FOTO CBMSC Arquivo Notisul
O Brasil convive com duas feridas abertas que insistem em não cicatrizar: as mortes no trânsito e a violência que ceifa a vida de milhares de jovens a cada ano. Ambas têm em comum um traço preocupante: são evitáveis. São tragédias que refletem escolhas individuais, falhas estruturais e, acima de tudo, um silêncio social que naturaliza o inaceitável.
Em 2023, a taxa de mortes por acidentes de trânsito no país foi de 16,2 óbitos por 100 mil habitantes, um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior. Esta é uma das maiores médias entre todos os países do mundo. Entre as vítimas, os motociclistas ocupam o maior destaque negativo: 12,5% de crescimento em acidentes fatais, chegando a 6,3 mortes para cada 100 mil habitantes.
No total, naquele ano foram registradas 34,9 mil mortes em acidentes de trânsito, sendo quase 13,5 mil envolvendo motos. Em 2024, o cenário continuou grave, com mais de 6.160 mortes e 84.526 feridos apenas em acidentes registrados.
As principais causas não são novidade: excesso de velocidade, ultrapassagens perigosas, desatenção, álcool e a negligência com o cinto de segurança. Não são acidentes inevitáveis: são resultado de escolhas humanas.
A juventude como alvo das causas externas
Os dados do Censo 2022 do IBGE reforçam a outra face do mesmo problema. Entre jovens de 15 a 34 anos, as principais causas de morte são homicídios, suicídios e acidentes de trânsito.
Foram 1.326.138 óbitos entre agosto de 2021 e julho de 2022, sendo 54,5% homens. O grupo de 20 a 24 anos é o mais afetado, com uma proporção brutal: 371 mortes masculinas para cada 100 femininas.
Ou seja, a juventude brasileira morre cedo, e morre de forma violenta. Essas mortes, classificadas como “causas externas”, revelam a fragilidade de um país que não consegue proteger sua população mais jovem.
Não se trata apenas de números. São histórias interrompidas, famílias devastadas, comunidades inteiras marcadas pela perda. O que impressiona é a capacidade da sociedade de conviver com estatísticas que, em outros países, seriam vistas como inadmissíveis.
Entre 2010 e 2019, o Brasil acumulou 392 mil mortes no trânsito, um aumento de 13,5% em relação à década anterior. A pergunta que fica é: quantas tragédias são necessárias para que isso se torne prioridade nacional?
A violência entre jovens e a carnificina no trânsito revelam algo em comum: a falta de políticas públicas eficazes, de fiscalização consistente e, sobretudo, de consciência coletiva. Continuamos a encarar o trânsito como “acidente” e a violência como “destino”, quando, na verdade, ambos poderiam ser evitados com educação, prevenção e responsabilidade.
A juventude não pode continuar sendo enterrada prematuramente. A pressa, o descuido, a violência e a negligência não podem ser o retrato de um país que sonha com futuro.
O Brasil precisa de escolhas mais duras: punir com rigor quem arrisca vidas no trânsito, ampliar políticas de prevenção ao suicídio, investir em segurança pública e, principalmente, promover uma mudança cultural que valorize a vida acima de qualquer imprudência ou violência.
O que hoje chamamos de estatística, amanhã pode ser a dor de uma família próxima. E talvez seja esse o choque de realidade necessário para que a sociedade finalmente acorde.