Por Natálie Berka Borges
Quando você pensa no planejamento estratégico da sua empresa, quais são as primeiras variáveis que vêm à mente? Mercado? Produto? Concorrência? Custo? Receita?
Agora, uma pergunta direta: as pessoas estão nesse plano? E mais do que isso: o RH participa da construção estratégica do seu negócio, ou só é envolvido depois que tudo já foi decidido?
Essa reflexão é importante porque ainda é comum ver empresas planejando o “negócio” de um lado e lidando com “as pessoas” em outra esfera, como se fossem dois mundos diferentes. Mas o fato é que não existe estratégia sem pessoas. São elas que colocam o plano em movimento, tomam decisões, atendem clientes, inovam, resolvem problemas e criam soluções.
Quem vai executar sua estratégia?
Se sua empresa estabeleceu indicadores e metas para o próximo ciclo, é fundamental se perguntar: esses resultados vão caminhar sozinhos? Ou vão depender de pessoas comprometidas e engajadas para fazer as ações acontecerem?
Toda estratégia precisa de um plano de gestão de pessoas, ou melhor, de uma estratégia de people integrada. Isso significa pensar desde já:
- Quem vai conduzir as ações-chave do planejamento
- Quais competências serão essenciais para isso
- Como manter essas pessoas motivadas e alinhadas
- Quais políticas serão necessárias para reter e reconhecer esses talentos
- Como manter o engajamento ao longo do caminho
Sem responder a essas perguntas, a estratégia perde força. Porque, no fim das contas, são as pessoas que movem o negócio.
Propósito e reconhecimento: o que a neurociência nos ensina sobre engajamento
A neurociência mostra que o cérebro humano responde com mais intensidade a recompensas que ativam significado, não apenas gratificações financeiras. Quando as pessoas percebem que seu trabalho contribui para algo maior, isso ativa o sistema de recompensa cerebral, especialmente o circuito dopaminérgico, promovendo motivação, foco e sensação de realização.
Além disso, o reconhecimento frequente e específico ativa o córtex pré-frontal, gerando sensação de progresso, valor pessoal e pertencimento. Ou seja, propósito e reconhecimento são combustíveis neurais do engajamento.
Ignorar esses fatores é abrir espaço para o desânimo, a desconexão e, em casos extremos, para o esgotamento emocional. Por isso, um bom planejamento estratégico precisa prever como manter viva essa conexão entre propósito, entrega e recompensa.
Pertencimento: condição básica para prosperar
Outro pilar essencial é o pertencimento. Quando as pessoas se sentem incluídas, escutadas e valorizadas, há liberação de oxitocina, um hormônio associado à confiança e à colaboração. Em ambientes onde o pertencimento é real, o cérebro funciona com mais abertura à aprendizagem, criatividade e resiliência.
Esse conceito está diretamente ligado à segurança psicológica, que já mencionamos em artigos anteriores. Quando o clima permite que as pessoas expressem suas ideias, errem, aprendam e evoluam sem medo de retaliações, o time prospera e o negócio também.
Empresas que desejam crescer de forma sustentável precisam entender que pertencimento não é “extra”. É essencial.
O papel do RH na estratégia
Diante de tudo isso, fica evidente que o RH não pode ser um coadjuvante no planejamento estratégico. Ele precisa estar na mesa desde o início, contribuindo com dados, análises de clima, capacidade instalada, mapeamento de competências e propostas de programas que sustentem o plano com foco nas pessoas.
É o RH que pode desenhar:
- Políticas de reconhecimento alinhadas ao que engaja
- Planos de retenção baseados nas necessidades reais dos times
- Estratégias de comunicação interna que gerem conexão
- Trilhas de desenvolvimento coerentes com os objetivos de negócio
Quando o RH é incluído, o planejamento ganha profundidade, realismo e potência. Porque deixa de ser apenas um plano no papel, e passa a ser uma estratégia viva, conduzida por pessoas que sabem aonde querem chegar e por que isso importa.
Para fechar
Planejar o negócio sem incluir as pessoas é como construir uma casa sem olhar para o terreno. Pode até parecer que vai funcionar, mas vai faltar base, equilíbrio e sustentação.
Por isso, na próxima vez que você sentar para pensar o futuro da sua empresa, olhe ao redor. Pergunte-se: quem estará comigo para tornar esse plano realidade? Como vou apoiar, reconhecer e desenvolver essas pessoas ao longo do caminho?
A resposta a essas perguntas pode ser a grande virada no sucesso do seu planejamento.
