Ao passar pela fábrica de refrigerantes Água da Serra, na cidade de Braço do Norte, deparei-me com uma decoração natalina de tirar o fôlego.
O tema — A Fantástica Fábrica de Refrigerantes — parecia acender não apenas luzes, mas memórias.
Parei para fotografar e me surpreendi com o tamanho que a fábrica alcançou. Sempre acreditei que ela cresceria. Talvez por eu ser tão bairrista, talvez porque, na adolescência, tive um contato muito estreito com a família.
Como era bom ser amiga da filha da dona. Dona Janice, sempre tão querida, nos recebia com um guaranazinho ou uma laranjinha. Sabores que jamais esquecerei. Se Dona Janice soubesse que, às vezes, eu tinha vontade de tomar três garrafinhas de uma só vez, ficaria horrorizada com a minha “esganação”.
Lembrei-me de quando a fábrica ficava mais afastada e, ali, naquele instante, vi-me cercada por casas, um pouco perdida geograficamente. Mas não fiquei perdida ao avistar o grande painel com as delícias que hoje fazem parte do portfólio da fábrica — a mesma que me presenteou com tantos momentos de alegria quando morei na cidade-sede da empresa.
A cada passo para apreciar a decoração, mais alegria permeava meu coração: lembranças da adolescência misturadas à cena de tantas famílias passando com seus filhos para celebrar juntas a festa das luzes, das cores e da união.
Sim, esta marca me remete à infância; infância que lembra família; família que nos conduz ao sentido maior do Natal — a celebração do nosso querido Menino Jesus.
Ao entrar no carro, olhei mais uma vez e percebi que, depois de quase cinquenta anos, ainda carrego uma nostalgia gostosa. Foi então que me lembrei da crônica que escrevi sobre um momento simples e profundo que vivi com minha filha. Dizia o seguinte:
Radicalizamos no almoço hoje. Optamos por um bar, um lanche e uma laranjinha Água da Serra. Mas não radicalizamos na quantidade, já que a laranjinha foi dividida. Você pode estar rindo e pensando: como duas pessoas adultas dividem uma laranjinha?
O que eu não imaginava, no entanto, era o desfecho que essa divisão traria ao nosso almoço. No meu copo, três dedos do precioso líquido. Já minha filha escolheu abrir mão do copo e matar a saudade, tomando a laranjinha direto no gargalo.
Nem tive coragem de fazer qualquer objeção, sequer de olhar de modo repreensivo. Afinal, o que precisava ser ensinado ao longo desses vinte e cinco anos já havia sido. Aquela atitude não era rebeldia nem falta de educação. Aquele gole vinha acompanhado de olhos fechados e um sorriso nos lábios. Depois, com os olhos abertos e fitando a garrafinha, soltou um haaa de satisfação, misturado de saudade.
Sorrindo, disse:
— Mamis, lembra dos nossos aniversários, com a mesa decorada com essas garrafinhas? Dos nossos recreios na escola? Dos passeios na casa do pai?
E ali a conversa fluiu solta, trazendo à tona tantas lembranças de infância. À medida que elas surgiam, vinham também os risos e as gargalhadas.
Em tempos de tanta tecnologia e informação, chamou-me a atenção quando ela segurou a garrafinha e, após o último gole, sorriu e disse:
— Envase a nostalgia.
Naquele instante, compreendi que algumas marcas não se limitam a produtos: elas engarrafam afetos, preservam histórias e atravessam gerações. E assim, entre um gole e outro de memória, seguimos brindando o que realmente importa — o amor, a família e essa doce nostalgia que insiste em nos acompanhar.
O carro foi se afastando vagarosamente e com os olhos marejados, eu sorri!
Nos vemos nas próximas linhas
