sábado, 12 julho , 2025

Pelo Estado – A paz em tempos de (des)informação: a lição que vem da fraternidade

 

Geralda Magella de Faria Rossetto, Membro da Rede Universitária para Estudos sobre a Fraternidade (RUEF)

 

A história da humanidade tem confirmado que a guerra tem ocupado mais tempo e atenção que a paz e, consequentemente, há mais conflitos, mais violência e muito menos dedicação à paz. Esse contexto reforça a importância de um modelo de paz baseado na essência da fraternidade que possa expressar a valorização do diálogo nos aportes das crescentes fraturas globais, cujas divisões dão causa a inúmeras contendas, conflitos e guerras.

Nos dias atuais, essas “contendas” são decorrentes da desinformação continuada – traduzida com o sentido de misinformation e disinformation – e não com o sentido único centrado na fake news. Com efeito, afastar conflitos destrutivos e os riscos inerentes à vida, tais como, a peste, a fome, a pobreza, a guerra e o terror é sempre uma meta salutar, dentre os quais, a desinformação ocupa um valoroso contraponto.

Efetivamente, na contemporaneidade com seu histórico e currículo, a propagação da desinformação detém um posto de alastramento privilegiado: o uso da internet, das mídias e das redes sociais para executar seu próprio ofício – no caso, a sua própria propagação. Em face da mesma, há um rigoroso papel a cumprir, frente ao poder que estão a disseminar. Este papel tem a ver, especialmente, com as relações entre as pessoas, a sociedade e as relações entre os países, das quais, também, são extraídas a importância da cooperação e do diálogo a dar conta do compromisso com a paz por primazia.

As campanhas de desinformação não são novas – nesse sentido, basta pensar a propaganda de guerra usada para influenciar a opinião pública contra um inimigo. A novidade é o uso da internet, das mídias e das redes sociais para divulgar, disseminar e propagar a desinformação, meios estes que têm o poder de redirecionar eleições, fortalecer certas teorias, semear a discórdia, estabelecer conflitos e armar a guerra, e por aí se concentram as narrativas de desinformação e os riscos que sustentam as agendas globais em seu compromisso e parâmetros de paz, no que, conforme visto, a desinformação ocupa lugar destacado na lista de riscos indicados pelo Fórum Econômico Mundial, em 2024.

O alto desempenho levado a termo pela tecnologia, notadamente a inteligência artificial com suas ferramentas e alcance de largo espectro, estão a facilitar o desenvolvimento de vários campos, inclusive o político e o econômico, além de deixar o social em vulnerabilidade flagrante e acentuar a disparidade dos países, das organizações e das pessoas, às voltas com a ciberequidade para uns e não para todos.

É dada como certa uma anunciada virada tecnológica para as indústrias em todo o mundo, que se transformarão em especialistas de comandos tecnológicos, deixando em dúvida a contribuição de trabalhadores humanos mundo afora, facilitando o próprio desprestígio humano ao invés de lhes conferir oportunidade e centralidade no trabalho. Também, são percebidas as tendências da cibersegurança e da cibercriminalidade impulsionadas pelo desenvolvimento tecnológico e pela informação ou desinformação que pode passar para mãos equivocadas e maus intervenientes.

Sob a perspectiva tecnológica e informacional, desde as organizações mais protegidas e mesmo as pessoas que têm acesso a soluções colaborativas, é importante que todos se apoiem mutuamente e que pessoas apoiem aqueles menos capazes de se protegerem da falta de informação e da desinformação que circula – a qual inclui informação falsa e fora de contexto divulgada com a intenção de enganar ou induzir em erro.A informação tecnológica tende a ser benéficas para todos. Em boas mãos isso é realidade, nas más o resultado tecnológico é adverso, suplantando as expectativas benéficas esperadas.

Todos se beneficiarão protegendo o acesso à informação, a circularidade do conhecimento e a proteção tecnológica. O oposto também precisa acontecer de modo que a desinformação deve ser afastada. À medida que a desinformação continua a crescer, torna-se crucial abordar os desafios que apresentam. A moderação de conteúdo em tempo real e esforços ex-post para eliminar preconceitos de audiência como estratégias essenciais para conter a propagação de notícias falsas, têm limitações prementes.

O hiato que divide as organizações, seja as que estão se tornando ciber-resilientes, sejam  aquelas que estão lutando – ou não vão conseguir – , está ficando cada vez mais nítido, a ponto de essas empresas serem deixadas para trás em um mercado cada vez mais excludente.

