Parlamentares da oposição pernoitaram nos plenários da Câmara e do Senado, nesta quarta-feira (6), em protesto contra a prisão de Jair Bolsonaro. A ocupação das mesas diretivas inviabiliza o funcionamento das Casas e a votação de pautas prioritárias.
Deputados e senadores, em sua maioria do Partido Liberal (PL), ocupam as mesas diretoras das duas Casas Legislativas desde a madrugada. A mobilização ocorre após a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, na última segunda-feira (4), por suposta tentativa de golpe de Estado.
A ação foi classificada por integrantes da base do governo como mais uma ameaça à institucionalidade, relembrando os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Oposição cobra anistia e impeachment de Moraes
Entre as principais exigências da oposição estão a votação da anistia geral aos condenados pelos atos golpistas e o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes — relator da ação contra Bolsonaro no STF.
A denúncia contra o ex-presidente envolve supostas articulações para anular as eleições de 2022, além de planos para prender e até eliminar autoridades públicas. Todos os acusados negam envolvimento.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, participou da ocupação e fez relatos durante a madrugada. “Estamos aqui fazendo esse gesto para, finalmente, colocar em pauta o que é melhor para o Brasil”, disse.
Segundo ele, parte das tarifas de 50% impostas pelos EUA às exportações brasileiras estariam relacionadas ao processo contra Bolsonaro, defendendo que a reversão do caso poderia beneficiar o país economicamente.
Isenção do IR travada
Com a ocupação, votações como o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até dois salários mínimos ficam paralisadas. A proposta já foi aprovada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e substitui a MP 1.294/2025, editada pelo governo Lula. No plenário da Câmara, também aguarda votação outro projeto que amplia a isenção para quem ganha até R$ 5 mil.
O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), criticou duramente o protesto. “Isso é chantagem para livrar Bolsonaro. Dez milhões de pessoas perdem por causa deles”, afirmou.
Presidência tenta mediar
Diante da crise, os presidentes da Câmara e do Senado convocaram reuniões emergenciais para esta quarta-feira (6). Hugo Motta (Republicanos-PB), da Câmara, evitou críticas diretas, mas afirmou que “o Parlamento deve ser a ponte para o entendimento”.
Já Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado, classificou a ocupação como “inusitada e alheia aos princípios democráticos”, pedindo serenidade e cooperação entre os parlamentares.