PASSAREDO

Há encontros que só a natureza é capaz de escrever — encontros tão inesperados quanto delicados, tão belos quanto selvagens. Em cada canto da Casa da Floresta pulsa uma vida vibrante, e é ali, entre pequenas descobertas e grandes encantamentos, que histórias improváveis se revelam aos olhos atentos de quem se permite observar. Nos últimos anos, tenho tido esse olhar, pois é na Casa da Floresta que minha mente torna-se inquieta e tão desejosa para novas histórias.

A visita de quase oitenta alunos do segundo ano à Casa da Floresta, para conhecerem a Toca da Família do Lagarto, não deixa dúvidas de que, mesmo sabendo que o lagarto é um animal silvestre, quase todas as crianças — em todas as visitas — esperam ansiosamente que o Sr. Lagarto saia da toca para desejar-lhes uma ótima tarde. Desde a primeira visita, realizada em 2023, algumas crianças ficam à espera do protagonista do meu livro A Família do Sr. Lagarto. Ontem mesmo, uma delas queria porque queria fazer um carinho no lagarto, já que, no livro, a família é divertida e tem pais cuidadosos e participativos. Isso já é suficiente para deixar as crianças apaixonadas pelo enredo, mas por trás dessa família também se escondem comportamentos que me surpreendem, como a crônica que escrevi na primavera passada, quando os nossos lagartos saíram do período de hibernação.

Esse fato pitoresco, dependendo da idade da criança, deve ser narrado com muito cuidado, mas com você, meu querido leitor, compartilho agora a minha crônica.

Durante minha manhã de estudo, naquela manhã, eu aproveitava o sol e a brisa que entravam pela porta-janelão. A visão do jardim estava linda, e a dança delicada da cortina chamava minha atenção, dispersando-me totalmente da poesia que havia começado a escrever. O som dos pássaros era outro fator de distração. No verão, os filhotes saem do ninho e seus pais se esforçam para atender aos pedidos de suas proles, que acordam antes mesmo de o sol nascer.

Havia poucos chupins — apenas os filhotes, adotados pelas canárias e pelas corruíras. Por instantes, assisti a um verdadeiro espetáculo de dança bem à minha frente: a dança para alimentar os pequenos.

As canárias e corruíras tiveram seus ninhos invadidos pelas fêmeas parasitas, um comportamento que sempre me incomodava dentro da fauna ornitológica,

até me aprofundar no que já foi se escreveu sobre tal comportamento. (Felizmente, as mamães adotivas sempre aceitaram essa condição com naturalidade).

Os sabiás tentavam banhar-se na fina lâmina de água. O joão-de-barro tinha se esbaldado agorinha. Levantei-me e fui encher as banheiras. Voltei e peguei um café recém-passado. O cheiro era tão bom quanto sentar ali fora e aproveitar toda aquela beleza. Escolhi a mesa embaixo do pergolado, que me permitia ainda mais proximidade daquela reunião tão animada. Perdi-me namorando a inquietação dos pássaros.

Quando estava prestes a entrar para o estúdio, vi um jovem lagarto vindo para a parte da frente do quintal. Era um dos pequenos que vimos crescer. Já acostumada com as ninhadas que surgiam lá dos fundos, fiquei curiosa com sua incursão por aquelas bandas. Ele parou de andar quando me levantei. Não queria assustá-lo, então voltei para minha pintura. Chegava próximo ao pergolado quando um movimento chamou sua atenção. Uma mudança de curso ficou evidente quando ele virou à direita. Percebi que estava indo em direção aos pássaros e me vi feliz com aquela possível interação.

Conversava comigo mesma enquanto fitava o jovem lagarto:
— Será que vai tomar banho ou beber água?
— Será que ele come a comida dos passarinhos?

Enquanto ele deslizava delicadamente pela grama, minha curiosidade aumentava para o encontro com a passarinhada, que levantou voo — exceto por uma canária. Ele se aproximou, mas nem sequer experimentou o milho.

— Vai tomar banho! — pensei, convicta.

A canária, entregue aos prazeres do desjejum — um verdadeiro deleite naquele jardim —, serenamente olhou para trás. Ele, parado, fitou a bichinha, que não teve tempo de piscar, tampouco de voar. Em uma fração de segundo, a canária se debatia na boca do dissimulado visitante.

E assim, entre o voo interrompido de uma canária e o passo silencioso de um jovem lagarto, a natureza voltou a lembrar-me de sua poesia crua: nenhum jardim é feito apenas de flores. Mas é justamente essa mistura de encanto e instinto que torna cada cena única, cada visita inesquecível e cada prosa tão fascinante para as crianças _ e também para esta autora.

Nos vemos nas próximas linhas.

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