Wagner da Silva
Braço do Norte
A situação econômica do Hospital Santa Teresinha poderá levar a diretoria a uma decisão histórica e negativa. Se não houver um acréscimo na remuneração pela prestação de serviços efetivamente prestada à população, até o fim do ano será solicitada a suspensão dos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Um levantamento de custos deste ano foi realizado. Somente no Pronto Socorro, foram gastos nos primeiros oito meses R$ 675 mil. Deste total, R$ 163 mil são recursos do estado (pagamento do SUS) e R$ 251 mil das prefeituras e convênios com cooperativas. Os outros R$ 261 mil restantes foram custeados pelo hospital. Em média, o HST investiu R$ 32 mil mensais para pagar contas que deveriam ser totalmente custeadas pelo poder público.
A administradora Maria Celir Tenfen, a Zê, justifica a decisão. Ela destaca: para oferecer serviço médico 24 horas à população, vários fatores devem ser considerados, como instalações físicas adequadas, serviço de hotelaria, medicamentos e materiais, água, luz, telefone, equipe funcional especializada e equipamentos.
Pelo cálculos feitos pela administração, até o fim do ano, a dívida do HST poderá ultrapassar R$ 150 mil. Uma das alternativas é tentar sensibilizar a sociedade, para que contribua mais com a instituição. “Alguns planos já são disponibilizados para esta contribuição, mas ainda não suficientes. Se não resolvermos imediatamente o fluxo de caixa, em curto prazo, a entidade será inviabilizada e terá que de fato cancelar atendimentos hoje prestados gratuitamente”, confirma a administradora.
13º salário pode ser pago com atraso
Pagar o 13º salário dos funcionários é uma grande preocupação da diretoria do Hospital Santa Teresinha. “O salário dos funcionários é prioridade. São eles que cuidam dos pacientes e merecem este respeito. Sabemos que várias famílias vivem deste emprego”, destaca a administradora Maria Celir Tenfen. Uma das alternativas neste momento foi buscar financiamentos em bancos para quitar os gastos com serviços não bancados pelos convênios públicos.
Outro agravante é o número de internações feitas pelo SUS, mas não pagas ao hospital. Desde 2004, a entidade tenta receber mais de 1,4 mil internações, cerca de R$ 350 mil, dos municípios de Braço do Norte, São Ludgero e Grão-Pará. “O hospital, apesar de ser filantrópico, é uma empresa privada, que, se não cumprir com pagamentos a fornecedores, o fornecimento de produtos é interrompido. Os hospitais filantrópicos desempenham papel importante na complementação dos serviços de saúde onde o poder público não disponibiliza de hospitais e pronto atendimento públicos para prestação destes serviços à população”, acrescenta.
A suspensão das cobranças de atendimentos feitos pelo seguro DPVAT também é lembrada. “Esta situação é reflexo da MP 451, de 2008, quando os hospitais que mantêm convênio com o SUS ficaram impedidos de cobrar os atendimentos pelo seguro aos pacientes oriundos de acidentes de trânsito, que geravam em média uma receita mensal de R$ 35 mil. A partir desta data os atendimentos passaram a ser realizados pelo SUS, sem o devido pagamento. Somados à obrigação de pagamento do sobreaviso médico, gera um acréscimo ao custo mensal do hospital em R$ 55 mil, inviabilizando financeiramente a instituição”, afirma a administradora.
Sobreaviso médico
Uma das preocupações da atual diretoria do Hospital Santa Teresinha está relacionada à responsabilidade de pagamento do sobreaviso médico, em ação judicial movida pelo Ministério Público. A entidade será obrigada a desembolsar mais R$ 20 mil mensais.
“A obrigação de manter atendimento de urgência e emergência é do poder púbico. A Constituição, em seu artigo 196, é clara. Saúde é direto do povo e dever do estado, representado pela União, estados e municípios. O Hospital já demitiu funcionários e deixou os demais sobrecarregados”, lamenta a administradora Maria Celir Tenfen.
Para a administradora, o maior problema na manutenção das entidades filantrópicas é o repasse governamental. “Estas entidades foram criadas para suprir a necessidade de saúde, não oferecida no setor público. Mas, elas têm assumido este papel e endividam-se, podendo a vir fechar suas portas. Esta realidade já está muito próxima de nós”, desabafa Maria Celir.