quinta-feira, 7 agosto , 2025

Rio da Madre é um esgoto

Leonildo da Silva, 60 anos, nasceu em Tubarão. Trabalhou com agropecuária e também como soldador. Seu trabalho mais importante veio após a aposentadoria, quando começou com o movimento Salve o Rio da Madre. Tudo teve início na internet, com o blog Salve o Rio da Madre (http://salveoriodamadre.blogspot.com/). O trabalho de divulgação das condições do rio despertou a atenção da mídia, autoridades e Ministério Público (MP). Hoje, é feito um levantamento pelo MP sobre o número de casas em áreas de preservação permanente (APPs) no local.

"As pessoas de mais idade sabem que em beira de rio não se constrói. Até os meus 16 anos, eu nunca tinha visto uma pessoa que mora na Madre construir dentro do rio".

Karen Novochadlo
Tubarão

Notisul – Poderia contar um pouco da sua trajetória de vida? Por que esse interesse pelo meio ambiente?
Leonildo –
Quando voltamos de São Paulo para Tubarão, meu pai montou um ponto de táxi, que em seguida vendeu. Na Madre, não tinha ônibus, investimos neste negócio. Depois, trabalhamos com a criação de gado. Naquela época, tinha muita taboa e começamos a capinar. Um dia, quando eu tinha 17 anos, alguém colocou fogo no capim. Todo o trabalho que tivemos nos últimos anos foi jogado fora. Meu pai disse que eu teria que procurar um emprego na cidade. Fui para São Paulo. Quando voltei para Tubarão, trabalhei na antiga Otilar José Clima, na parte de estufa de fumo, como soldador. Depois, fui para a Souza Cruz, até a empresa fechar. A partir daí, eu comecei a prestar atenção em Tubarão e no meio ambiente.

Notisul – E como foi o início deste trabalho?
Leonildo –
Eu comecei a pesquisar a história dos rios. Conversei muito com o senhor Ivo Marcino, falecido aos 102 anos. Ele contava histórias sobre o Rio da Madre, nosso antigo Rio Tubarão. Infelizmente, eu não pude ter muito estudo, porque o meu pai João Antônio da Silva, o João Nini, teve dez filhos. Mas a experiência de vida fez com que eu abrisse a minha mente sobre o meio ambiente.

Notisul – Quando você resolveu fundar o movimento Salve o Rio da Madre?
Leonildo –
Tudo começou pela infelicidade do meu genro, Giovani Benedet, que sofreu um acidente e ficou dez meses de cama. Ele criou um blog “Eu vou me recuperar” (http://www.euvoumerecuperar.blogspot.com/). Um dia, ele criou um blog para mim sobre meio ambiente e o Rio da Madre. Eu comecei o trabalho de mobilização. Eu bato fotos, filmo, faço clipagem. Fico sempre de olho na câmara dos deputados, na assembleia Legislativa, na câmara de vereadores, para fiscalizar.

Notisul – Hoje, já se tem um movimento maior de recuperação do Rio Seco?
Leonildo –
Antes, quase não se falava do Rio da Madre. E, quando falavam, chamavam de Rio Morto, o que não é verdade, porque recebe diariamente as marés. O que falta mesmo é reabrir a nascente para ter água corrente. Infelizmente, hoje recebemos esgoto. O trabalho que eu faço é para que tenha água corrente e peixe.

Notisul – O senhor é uma figura assídua na câmara, sempre com uma filmadora. Por quê?
Leonildo –
Eu faço um acompanhamento. E sempre que alguém fala sobre meio ambiente eu gravo e coloco no meu blog. É uma forma de cobrar depois. Há um ano, na margem direita do Rio Tubarão, tudo era alagado. Eu comecei a observar nos bairros porque acumulava tanta água. As valas estavam entupidas Bati umas 50 fotos e levei para a câmara. As fotos foram mostradas no plenário. Hoje, se você for no bairro Recife até o Congonhas, observa que as valas estão limpas. E a limpeza é feita a cada três meses.