Desse modo, os ciberataques baseados em desinformação estão crescendo vertiginosamente por meio de adoção de novas tecnologias, de que dão conta diversas ferramentas, inclusive a IA generativa, engrossando os mercados que podem atingir vultosos picos dominantes na internet, mantendo alto os feeds de usuários de um lado, enquanto, de outro, trata de interromper o fluxo de informações, perturbando o movimento de posição versus oposição sem que se perceba o acréscimo da agressão aparente e cujas contas imitam o comportamento de contas comuns em vários aspectos.

O controle e o conhecimento sobre os recursos estratégicos, como dados, software e hardware, inteligência artificial e sua regulamentação, são fundamentais para todos os países e o governo do espaço digital, o que também é evidente nas discussões sobre transferências internacionais de dados, recursos ligados à computação em nuvem, utilização de software de código aberto, e assim por diante. Consequentemente, esse cenário tem pautado uma crescente desconfiança em torno da segurança dos dados, de suas circulações, e uma onda de desinformações centrada no medo da vigilância dos cidadãos.

Na perspectiva da inteligência artificial, repousam sobre a figura da desinformação alguns aspectos decisivos às novas magnitudes da contemporaneidade, não mais adstritas a simples questões sociais. Antes ao contrário, têm avançado em questões políticas estratégicas, como “colaborar” de modo decisivo para um resultado de determinada eleição e até mesmo orientar a política dos países.

Com efeito, há um protagonismo às avessas em torno da desinformação, de modo que, segundo o PNUD (2024) estamos testemunhando uma onda de “crises globais para as quais as respostas tradicionais não estão sendo suficientes”. Não somente o presente, também o futuro é posto em jogo, frente às guerras, epidemias, emergência climática, problemas financeiros e a própria desinformação a reverberar no mundo, cujos efeitos projetam escalas de grande vulto e manobra, políticas e tecnológicas.

Uma boa resposta para a superação destas “situações”, requer cenários tecnológicos inclusivos, disseminação de conhecimento, investimento e aquisição de talentos, controle humano significativo, para citar alguns exemplos, o que muitas organizações estão longe de conseguir enquanto outras tem facilidade em obtê-los.

Espera-se um mínimo de educação e preparo em literacia informacional, em condições de atuar em mitigação em face de implicações tecnológicas imediatas, ou a médio e longo prazo, em prol de uma postura condizente com a segurança cibernética para as pessoas, as organizações e o Estado, no que as tecnologias emergentes são claros sinais propulsores de que sociedades e países com alto avanço e compromisso tecnológico mais avançados já se encontram melhor protegidos contra os sintomas da desinformação.

A inteligência artificial continuará a revolucionar a sociedade nas próximas décadas, de tal modo, como já é esperado e está acontecendo a IA terá o impacto mais transformador na economia global. Neste sentido Larsen (2024) pontua que, no entanto, permanece incerto se os países do mundo conseguirão chegar a algum acordo sobre a forma como a tecnologia deve ser implementada para o maior benefício social possível. À medida que formas mais fortes de IA e seus produtos visionários e revolucionários continuam a surgir numa gama mais ampla de casos de utilização, garantir o alinhamento da mesma, associada a mecanismos propulsores de paz e de fraternidade, a nível internacional poderá ser um dos desafios mais significativos do século XXI.

Bem por isso, a fraternidade, com suas lições vistas como intangíveis, associada às múltiplas lições de paz interna e/ou externa (da fórmula de Bobbio); de paz consigo mesmo, com os outros e com a natureza (do modelo de Weil) poderão tecer uma jornada de resultados tangíveis: que marca nosso espírito e atitudes, os negócios, os serviços, a inovação, a política, o social, a ciência (aqui incluído o direito), o ambiental e as relações das nações, interna e externamente, a inventar novas formas de educar, de produzir, gerir, consumir, inovar, circular, governar, utilizar e querer, adaptadas a essa reconstrução de fraternidade e paz, cujo colocar-se no mundo é bem mais profundo do que ainda se acredita e se põe em esperança.

Não reconhecer a incomensurável tarefa que cabe à fraternidade significa que há risco de desequilíbrio irreversível nos “ecossistemas” das relações humanas e, portanto, também, da manutenção da paz. O caminho a seguir na direção de ambas é ver essas capacidades pelo que são: em vez de vê-las como algo que nos separa, devemos ter em conta que a fraternidade é o fio que liga nossa comunalidade à paz. Trata-se de um modelo de paz fundamentado e garantido pela fraternidade.

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