A disputa tecnológica mais quente do momento deixou de ser apenas entre modelos de IA. Agora, o embate acontece também no coração da infraestrutura que alimenta essa revolução: os chips. Depois de anos de soberania da Nvidia no segmento de GPUs, o Google decidiu partir para o ataque com seus TPUs — e está mexendo com o mercado.
A guerra que já vinha se desenhando ganhou novos capítulos nas últimas semanas, reacendendo dúvidas sobre quem dominará o próximo ciclo da computação avançada.
Google muda de estratégia e coloca TPUs à venda
Tradicionalmente, o Google oferecia seus TPUs (Tensor Processing Units) apenas como serviço na nuvem. Mas a gigante mudou de rota: agora quer vender diretamente os chips para que grandes empresas possam instalá-los em seus próprios datacenters.
O movimento é tão agressivo que o Google já iniciou cold calls para potenciais compradores, como a Meta e grandes bancos globais. A ofensiva acontece pouco depois de o Google ganhar relevância renovada no setor, impulsionado pelo avanço de seus modelos de IA — como o Gemini, o modelo multimodal mais avançado da empresa, e novas ferramentas como o Antigravity.
A resposta do mercado foi imediata: as ações do Google subiram 20% no último mês, uma reviravolta após um ano em que muitos analistas questionavam seu lugar na corrida da IA.
Nvidia reage para defender hegemonia
A Nvidia, que transformou suas GPUs e o ecossistema CUDA no padrão-ouro da IA, sentiu o impacto. Desde que o barulho em torno dos TPUs cresceu, as ações da empresa caíram 7%, o equivalente a cerca de US$ 300 bilhões em valor de mercado.
Os reflexos foram tão fortes que a própria Nvidia rompeu o silêncio e foi às redes sociais defender a superioridade de seus chips — um gesto raro para uma empresa que, até pouco tempo atrás, parecia intocável.
Para se proteger, a Nvidia tem reforçado sua estratégia: investir diretamente em seus próprios clientes, em troca de contratos de compra de GPUs. Foi assim que, logo após a Anthropic fechar um acordo para usar 1 milhão de TPUs do Google, a Nvidia injetou novos bilhões na startup. O mesmo ocorreu quando surgiram rumores de que a OpenAI poderia adotar TPUs.
Cada chip para um fim — e um mercado que ultrapassa trilhões
Apesar de concorrerem pelo mesmo orçamento, GPUs e TPUs não são idênticos. Cada arquitetura favorece tarefas específicas, como treinamento, inferência, simulações ou deep learning avançado.
O aumento da competitividade acirra o jogo num setor onde todo avanço tecnológico gera ondas bilionárias. E não são só Google e Nvidia que querem participar:
AWS aposta nos chips próprios Inferentia e Trainium
Microsoft desenvolveu o Maia 100
Tesla equipa seus carros com milhões de chips IA5
A corrida, antes dominada por uma única gigante, agora é um tabuleiro cheio de novos jogadores.
O que está em jogo?
A liderança no hardware define quem controlará a infraestrutura crítica da era da IA — e, por consequência, quem lucra, quem dita padrões e quem atrai as maiores empresas de tecnologia.
Com TPUs mais competitivos, modelos de IA mais avançados e uma estratégia comercial inédita, o Google voltou com força ao centro do debate.
Já a Nvidia, mesmo ainda sendo líder absoluta, enfrenta pela primeira vez um ataque estrutural ao seu domínio.
O desfecho ainda está longe. Mas uma coisa é certa:
a guerra dos chips não é só técnica — é geopolítica, financeira e estratégica. E ela só está começando.