Notisul – Você já pensou em se candidatar a um cargo político?
Leonildo –
Não. Eu não tenho vínculo nenhum com política partidária. Eu não quero me candidatar ou trabalhar para candidatos. Eu faço o trabalho voluntário porque gosto. Em campanhas, candidatos fazem mil promessas, mas, quando chegam ao cargo, percebem que é totalmente diferente. Eu vejo isso. Há dez anos que eu acompanho a câmara. Em vez de ir ao bar tomar uma cerveja com os amigos, eu prefiro ir à câmara. E, se alguém pergunta para mim em quem eu indicaria, respondo: ‘Vá à câmara para avaliar o trabalho do seu candidato faz. E decida’.

Notisul – Qual o maior problema da Madre?
Leonildo –
Quando eu falo da Madre, falo do bairro Campestre até o fim da Madre. Vamos começar o problema pelo esgoto, que não é tratado. Muitos não têm fossa. Tudo é jogado para o rio. Isto é feito tanto por quem mora na margem do rio, quanto por quem vive no outro lado da Estrada Geral da Madre (ao lado do rio). Outro problema é as pontes irregulares, que assoream o rio.

Notisul – Existem esses problemas de cheia na Madre.
Leonildo –
Todos sabem que quando o Rio Tubarão sobe aproximadamente quatro metros, a Madre alaga. E, pelo menos quatro quilômetros da estrada ficam debaixo d’água. Essas pessoas que são socorridas pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros não eram para ter casa ao lado do rio. Se observar, algumas casas à beira da estrada são altas, feitas com aterro. Quando a água for na casa de madreiro antigo, os bairros Recife e Santo Antônio de Pádua estão alagados. Já sugerimos ao vice-prefeito Pepê Collaço para levantar a estrada da Madre na altura dos aterros, para que não fique alagada. O rio, em hipótese alguma, podemos fechar.

Notisul – Seu pai é uma figura bastante conhecida na Madre. Como ele montou uma linha de ônibus na Madre?
Leonildo –
Como eu já disse, o pai tinha um táxi. Um dia, conversando com os amigos, ele percebeu que o pessoal tinha uma dificuldade em se locomover na Madre. Ele foi à empresa de ônibus, que cedeu a linha. Comprou um ônibus bem antigo, que apelidaram de jaburu. Meu pai saía às 7 horas da manhã da Madre e passava pelo Passo do Gado. Retornava ao meio-dia. À tarde, fazia o mesmo trajeto. O pai também fundou a Cooperativa do Campo d’eira na Madre.

Notisul – Quando você sentirá que o seu trabalho está concluído?
Leonildo –
Às vezes, eu fico desesperado. O secretário de urbanismo da prefeitura, Carlos Ghislandi, garante que há projeto. Mas eu nunca vi. O presidente da Fatma, Murilo Flores, esteve em Tubarão quando o governador Raimundo Colombo veio para cá. Na época, Murilo Flores visitou o Rio Seco e assustou-se com o que viu. Ele disse ao governador que seria prioridade mandar uns engenheiros para Tubarão para fazer um estudo do rio com urgência. Até hoje eu espero essa prioridade. Isto foi filmado.

Notisul – Você estava em Tubarão na enchente de 1974?
Leonildo –
Sim. Nós saímos da casa do meu pai e socorremos as minhas irmãs. As levamos para a Igreja de Santa Rita, na comunidade de Anita Garibaldi. Depois, eu e meu pai fomos para casa dormir. Antes de dormir, vimos que o rio estava começando a chegar à estrada. Às 5 horas, levantei e me assustei porque tinha água dentro de casa. Às 7 horas, pegamos bateiras e saímos. Na época, a Capitania dos Portos subiu o rio para socorrer algumas pessoas. Quando chegamos à igreja, por volta das 16 horas, todos nos abraçaram. Por isso que eu digo: torço para que não aconteça uma enchente igual à de 74, será pior. Hoje, o rio tem mais velocidade. Quem salvará o pessoal da Madre, com as pontes malfeitas trancando o rio? Não sobe mais nada lá.

Leonildo por Leonildo
Deus: É tudo.
Família: Amor.
Trabalho: Dedicação.
Passado: Boas recordações.
Presente: Muito trabalho para atingir os objetivos.
Futuro: Um rio na Madre com água corrente e muito peixe.

"A diferença entre o Rio da Madre de hoje e da minha infância é a mesma de se mergulhar em uma piscina tratada, em que eu sei que a água não vai me fazer mal, e mergulhar numa fossa. O que acontece se eu mergulhar em uma fossa? Hoje, o Rio da Madre é assim".

 

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