sábado, 9 agosto , 2025

OS DESAGRADÁVEIS SENHORES DA RAZÃO

Há quem constitua algumas ideias como apoio explicativo dos afetos, dos fatos e mesmo do mundo, mas admite que outros possam compreender diversamente as mesmas questões. Há, contudo, quem não aceite – e nem saiba – que o seu pensamento seja apenas um dentre tantos outros possíveis.

Estas pessoas estão convencidas de que a sua compreensão não é nada mais, nada menos do que a verdade.  Assim, elas não têm uma opinião, elas ditam certezas. Em geral, nós achamos que estas pessoas são chatas. Elas são chatas, mas também são bem mais e pior do que isto. Elas são perigosas.

Gente assim – em público percebo mais homens – só pontifica; é enfadonha e autoritária. Ao nos obsequiar com os seus infalíveis conhecimentos, crê nos conduzir nos nossos dias futuros. Fala-nos com olhar blasé, convicta de que nos concede uma graça: salva-nos da ingenuidade e da ignorância

Estas pessoas desagradáveis supõem-se entendidas de muito sobre tudo. Acreditam-se técnicas de futebol, grandes amantes; dirigiriam melhor a empresa; governariam bem melhor o Brasil. Se lhes dermos corda, ouviremos que dariam um jeito no mundo. E é no “jeito no mundo” onde eu quero chegar.

Eu imagino o que é viver com um sujeito desses como colega de trabalho ou escola, companheiro de clube, amigo de bar. Ou dentro de casa: marido, pai, às vezes mãe, irmão. Mas, nesta dimensão doméstica, pessoal, em que eles nos aporrinham individualmente, a gravidade não é maior, é só mais próxima.

Com um pouco de paciência, livramo-nos deles. Ocorre que, não raro, eles se organizam e desenvolvem métodos: desde mandar mensagem com suas sabedorias até comprar espaços em redes de televisão. Ficam lá, convencidos e tentando nos convencer de que têm a solução para uma vida melhor.

Formam tribos de parecidos entre si (as bolhas de internet), fazem-se chefes e põem-se a jactar suas estupidezes. Falam com superioridade de suas convicções e nos aconselham, ou ameaçam, explícita ou veladamente, com uma vida desastrosa, com a fúria divina, com a falência profissional.

 Neste estágio mais avançado de exaltação delirante, já não são impertinentes inofensivos, já não querem tão só nos convencer; querem nos salvar do que imaginam ser a nossa perdição, querem nos converter, querem-nos para eles, para a sua causa. Mas ainda temos o controle das coisas.

Gente desta natureza, contudo, às vezes, pesa. Em muitos lugares, em muitas épocas, estas pessoas, seguras de que portam a verdade, conseguem juntar sua fé com armas e algum poder e aí transformam chateação em assassinatos, guerras, genocídios, terrorismo e o que mais puderem fazer.

Elas estão no estágio do “jeito no mundo”, com a licença moral de uma causa política, étnica, sexista, religiosa (sobretudo), ou outra qualquer. Neste ponto – se elas detêm poder –, já há pouco que se possa fazer. Elas sentem-se iluminadas e portam uma revelação que, por bem ou por mal, há de vingar.

Atualmente, como soe acontecer, há muita violência ideológica ao redor do planeta. No Brasil, particularmente, há combates fascistoides para o gáudio de gente assim. Por detrás desta violência, há os convencidos, os mesmos convencidos de sempre, de alguma verdade que não podem deixar de impor.

 Não sabem, nem nunca vão saber, que uma verdade, qualquer verdade, é localizada, é circunscrita, ou seja, serve por algum tempo e em algum lugar, apenas. Depois, as coisas mudam e tudo o que se sabia já não prevalece; morre como valor. Sobra só um saudosismo da própria imaginação imobilizada.

Assim caminha e, espero, caminhará a humanidade. Se alguém, aliás, tivesse uma verdade e conseguisse fazê-la a verdade do mundo, tudo seria uma mesmice enfadonha. A própria História – História da vida – perderia o sentido. Sairia a epopeia humana, ficaria o registo de uma sempre repetição do igual.

Que tristeza: ninguém mais terçaria ideias, a História ficaria quieta, os argumentos intelectuais perderiam a emoção. Ainda bem que alguns (estes chatos de bar, de casa, de terrorismo, de igrejas ou de televisão) têm exatamente uma única e verdadeira razão, mas a maioria de nós, felizmente, não.

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