Tubarão/Lysiê Santos
A saúde pública do Estado anda com uma grave doença e precisa de tratamento urgente, antes que o problema se agrave. E falando em urgência, ontem um fato inusitado causou transtornos e filas de espera no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), em Tubarão. Em função da paralisação dos hospitais da região, que enfrentam crises financeiras, como o hospital de Laguna e Araranguá, pela primeira vez, em 113 anos de fundação, o HNSC teve que fechar as portas para receber pacientes transferidos de outras unidades e do Samu. A instituição decretou superlotação da emergência e emitiu comunicado interrompendo novos atendimentos. Em 48 horas, a unidade chegou a receber 566 pacientes, enquanto a média é em torno de 200 atendimentos por dia.
Imagine a cena de uma emergência hospitalar lotada? Agora passe para superlotada? Macas preencheram o estreito corredor da unidade, a UTI permaneceu superlotada, cirurgias foram canceladas, pacientes tiveram que ser transferidos… O verdadeiro caos. Ao decorrer do dia, casos de menor complexidade receberam alta e novos leitos ficaram disponíveis para atender a alta demanda. Após a ‘confusão’ pontual, o hospital emitiu um novo comunicado regularizando os atendimentos de casos trazidos pelo Samu.
O HNSC é o maior hospital em número de leitos de Santa Catarina com 386, sendo 280 para casos do SUS. Para suprir a superlotação, o corpo clínico recebeu reforço e deu continuidade aos procedimentos. “Os problemas enfrentados pelos hospitais da região afetaram o HNSC. Tivemos que fazer o papel de quase três instituições em uma. Isso só comprova a falência do sistema de saúde e é necessário um posicionamento urgente do Estado antes que essas superlotações ocorram novamente”, afirma o diretor técnico da instituição Cristiano Ferreira.
Promessas
HNSC aguarda recursos do Estado
O hospital, que é referência em casos de alta complexidade, em humanização e assistência conta atualmente com 1.342 colaboradores e realiza mais de oito mil atendimentos de emergência e cerca de 900 cirurgias por mês. A complexa e imponente estrutura necessita de reformas, entre elas a mudança do Pronto-Socorro, que fica no subsolo e deve passar para o térreo. A instalação antiga apresenta condições precárias e a direção aguarda recursos do governo do Estado para iniciar as obras. “Recebemos a promessa do governador e do vice que o Estado repassará cerca de R$ 7 milhões para a execução das reformas. Estamos aguardando o retorno”, conta a diretora executiva da instituição, Patrícia de Toledo.
Instituição comemora 113 anos de funcionamento em Tubarão
Apesar dos percalços e desafios enfrentados pelo HNSC nos últimos dias, a semana encerrará com festa. Moradores de Tubarão e região terão a oportunidade de comemorar os 113 anos de fundação do Hospital Nossa Senhora da Conceição amanhã, a partir das 13h30, em frente à unidade. Dentre as atividades, está a produção de um bolo de 113 metros que será oferecido à população.
“Mesmo com os impasses, temos muitos motivos para comemorar. São 113 anos de conquistas e nada melhor que festejar com a comunidade que faz parte da história dessa instituição. Fazer a vida acontecer é nossa tradição e, compartilhar e celebrar essa missão com os tubaronenses e moradores da região é nosso maior objetivo”, destaca a direção. As comemorações do aniversário da instituição, que celebra também o Dia da Imaculada Conceição, iniciam com uma missa em ação de graças presidida pelo capelão Nivaldo Antonio Ceron, às 10h30, na capela do HNSC, para o público interno. No início da tarde, às 13h30, uma bênção da instituição, irmãs, colaboradores, médicos, voluntários e comunidade, presidida pelo Bispo Dom Francisco Salm, será realizada em frente à Portaria Central, juntamente com a população presente. Um Abraço coletâneo no HNSC também é organizado para este dia com a participação de voluntários, colaboradores e da comunidade. Logo após, será feita uma peregrinação com a imagem da Imaculada Conceição que sairá do HNSC e percorrerá até a avenida Marcolino Martins Cabral, local onde será servido o bolo.
A realização do evento será possível graças ao envolvimento da comunidade, parceiros e autoridades. A direção do HNSC, conta com o apoio da prefeitura de Tubarão, Guarda Municipal, Exército Brasileiro, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, além de empresas como Giassi Supermercados e GAM, que doaram o bolo do tamanho nunca visto na região.
Paralisação continua no hospital de Laguna
A greve do corpo clínico do Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos, em Laguna, iniciada na última sexta-feira, segue sem previsão de encerramento. Nesta terça-feira, a direção da instituição se reuniu com a prefeitura, Ministério Público, Conselho Municipal de Saúde e Sindicato dos Médicos, com o objetivo de solucionar o impasse da paralisação. O prefeito Mauro Candemil explicou que o poder público não dispõe de mais recursos para injetar no hospital, que tem uma dívida com os médicos na ordem de R$ 1,2 milhão. A diretora da entidade, Regina Ramos, admitiu que há um problema de gestão e coloca o hospital de portas abertas para que haja uma auditoria.
O Ministério Público se manifestou, após ouvir atentamente todos os questionamentos, relatando que se trata de um processo de descaso com o hospital o qual se arrasta por longos anos e que medidas enérgicas devem ser tomadas no intuito de enxugar as despesas para que as contas possam fechar.
Após o debate, a prefeitura decidiu bonificar a entidade com mais R$ 75 mil, a ser depositado no mês de janeiro, para despesas extras de fim de ano. Além de disponibilizar mais R$ 20 mil nos meses de: janeiro, fevereiro e março, onde o convênio passará de R$ 75 mil para 95 mil, nesses meses. Apesar do aumento no repasse, a direção da instituição não entrou em um acordo com o corpo clínico. “A paralisação está mantida por tempo indeterminado. Estamos preocupados com o descaso por parte das lideranças. Não recebemos nenhuma resposta concreta da direção e os problemas na saúde da região vão continuar”, afirma o advogado do Sindicato dos Médicos de Laguna, Erial Lopes de Haro. A unidade permanece apenas com atendimento de casos graves.
