Vem de longe a larga importância do bairro Oficinas para o desenvolvimento de Tubarão, populoso conglomerado social que fica do lado sul da cidade e que traz no próprio nome a sua origem, ou seja: o lugar onde, para breves ou demorados consertos, estacionavam-se as magníficas e gigantescas locomotivas, todas ainda no velho e apreciado estilo Maria Fumaça; boas e intermináveis heranças do século 19, quando, rompendo quase todas as barreiras terrestres, aqui firmaram seus milhares dormentes e pares de trilhos.
E o lugar não fora escolhido por acaso. Ali era realmente o melhor ponto para esse tipo de assistência. Ficava, favoravelmente, quase no meio da viagem entre as Minas do Araranguá – quando Criciúma ainda lhe pertencia – e o importante porto de Imbituba, de onde, mar afora, seguia “N” destinos. Desse jeito, para um lado ou para o outro, da fonte ao desemboque, os hábeis técnicos e mecânicos encurtavam distâncias na assistência e entrega das máquinas consertadas.
Araranguá e Imbituba eram os pontos extremos do caminho inicial do carvão de pedra, preciosa riqueza extraída do solo sul catarinense, testado, aprovado e, por conta disso, cobiçado mundialmente. – Ladeado e apoiado pelo capitalista Henrique Lage, foi Lauro Severiano Muller, natural de Itajaí, nosso chanceler-governador (o primeiro da lista republicana) quem mostrou isso ao mundo quando praticamente exigiu, lá fora, melhores olhos para nossas grandes jazidas e fez entender que ali estava um rico minério, hulha de ímpar pureza e qualidade que no sul catarinense vertia de uma fonte subterrânea, à beira do interminável.
De volta à página um da bela história do bairro de Oficinas; para tanto serviço na necessária manutenção das valentes máquinas, estas que, pelo movimento constante e ritmado pareciam sempre entoar o conhecido verso infantil “Café com pão, manteiga não!”, era preciso muita gente; logo, o derredor da grande oficina, que ficava quase à beira do Rio Tubarão, não demorou a crescer.
Desse jeito, e em pouco tempo, já se contavam dezenas de famílias ali instaladas definitivamente, mantidas e alicerçadas nos estáveis salários da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina – EFDTC, denominação que foi abreviada por todos, carinhosamente, como “Estrada”.
Juntava-se, assim, um bom tanto de pessoas à urgida necessidade de movimentação dos rompedores “Cavalos de Aço” e seus serpenteadores comboios, uns atuando como foguistas, outros, maquinistas, e muitos mais no serviço regular do atendimento da manutenção da malha, todos espalhados pelas várias estações erguidas ao longo do curso, onde, com estadia fixa, sempre havia alguém de plantão.
Estava, assim, consolidada a boa prole ferroviária, reunida naquele largo espaço da terra tubaronense, onde, com o passar do ofício de pai para filho – no correr de mais de cinco décadas-, cada vez mais firmou a identidade de que ali era o bairro das oficinas, o famoso bairro da “Estrada”, e que dele nunca mais se separariam; muito pelo contrário, cresceriam juntos, alavancando cada vez mais o progresso da Cidade Azul.