Há coisas no mundo que fariam um progressista brasileiro passar mal, chamar o SAMU e ainda pedir uma notinha de repúdio da ONU — tudo ao mesmo tempo. Basta uma visitinha básica à China. O choque cultural seria tão grande que nem a terapia revolucionária do Jones Manoel daria conta.
Comecemos pelo essencial: pena de morte. Sim, aquela palavra que faz qualquer militante universitário quase pedir asilo emocional. Pois na China não apenas existe: ela é aplicada inclusive para corrupção. Tang Renjian, ex-ministro da Agricultura, foi condenado à morte por suborno. Na China, o sujeito mete a mão no dinheiro público e a resposta do Estado não é CPI, nota de solidariedade ou “vamos aguardar o trânsito em julgado”: é sentença final.
Enquanto isso, aqui, os “comunistas-de-iPhone” defendem direitos humanos até para quem passa a mão na verba da creche. A China, aparentemente, não recebeu o memorando.
E sigamos. Controle migratório. Aqui em Santa Catarina, quando ousamos dizer que talvez fosse bom saber onde as pessoas vão morar e onde pretendem trabalhar, já fomos acusados de xenofobia, supremacismo e talvez até de esconder um muro invisível em Joinville. Pois bem: na China, para mudar de cidade, o cidadão precisa de autorização. Autorização! O famoso sistema hukou: se você vive numa cidade de nível 4, só pode se mudar se estiver empregado ou matriculado — e ainda precisa da bênção do Estado. Ou seja: o que aqui seria chamado de “fascismo” lá é só uma terça-feira chuvosa.
Outro ponto: mendigos. No Brasil, qualquer tentativa de encaminhamento compulsório vira grito de “higienismo social!”, “neoliberalismo cruel!”, “cidade para ricos!”. Na China, não existe debate: não há moradores de rua. São todos encaminhados pelo Estado para locais adequados — compulsoriamente. Não é sugestão, não é projeto-piloto. É política pública. E não tem ONG na porta distribuindo manifesto.
E então chegamos ao trabalho. Por aqui, se alguém fala em jornada maior que 40 horas semanais, prontamente aparece um influencer com camiseta do Che gritando “escravidão!”. Lá, o famoso 9-9-6 — das 9h às 21h, de segunda a sábado — é parte da cultura empresarial, especialmente no setor de tecnologia. O progressista brasileiro que passa mal com hora extra ia desmaiar na primeira semana.
No fim das contas, talvez esteja na hora de alguns webcomunistas — Jones Manoel, Ian Neves e companhia — fazerem um rápido intercâmbio ideológico. Nada de “vai pra Cuba”, que virou clichê: vai estudar a China! É sempre bom conhecer o paraíso comunista antes de defendê-lo com tanta segurança no Twitter.
Porque, no final das contas, descobrir que o comunismo real não se parece nem um pouco com o comunismo imaginário pode ser uma experiência espiritualmente transformadora.
Quase uma religião, só que com menos direitos humanos e mais autorização para mudar de bairro.
