O Banco Central decidiu mudar os rumos do Drex, projeto que previa a criação de uma moeda digital brasileira. Após quatro anos de testes, a instituição concluiu que a tecnologia usada na fase piloto — baseada em blockchain permissionada — não se mostrou viável.
A decisão deixou o mercado em alerta: afinal, o Drex vai sair do papel ou se tornará um problema para os bancos, que já tinham investido tempo e recursos para se adequar ao novo modelo?
Banco Central muda a rota
Durante evento em Brasília, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, foi direto:
“A tecnologia não se revelou viável. Existem maneiras mais simples de garantir segurança e liquidez para ativos digitais”, afirmou.
Segundo ele, o Drex não era uma CBDC tradicional, e sim parte de uma plataforma de liquidação digital para ativos tokenizados. A versão inicialmente desenhada, porém, não atendeu às exigências de:
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privacidade
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escalabilidade
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interoperabilidade
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custo operacional
O BC afirma que a plataforma continuará existindo, mas com outra arquitetura tecnológica, ainda não anunciada.
O piloto não foi jogado fora — e mudou o mercado
Apesar do recuo, especialistas apontam que o piloto do Drex deixou um legado importante.
Segundo Daniel Coquieri, CEO da Liqi Digital Assets, o processo obrigou bancos e instituições financeiras a trabalharem em um ambiente programável, com regras automáticas e rastreabilidade contínua.
Isso ampliou o conhecimento do mercado sobre:
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liquidação atômica
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auditoria em tempo real
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transparência
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composabilidade
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tokenização aplicada a operações reais
Embora a blockchain não siga como base da moeda digital brasileira, ela se consolidou como referência para ganhos de eficiência.
Reguladores também evoluíram
Mesmo enquanto o Drex mudava de rumo, a regulação avançava:
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CVM reforçou normas de tokenização e consolidou regras de emissões digitais
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Receita Federal aprimorou exigências de reporte de criptoativos
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Banco Central incorporou as lições do piloto na agenda de inovação
Esse alinhamento regulatório aumentou a maturidade do ecossistema e consolidou pilares tecnológicos como:
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interoperabilidade
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auditoria
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governança
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padronização
Bancos e empresas aceleraram projetos digitais
Contrariando previsões pessimistas, a mudança do Drex não freou o mercado privado. Pelo contrário, empresas passaram a:
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adotar registros imutáveis para conciliações;
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usar contratos inteligentes;
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criar processos programáveis;
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reduzir custos de auditoria e compliance com tokenização;
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estruturar ativos digitais em plataformas diversas.
Investidores também evoluíram, buscando dados verificáveis e estruturas mais transparentes.
A mensagem que ficou: a tokenização avança independentemente do Drex.
O BC promete uma nova infraestrutura — mas ainda sem data
Galípolo afirmou que uma nova rede para suportar ativos digitais será lançada:
“A gente ainda vai anunciar como será. Mas a possibilidade de usar a infraestrutura do Drex chegará mais rápido agora do que antes.”
A página oficial do BC continua afirmando que serviços digitais serão liquidados dentro da “Plataforma Drex”, operada por intermediários financeiros, como bancos.
E agora? O Drex vai sair do papel?
O consenso entre especialistas é que:
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o Drex não acabou, apenas mudou de forma
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o BC deve apresentar uma solução de liquidação digital mais simples
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a tokenização continuará crescendo, com ou sem Drex
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os bancos não perderam seus investimentos: ganharam estrutura e conhecimento
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o Brasil segue bem posicionado na corrida global por infraestrutura programável
Em resumo
O Drex, como moeda digital baseada em blockchain, não vai adiante.
Mas o país saiu mais preparado do que entrou no piloto.
Para muitos analistas, esta era exatamente a função do projeto:
testar, aprender e ajustar.
E o mercado, agora mais maduro, parece pronto para a próxima fase da digitalização financeira no Brasil.
