Ontem, ao ler a crônica da minha colega Renata Dal Bó, intitulada “Não se fazem mais avós como antigamente, ainda bem!”, senti-me abraçada.
Há dez anos, quando pedi meu desligamento da empresa em que trabalhava há três décadas, fui bastante questionada — tanto pela minha idade quanto por abrir mão da estabilidade e de tantos benefícios que a empresa oferecia. Saí para me aventurar em uma nova e arriscada carreira. Havia recém completado cinquenta anos. De fato, tudo era muito novo e incerto, mas eu me sentia jovem aos cinquenta e pronta para me lançar naquele abismo.
Não entrarei no mérito das perdas financeiras que tive com essa decisão, pois outros fatores se mostravam mais importantes naquele momento.
O abraço de Renata chegou exatamente nesse contexto. Quando resolvi seguir adiante, cerca de seis meses após minha saída da empresa e com meu novo negócio recém-inaugurado, tomei um avião rumo a São Paulo para participar do meu primeiro treinamento na área de palestras. Foi no aeroporto, enquanto aguardava o embarque, que escrevi minha primeira crônica.
Nesta semana, em que celebramos o Dia dos Avós, o texto de Renata encheu meu coração de uma alegria dupla. A primeira foi a lembrança da minha estreia nesse gênero literário. A segunda, porque atualmente trabalho com literatura infantil — e os avós têm se mostrado grandes aliados na mediação da leitura do livro ilustrado.
Hoje, os avós ocupam um lugar extremamente importante: participam ativamente da vida escolar de seus netos. Por isso, nada mais justo do que aproveitar esta data para também prestar a minha homenagem. O Dia dos Avós é celebrado em 26 de julho para reconhecer sua importância e o papel que desempenham nas famílias, trazendo consigo a sabedoria e a experiência de uma vida.
Aos avós, meu carinho e minha profunda admiração.
Segue, então, minha primeira crônica, escrita naquele aeroporto, com o título:
Naquele Tempo
A expressão “naquele tempo” parece sempre nos remeter a um período muito distante. E se eu disser “meio século”? Você pensaria, provavelmente, em algo velho, antigo — talvez até ultrapassado. E se mencionasse um tempo de cinquenta anos? Agora, se esse tempo for a idade de uma pessoa, ele seria pouco ou muito?
É esse o pano de fundo da provocação que proponho.
Minha avó usava roupas muito comportadas e um lenço que adornava seu lindo rosto. Tinha aparência de senhorinha e pedia um afago — um carinho — com os olhos.
Falava baixinho, andava com cautela. Trazia sempre algum agrado em sua bolsinha para cada neto que chegava — invariavelmente uma bala ou uma moedinha — ensinando, desde cedo, o valor da economia.
Para ajudar nas finanças domésticas, já naquele tempo, confeccionava panos de tarrafa enquanto ouvia o rádio. Era rigorosa quando o assunto era desperdício de comida. Nenhum neto ousava deixar sequer um grão de arroz no prato. Assim, ainda na década de 1960, aprendemos a lição contra o desperdício.
Essa mesma velhinha nos colocava para dormir no chão. E quem conseguia pegar no sono antes de muitas risadas e histórias contadas? Era uma época sem computadores, sem celulares, onde a luz era desligada cedo, para que todos dormissem logo e acordassem dispostos, pois o mar da Vila Nova nos esperava.
Enquanto íamos à praia, ela preparava o cavaquinho, sovava o pão, cozinhava a polenta e caprichava na galinha, com o cuidado que uma boa família italiana sempre prezou. A netarada era numerosa, e não havia padarias como as de hoje. Aliás, nem padaria havia — tampouco dinheiro para comprar quitutes para o café.
Já adulta, descobri que aquela velhinha tinha apenas cinquenta anos. Curiosamente, com essa mesma idade, tive a coragem de iniciar uma nova profissão. Sentia-me jovem e, confesso, sem nenhuma semelhança com minha vó Ida.
Talvez isso se deva ao fato de eu ainda não ser avó. Ou, quem sabe, ao meu guarda-roupa atual: composto por uma calça jeans, camiseta, tênis All Star, mochila nas costas — e uma vontade absurda de voar.