“Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi” (Jo 15,16)
“Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: Senhor, eu te seguirei para onde quer que vás. Jesus respondeu-lhe: as raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. A outro disse: segue-me. Mas ele pediu: Senhor permita-me ir primeiro enterrar meu pai. Mas Jesus disse-lhe: deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus. Outro ainda lhe falou: Senhor, eu te seguirei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa. Mas Jesus disse-lhe: aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus”.
(Lc 9,57-62).
O texto bíblico citado refere-se ao tema do discipulado, ou seja, do chamado e do seguimento de Jesus. O primeiro e o terceiro personagem da história expressam o desejo de seguir Jesus. O segundo vocacionado, porém, é Jesus quem chama. Pode-se perceber que o Senhor da Messe não deixa de chamar e também colocar condições para o seguimento. Não basta querer, é necessário ser chamado e aderir ao método proposto por Jesus. Por isso, que sempre se insiste muito em dizer que “é o Senhor que chama”: isto é vocação.
Refletindo, a partir da Sagrada Escritura, pode-se ver que o primeiro personagem demonstra disposição total para seguir Jesus, entretanto, desconhece as condições do seguimento. O segundo, ao ser chamado, coloca em primeiro lugar os pais (já que, se ele quer sepultar, significa que vai esperar a morte dos genitores, pois não se sabe quando isso acontecerá). Por fim, o terceiro, condiciona o seguimento à despedida dos familiares.
O evangelista Lucas não descreve o modo como cada um dos personagens responde ao chamado. Não se sabe se o primeiro realmente seguiu Jesus, sem garantias nem mesmo de hospedagem; se o segundo confiou o cuidado de seus pais a outros e foi cuidar da grande família de Deus; e se o terceiro também conseguiu sentir-se família, na família dos seguidores de Jesus. O fato de não se saber o que cada um deles decidiu fazer ensina que, quem deseja seguir Jesus e se sente chamado, continua com a liberdade de escolha e opção de seguir o chamado ou dele fugir, justificando-se de diversos modos.
O discípulo necessita ser livre para seguir Jesus. Segui-lo requer renúncia. A liberdade, por um lado, é dom, por outro, exigência. Frente à exigência do seguimento, muitos preferem a não liberdade de espírito, tanto em suas relações interpessoais quanto na estrutura socioeconômica. Decidem permanecer amarrados, embora, conscientemente, escolham seguir Jesus.
“Qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33). Não se trata, aqui, de renunciar por renunciar, mas tendo em vista a liberdade de filhos e filhas de Deus. O seguimento nos assegura a plena liberdade e, para que ela exista, é imprescindível renunciar a tudo o que impede a realização plena do seguimento.
Que o espírito do Senhor nos converta em pessoas cada vez mais desapegadas de nós mesmos e de tudo aquilo que nos impede de seguir Jesus, de modo especial no mês vocacional, pois “ser cristão é um caminho, ou melhor, uma peregrinação, um caminhar juntamente com Jesus Cristo. Ir naquela direção que Ele nos indicou e indica” disse, em 2010, o papa Bento 16.