Mulheres sauditas conquistam o direito de dirigir

É grande a expectativa entre alunas de autoescola sauditas com fim da proibição de mulheres ao volante no país árabe. Mas a permissão de dirigir pode ser apenas o primeiro passo numa série de reformas necessárias.

Para muitas mulheres sauditas, a vasta paisagem desértica ao redor de Riad é o local ideal para aprender a dirigir. “Na verdade, este é o lugar mais seguro para treinar”, diz a estudante Baya à DW, que a acompanha enquanto pratica no terreno.

“A autoescola exige muitas coisas que ainda precisamos aprender.” Ela é uma das poucas cidadãs do reino que poderá conduzir em breve, se passar no teste de direção – uma novidade na Arábia Saudita pela qual as mulheres lutam há muito tempo.

Neste domingo (24/06), a proibição de mulheres ao volante acaba na Arábia Saudita. Não são muitas as motoristas que tiraram carteira de habilitação, até o início de junho, eram somente dez. Nas próximas semanas, no entanto, esse número deve aumentar para cerca de 2 mil, de acordo com um comunicado do Ministério da Informação saudita.

Troca de pneus como ato de liberdade

As candidatas à carteira de motorista não estão se preparando apenas no deserto. Elas também têm aulas de teoria e técnica nas escolas de condução do país. Ali elas aprendem a trocar pneus, a segurar corretamente a direção, a estimar apropriadamente a velocidade. Segundo a agência de notícias Reuters, grande parte das aulas é feita por vídeo.

“Quando eu tiver minha carteira de motorista, a primeira coisa que vou fazer é passear com minha família”, revelou uma das alunas da autoescola, “vamos para algum lugar comemorar.” Outra disse que, no dia em que puder dirigir pela primeira vez, vai pegar a mãe para dar umas voltas. “No carro só vamos estar eu e a minha mãe. Vou achar ótimo.”

Reformas só possíveis sob pressão

Para a Arábia Saudita, o fim da interdição para mulheres não deixa de ser um instrumento de marketing de imagem, explica Ali Adubisi, presidente da Organização Saudita-Europeia de Direitos Humanos, com sede em Berlim. Segundo ele, a liberdade de dirigir é um grande passo à frente e trará vantagens significativas para as mulheres. Por outro lado, que o governo saudita não estaria concedendo às mulheres mais do que um direito óbvio, ressalvou Adubisi.

O ativista explicou que seria errado ver a permissão de conduzir como uma reforma ativamente iniciada pelo governo. “A mudança se deve mais às pressões e às exigências da sociedade saudita e, em parte, também da comunidade internacional. Foi isso que levou à mudança.” Adubisi conta que, já no início da década de 1990, as primeiras mulheres se levantaram pelo fim da proibição de dirigir.

Por outro lado, a nova permissão pode ser apenas um primeiro passo em direção à emancipação legal das mulheres, ainda privadas de muitos direitos. Ainda sob tutela masculina, as sauditas não podem viajar nem assinar contratos por conta própria: “As mulheres sofrem muito, e isso dia a dia.”

“Se estamos agora celebrando a permissão de dirigir um carro como um novo direito das mulheres, devemos também pedir os outros direitos”, ressaltou o presidente da Organização Saudita-Europeia de Direitos Humanos.