A cantora, empresária e apresentadora Preta Gil morreu neste domingo (20), aos 50 anos, vítima de um câncer descoberto em 2023. Nos últimos meses, ela estava nos Estados Unidos em busca de um tratamento experimental contra a doença, que já havia se espalhado para diferentes partes do corpo.
Diagnosticada com quatro tumores — dois em linfonodos, um no peritônio com metástase e outro na ureter — Preta enfrentava uma batalha intensa pela vida. Após um período de internação no Brasil, ela decidiu buscar um protocolo avançado de medicamentos em Nova York e Washington, última esperança indicada por sua equipe médica.
A cantora ficou cerca de três meses no país norte-americano, passando por acompanhamento no Virginia Cancer Institute, em Washington, e no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York — uma das instituições mais respeitadas no tratamento oncológico.
O tratamento, ainda em fase experimental, utilizava medicamentos em desenvolvimento com foco no combate a tumores resistentes, como os que acometiam Preta. A decisão pela viagem foi anunciada publicamente em fevereiro, durante entrevista ao programa Fantástico, onde ela revelou ter ficado 55 dias internada por complicações da doença antes de embarcar.
Durante a entrevista, Preta reconheceu que tinha privilégios por poder acessar esse tipo de terapia, algo que a maioria da população brasileira não teria condições de buscar. Ainda assim, ela deixou claro que o sofrimento era diário. Disse que chorava, que sentia dores, mas que não reclamava: “Sofro, sofro muito. Mas tenho mil privilégios, sei que tenho, isso faz toda a diferença”, afirmou.
Registro público da luta
Mesmo enfrentando um quadro grave e debilitante, Preta Gil manteve-se ativa nas redes sociais. Em junho, ela publicou uma imagem recebendo medicação intravenosa em uma clínica americana e, com bom humor, citou a música de Cazuza: “Mais uma dose, é claro que eu tô a fim”.
Outras postagens mostravam momentos de afeto com familiares e amigos. A cantora foi acompanhada em Nova York por pessoas próximas como as irmãs Bela Gil e Maria Gil, o pai Gilberto Gil, a madrasta Flora Gil e amigos como Regina Casé, Cynthia Sangalo, Claudia Raia e Ju de Paulla. Eles revezavam visitas e compartilhavam a rotina de cuidado com a artista.
O carinho e a troca emocional com as pessoas próximas foram marcantes na etapa final da vida de Preta. Segundo relatos, ela se manteve espiritualmente conectada, recebeu visitas frequentes de líderes religiosos e se apoiou em práticas de meditação e fé para enfrentar os dias mais difíceis.
Reflexões e despedida
Durante esse processo, Preta Gil compartilhou aprendizados, inclusive conversas profundas com o pai. Em um dos momentos mais emocionantes, Gilberto Gil aconselhou a filha a aceitar a possibilidade da morte com serenidade: “Se for sua hora, aceite”, disse. A frase virou símbolo da despedida e foi lembrada por fãs e amigos após o falecimento.
A cantora seguia otimista até as últimas semanas. Em junho, a equipe dela chegou a informar que o tratamento continuaria por mais dois meses. Porém, seu quadro se agravou rapidamente. A morte foi confirmada na noite do dia 20 de julho, por complicações decorrentes do câncer.
Preta deixa um filho, Francisco Gil — o Fran, integrante do trio Gilsons — e uma trajetória artística e pessoal marcada pela coragem, pelo amor à família e pela defesa de pautas como saúde mental, diversidade, feminismo e autoconhecimento.
Tipo de câncer e prevenção
O câncer que vitimou Preta Gil, identificado como câncer de intestino com metástase, é o terceiro tipo mais comum no Brasil, com cerca de 45 mil novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
De acordo com o cirurgião gastrointestinal Lucas Nacif, esse tipo de câncer geralmente só apresenta sintomas em estágio avançado, o que torna o rastreamento precoce fundamental para as chances de cura. Entre os principais exames indicados estão a análise de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia.
O médico explica que o histórico familiar, doenças inflamatórias intestinais, como a Doença de Crohn, além de hábitos como sedentarismo, obesidade e má alimentação, aumentam os riscos da doença. Outro fator que dificulta o diagnóstico é o receio cultural das pessoas em buscar ajuda médica, especialmente devido ao desconforto de exames como o toque retal.
Por isso, especialistas reforçam a importância de campanhas de prevenção, exames regulares a partir dos 50 anos — ou antes, em casos de histórico familiar — e a atenção aos primeiros sinais de alerta, como alterações no funcionamento intestinal, sangramentos, perda de peso inexplicável e dores abdominais.