Esta semana, ao ler o anúncio da morte de Nobuo Yamada, ocorrida no dia 9 de agosto, fui abatida por uma tristeza profunda. Veio-me um turbilhão de lembranças: um misto de melancolia e alegria — nostalgia, para ser precisa. Fiquei triste porque ele tinha apenas 61 anos, a minha idade.
Nobuo ficou conhecido mundialmente por cantar a famosa canção Pegasus Fantasy, do anime Os Cavaleiros do Zodíaco.
Por anos, as versões em japonês e português dessa música icônica embalaram as horas de lazer dos meus filhos. No Brasil, este anime foi um verdadeiro fenômeno na década de 90.
Hyoga, Shun, Seiya, Shiryu e Ikki, protagonistas da saga, passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia com suas armaduras coloridas — inspiradas nas constelações e na mitologia grega — enfrentando inimigos de força colossal. O curioso desse fenômeno televisivo é que, na época, a Rede Manchete só colocou os primeiros episódios na grade porque os recebeu gratuitamente. A distribuidora licenciadora dos bonecos, queria lançá-los no Brasil e usou o anime como vitrine. A emissora, claro, não imaginava o sucesso estrondoso que teria entre crianças e adolescentes, minha opinião pessoal.
A saga desse quinteto, que simbolizava força e determinação, foi tema de uma das festas de aniversário de Caio. Sim, Os Cavaleiros do Zodíaco foram o centro de uma celebração vibrante, cheia de energia e cores. Essa festa ficou gravada na nossa memória como poucas.
Sabe aquela máxima de que, ao longo dos anos, nossas ações constroem memórias? Aquela festa foi exatamente isso: uma construção de lembrança que jamais se apagará.
Vida louca, típica de mãe solo que trabalha de dia, estuda à noite e ainda gosta de inventar moda? Pois fui eu nesse dia. Inventei de fazer a primeira festa de meu filho no colégio. Tive apenas aquele único dia de folga para protagonizar o que chamo até hoje de minha maior “arte” dentre todas as festas dele.
Os amigos ficaram encantados com o tema e a decoração. Tudo absolutamente lindo e divertido. As guloseimas foram pensadas para a criançada, numa época em que não havia restrições alimentares. O buffet era farto de doces, salgados e as famosas laranjinhas bem geladas. Até as irmãs da escola autorizaram música, e a dança entre as crianças se transformou em um verdadeiro festival de passos copiados dos episódios da TV.
De Marina, tenho a imagem nítida: vestidinho jeans xadrez, meias de babadinho e sapatinho de verniz. Dançava ao seu próprio ritmo — ora rodeando o irmão e os amiguinhos, ora sozinha. Não sabia cantar, mas sabia sorrir e dançar. Os meninos, ao final, estavam suados de tanto repetir os movimentos coreografados.
A versão em português, interpretada por Edu Falaschi, transmitia uma mensagem clara de força interior e superação — elementos centrais no universo do anime. O “cosmo” citado na canção simbolizava a energia vital e o potencial de cada personagem para superar seus próprios limites. Naquele dia, dançando, eles também não tinham limites.
Os versos “O seu cosmo elevar / E a vitória irá chegar / Com o amanhã” refletiam a filosofia da série: acreditar em si mesmo é fundamental para conquistar objetivos e proteger o que é importante. Para aquelas crianças, a festa era a maior das conquistas; para o meu filho, o lugar era sagrado e os amigos, protagonistas da sua alegria.
A música também falava em “abrir as asas no céu”, simbolizando liberdade e conquista, mostrando que persistência diante das dificuldades leva a novos horizontes.
Cantávamos alto quando vinha o trecho: “Nunca pense em parar / Cada barreira que encontrar / Você pode derrubar / Rumo ao amanhã” — um incentivo puro para não desistir.
O sonho do guerreiro ia além das batalhas externas: era vencer as próprias limitações — assunto recorrente em nossa casa, por conta das particularidades de Caio e Marina — sempre com o apoio dos amigos, valor essencial tanto na série quanto na vida.
E engana-se quem pensa que só as músicas daquele aniversário embalaram nossos movimentos. A notícia também me trouxe à memória as fitas VHS — mas estas merecem uma crônica só delas.
Hoje, em respeito, encerro com as palavras escritas por meu filho Caio:
“Apesar da música na TV brasileira ter sido interpretada pelo grupo Angra, o ritmo e a melodia eram facilmente reconhecidos, independente da linguagem, e a nostalgia e as memórias de infância, quando a Rede Manchete era, sem dúvida, o melhor canal de TV do Brasil, correm para frente da mente com grande urgência. Meus mais sinceros sentimentos à família do sr. Yamada e meus mais sinceros agradecimentos pela sua contribuição.”
Nos encontramos nas próximas linhas!