Relatório da CPI das Bets revela fraudes e danos sociais

Foto: Reprodução das mídias - Divulgação: Notisul

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, no Senado Federal, apresentou nesta terça-feira (10) um relatório de 541 páginas que escancara os bastidores do mercado de apostas on-line no Brasil. Segundo a relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), foram identificados crimes como lavagem de dinheiro, evasão fiscal, estelionato, corrupção e manipulação algorítmica dos resultados, o que inclui inclusive apostas fraudulentas. O documento também alerta para o efeito devastador dessas plataformas na vida de famílias brasileiras, especialmente as mais pobres.

O relatório pede ações rigorosas como a criação de uma agência reguladora independente, um cadastro nacional de jogadores e limites severos à publicidade, além da responsabilização de influenciadores que promovem esse tipo de conteúdo de forma enganosa. Só em 2024, as bets movimentaram de R$ 89 a R$ 129 bilhões — valores próximos ao orçamento do Ministério da Educação.

Manipulação de resultados e jogos com algoritmos ocultos

A CPI destaca que os jogos mais perigosos para os brasileiros são os totalmente virtuais, como “jogo do tigrinho”, “ratinho” e “cobrinha”, que não têm qualquer relação com esportes reais. Esses jogos usam algoritmos não auditáveis, tornando impossível verificar se há ou não manipulação nos resultados.

“Esses jogos são 100% controlados por softwares ocultos e facilitam a lavagem de dinheiro”, alerta Soraya.

A relatora recomenda a proibição total desse tipo de jogo devido ao alto risco de fraude e uso para crimes financeiros.

Impacto econômico e social: dívidas e fome por causa das apostas

O relatório também chama atenção para os impactos sociais das apostas, especialmente entre as classes C, D e E. Famílias estão deixando de comprar alimentos e pagar contas básicas para continuar apostando. Um levantamento do Banco Central mostra que só beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas em 2024.

Veja os principais dados de impacto:

  • 23% deixaram de comprar roupas para apostar

  • 19% deixaram de comprar alimentos

  • 52% usaram dinheiro da poupança nas apostas

Esses dados mostram como o vício em jogos está desestruturando economicamente muitas famílias.

Influenciadores na mira: propaganda enganosa e crianças atingidas

A CPI também responsabiliza influenciadores digitais que promovem apostas como forma de renda fácil. Muitos são sócios das empresas ou recebem valores milionários para divulgar as bets, inclusive irregulares. A senadora destaca que esse tipo de publicidade é abusiva, direcionada até para crianças e adolescentes.

“Os anúncios fazem lavagem cerebral nos consumidores e sugerem que o jogo pode resolver problemas financeiros. Isso é criminoso”, diz o relatório.

Entre os indiciados estão as influenciadoras Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra, além de outras 14 pessoas e empresas.

Regulação urgente e criação de plataforma nacional de auditoria

O relatório final também faz uma série de recomendações para o governo federal, incluindo a criação da Plataforma Nacional de Auditoria e Monitoramento de Jogos de Azar (PNAMJA). A intenção é dar mais transparência e controle ao setor, impedindo abusos e crimes.

As propostas da CPI incluem:

  • Proibição dos jogos totalmente virtuais

  • Limites à publicidade, especialmente para menores

  • Auditoria obrigatória nos algoritmos das plataformas

  • Projeto de lei com regras mais duras para o setor

Apesar do impacto do relatório, a votação foi adiada por um pedido coletivo de vista feito por senadores.