terça-feira, 23 dezembro , 2025

Masp, história da sexualidade, a repressão dos reprimidos

Nada mais no humano é precisamente primitivo. Somos organismo em evolução, sempre, e contemos cultura. A cultura, que, ademais, também evolui, nos constitui, delimita e amplifica possibilidades talvez tanto quanto a genética.

Sem cultura a nossa condição genética não nos traria tão longe. Aliás, essa afirmação é desnecessária, afinal, a nossa condição genética contempla a condição de cultura, e a cultura produzida ou assimilada “mexeu” e “mexe” na genética.

Em pelo menos duas coisas, contudo, ainda que também referentemente a elas tenhamos nos posto sob produções e demarcações culturais, não nos superamos muito. Comida e sexo perduram condição de sobrevivência.

Na selva comer era abocanhar e foder era copular. Eram coisas mais toscas, sem sentidos além do biológico, cometidas quando e onde o instinto pedisse; vontade e ato consubstanciavam, tirante obstáculo físico, coisa única.

A cultura, contudo, reservou destinos diferentes para uma e outra coisa. Comer foi convertido em evento de sociabilização: amigos são convidados, negócios são realizados, namoros são iniciados, comemorações são realizadas.

Há casas especializadas no comer: os pratos são apurados, a comida é servida em mesas bem preparadas por pessoas solícitas, bebidas finas de acompanhamento, toalhas sofisticadas, guardanapos, talheres apropriados.

O comer é coisa levada para o lado público da vida. Não importa se os comensais se passarão do necessário, se beberão demasiado, se conversarão aos gritos. Comer é um evento social interativo em que cabem até estranhos.

Já o sexo, no geral do comportamento adotado pelas pessoas na Tradição Ocidental, tomou rumo completamente diverso. É prática dirigida para o reservado, controlado e reprimido. Ainda que surja alguma abertura, sexo é coisa fechada.

Sobre os corpos foram traçadas linhas de uma geografia interditada. Na Tradição que nos alcança e que guardamos não se devem ver ou tocar partes havidas por pudendas. Árabes e judeus acrescentam bem mais pudicícia.

A “coisa” mais controlada da História desenvolvida sob a ideologia semita é a genitália feminina. As leis, as famílias, os maridos. A pauta dos “bons costumes” é um rol de recomendação fiscalizada de recato exigido à mulher.

Há avanços significativos a serem anotados, mas na sociedade brasileira ainda resta uma compostura formatada para o estar como feminino no mundo muito mais cobrada e rígida do que as regras de etiqueta do masculino.

É tal o valor subjacente de controle de corpos, que muitas conquistas feministas não se consubstanciaram em liberdade de agir. Antes, muitas mulheres, empolgadas de poder, repetem costumes patriarcais que criticam.

Há controle dos corpos, de seus afetos, de seus movimentos. Reciprocamente, homens e mulheres acasalados se fiscalizam. Sim, a Sociedade é mais tolerante com os homens, mas as mulheres exercem todo o controle que podem.

Mesmo o advento da internet, que possibilitou muito mais contatos entre pessoas e prática remota de sexo, não mudou a forma. Talvez até se tenham acrescentado reservas, como o anteparo da distância e certo anonimato.

Mas essas são circunstâncias da vida privada. Recentemente, contudo, o puritanismo brasileiro articulou-se e se exalta para censurar a circulação do tema sexo nos espaços públicos, sobremaneira nos educacionais e de cultura.

Há quem suspeite que tal agenda conservadora seja manobra diversionista. Seria a inspiração de um pânico moral para distrair a Sociedade de problemas estruturais, como nosso cotidiano de desigualdade, injustiça e violência.

Não creio. A direita é isso mesmo, ela pensa assim. Sexo, para conservadores religiosos, não é solução, não é direito; é problema, é a “dissolução da família, da Pátria, dos alicerces da tradição moral cristã”.

Acontece, ademais, que essa reação às exposições em museus e mesmo a cenas de novela não é a voz de cúpula isolada. Isso cala fundo em nossas crenças, tem reverberação, estrutura discursos eleitorais. Isso dá voto e poder real.

A Declaração Universal do Direitos Humanos prevê que o direito a viver a sexualidade é tão fundamental e universal quanto o direito à vida. O Brasil firmou a Declaração. Estamos aquém dessa conquista democrática, todavia.

A vida sexual é uma dignidade, um princípio fundamental que pede pluralidade e que deve ser laico. O Estado de Direito não pode ser contido dentro de fés. Mas os religiosos têm conseguido acuar o republicanismo laico.

História da Sexualidade, MASP; desço ao metrô. Após certa lotação, mulheres na fila da plataforma desistem de embarcar no vagão. Questiono-as. Explicam: “Com dado volume de pessoas, subir significa sermos acochadas”.

Repressões sexuais transbordam de algum modo. O assunto sexo não circula, está sob coibição. Sobram poucos saberes sexuais e práticas acanhadas, ruins. Penso agora: as mulheres, os abusos que aturam no transporte público.

Multidões estreitadas em pobreza. Muita gente fora dos prazeres da vida. Sexo cingido e abusivo: ato de biologia, não afeto. Igualdade social, questão política fundamental; a relação entre sexo, bitola intelectual estreita e religião, também.

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