 6, e Camili, hoje com 3, foi amor à primeira vista. “Quando entraram, meu coração parou. Olhei para o Samuel, olhei para eles. Os três vieram todos envergonhadinhos”, conta Johnny. “Perguntaram se a gente queria continuar, mas a gente já queria passar por cima de tudo e levar eles para casa”, brinca.

Daquele primeiro encontro no abrigo, vieram outros. Piquenique, passeio ao shopping, à praia. Laços que foram se formando rapidamente. “A primeira a chamar a gente de pai foi a Camili. No dia eu quase chorei. E os outros vendo-a, pediram para chamar também. Ela misturava o nome e o apelido e chamava de pai Jonitan”, recorda. “Meu aniversário, eu passei com eles: 13 de julho. Aquele dia foi o melhor presente que eu ganhei”, completa Johnny, emocionado.

Os encontros sempre eram realizados na cidade do abrigo onde estavam. Era a hora de ter o convívio caseiro. E os cinco passaram quase uma semana juntos. “Naquela semana, a gente se apegou muito aos três. E eles muito a nós”, conta Samuel.

O problema era a dúvida do retorno. O casal poderia ir à cidade apenas para garantir a custódia das crianças. Mas havia a possibilidade de eles voltarem para o abrigo, o que assustava a todos.
“Quando chegamos lá (no abrigo), eles já perguntavam se iam ficar, e eu dizia que não. Eu tremia de nervosismo. Foi só abrir o portão, que a Camili virou e me abraçou. A Kauane segurou minha cintura e o Kauan segurou o Samuel. Eles já diziam que não iam ficar. E se tentasse pegar, já choravam”, conta Johnny.

Quando a supervisora do abrigo viu que as crianças não tinham condições de ficar lá, ligou para a psicóloga e em seguida marcaram a audiência com o juiz. O trio estava tão aflito como o casal. Tanto que foram juntos à espera do juiz. As poucas horas até o início da tarde pareciam não passar. Mas aquele 30 de julho foi o dia em que todos viraram, oficialmente, uma família.


Mudança em 360

A chegada dos três irmãos mudou completamente a vida do casal. E da melhor maneira possível. “A gente fala que foi um 360. Rotina, alimentação. Fruta, verdura. No rancho, compra coisas que nem comprava. O social, conversar em casa. Hora de dormir. Responsabilidade. Carinho, amor. A gente tinha isso, mas uma criança te passa isso. Hoje, há ainda mais união, amor, alegria. A gente se aproximou mais. Fazemos mais coisas juntos. Nesses três meses, estamos pensando mais na gente”, revela Johnny.

Pais de primeira viagem, eles também estão aprendendo com os filhos. “Toda a vida que a gente passa com eles, a gente está aprendendo. Mais aprendemos do que ensinamos. Estamos descobrindo como ser pais. Tudo para nós é a primeira vez. Primeira vez na escola, primeira reunião. Acordo às 6h30, dou café. Acordo eles devagarinho com beijo. Tudo o que eu recebi da minha vó, eu tento passar para eles”, detalha Johnny.

Além dos pais, Kauan, Kauane e Camili ganharam uma família. Avós, padrinhos. E uma atenção que ainda não conheciam. “A Camili fez 3 anos e fizemos a primeira festa para ela, com tema do Mickey. Foi a família toda, amigos. A decoração eu fiz em casa. Levei um mês e meio para preparar tudo. No dia, a festa foi até a meia-noite e ela acordada o tempo todo, naquele pique”, afirma Johnny. “A Kauane quer uma de princesa, mas a cada dia ela pede uma temática diferente [risos]. E o Kauan quer uma do Hulk, do Superman e dos Vingadores”, completa.

As preocupações também são deles. Agora, o trio é a prioridade na vida de Samuel e Johnny. “O primeiro pensamento é neles. Fui comprar um tênis para mim, comprei coisas para eles e nada para mim. Nem a gente imaginava que seria assim. a primeira coisa que pensamos é neles. Sorriso não acaba lá dentro de casa. Estão sempre sorrindo e fazendo a gente sorrir”, emociona-se Johnny.

Uma história que chegou no final feliz? É uma história feliz, mas que ainda não chegou no final. “A gente pretende mais para frente, quando a Camili tiver uns 6 ou 7 anos, entrar de novo no processo. Sei lá, mais uns dois ou três. O coração cabe”, planeja Johnny.