Rosa de Ouro: as ligações do Papa Leão XIII com a Princesa Isabel do Brasil

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A escolha do novo Papa representa não apenas uma transição espiritual e institucional, mas também a construção simbólica de uma nova etapa para a Igreja Católica. Ao assumir o nome de Leão XIV, o cardeal norte-americano Robert Prevost estabelece um elo com uma linhagem de pontífices que marcaram momentos de firmeza doutrinária e centralidade da autoridade papal.

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Isso, de certa forma, dá o tom do trabalho para o Papa Leão XIV e o simbolismo do nome escolhido, pois remete diretamente a Leão XIII, pontífice conhecido por enfrentar os desafios da modernidade com uma visão social pioneira (encíclica Rerum Novarum), e também ao conturbado pontificado de Leão X, no início do século XVI, em plena efervescência da Reforma Protestante. O nome foi anunciado do balcão central da Basílica de São Pedro, gesto carregado de significado diante de uma Praça lotada e um mundo atento à direção que a Igreja tomará.

O Papa Leão XIII presenteou a Princesa Isabel com a Rosa de Ouro, símbolo máximo da Igreja Católica, em setembro de 1888, como reconhecimento por sua liderança na abolição da escravidão no Brasil. O gesto reforça o apoio do Vaticano à liberdade e destaca a figura da princesa como defensora dos valores cristãos e da justiça social.

Um gesto histórico que reconheceu o fim pacífico da escravidão

Em 29 de maio de 1888, duas semanas após a assinatura da Lei Áurea, o Papa Leão XIII enviou uma carta à Princesa Isabel na qual exaltava sua coragem, fé cristã e sensibilidade diante da causa abolicionista. Em setembro do mesmo ano, o pontífice concedeu-lhe a Rosa de Ouro, uma honraria raríssima da Igreja Católica, entregue somente a personalidades com méritos extraordinários.

O presente foi consagrado no altar da Basílica de São Pedro e chegou ao Brasil em 28 de setembro, mesmo dia da promulgação da Lei do Ventre Livre, anos antes, em 1871. A cerimônia de entrega foi realizada na Capela Imperial, mas a Rosa foi mantida pela princesa em sua capela particular e levada ao exílio após a Proclamação da República. Hoje, está exposta no Museu de Arte Sacra da Catedral de São Sebastião, no Rio de Janeiro.

Papa Leão XIII elogiou o Brasil por abolir a escravidão sem guerras

O Papa considerava o Brasil um modelo de nação pela forma pacífica com que extinguiu a escravidão. Em comparação, o Haiti e os Estados Unidos viveram guerras sangrentas pelo mesmo motivo. Para Leão XIII, a abolição no Brasil demonstrava o poder da fé e da política bem conduzida.

  • Declaração pública do Papa em março de 1888 condenou a escravidão
  • Carta à Princesa Isabel exaltava a dignidade humana e a liberdade
  • Rosa de Ouro foi concedida por mérito cristão e político

A fé católica orientava as ações da princesa Isabel

A princesa Isabel foi guiada por uma fé católica intensa e firme. Em novembro de 1887, Joaquim Nabuco viajou à Europa e conseguiu o apoio direto do Papa Leão XIII ao movimento abolicionista. Essa posição reforçou ainda mais a decisão da princesa, que passou a promover manifestações públicas, como a Batalha de Flores em Petrópolis, distribuindo panfletos abolicionistas.

Segundo André Rebouças, essa foi sua primeira ação pública pela abolição. Seu abolicionismo era pautado na visão da Igreja: libertar de forma ordeira, pacífica e com inserção social dos libertos.

Rosa de Ouro também foi gesto de enfrentamento político

Embora profundamente admirada por muitos, a proximidade de Isabel com o Papa incomodava setores maçônicos da elite brasileira. Temia-se que, ao assumir o trono, ela submetesse decisões nacionais às diretrizes papais. A Rosa de Ouro foi vista, por esses grupos, como um sinal de submissão ao Vaticano — o que agravou as tensões entre a Igreja e os liberais laicos e maçons da época.

Apesar das pressões, Isabel manteve-se fiel à sua fé. Ao receber a Rosa de Ouro, jurou obediência ao Papa, gesto que marcou seu compromisso com a doutrina social da Igreja e reforçou seu legado como uma das principais líderes abolicionistas do século XIX.