Procura por informações relacionadas a tragédias está cada vez mais em alta e revela o estado emocional das pessoas nos últimos tempos, principalmente na era Rede Social.
Lysiê Santos
Tubarão
Vivemos em uma corrida contra o tempo na busca de atender a todos os padrões “impostos” pela “sociedade do espetáculo”, onde tudo repercute nas redes sociais. Milhões de internautas passam o dia postando fotos de todas as suas ações e lugares visitados, na tentativa de provar que conquistou um “corpo perfeito” e tem uma vida “feliz” em um sistema onde cada vez mais há um enfraquecimento dos laços amorosos, e tudo se resume em sucesso pelo consumo e pela acumulação de bens.
Nessa corrida também é notória a necessidade de estar informado sobre qualquer situação que todos estejam comentando. E o que mais assusta é a grande atração por notícias trágicas, como acidentes e mortes. O veículo de comunicação Notisul tem constatado essa estatística por meio de seu Portal e suas redes sociais. As matérias que mais atraem leitores são as relacionadas a tragédias.
Um exemplo recente foi a divulgação da morte de duas jovens no último fim de semana. A informação do falecimento da assistente de educação Bruna Ceolin, de Capivari de Baixo, causada por acidente de trânsito, gerou mais de duas mil curtidas e quase 400 compartilhamentos na rede social do Portal Notisul em poucas horas. Já a morte da jovem Giovana Kulckamp, a Gigi, de Jaguaruna, que desde os 5 anos lutava contra a fibrose cística, ganhou quase três mil curtidas e mais de 600 compartilhamentos e centenas de comentários de pessoas que nem conheciam a jovem, mas se sensibilizaram com a causa.
É preocupante analisar que notícias negativas que envolvem a morte e até mesmo o suicídio, que aumentou consideravelmente com a repercussão do jogo “Baleia-Azul”, e até então era considerado um tabu e não era divulgado na mídia, hoje é um dos assuntos mais discutidos entre a população e tem mudado as regras do jornalismo.
Coach fala sobre as dificuldades de se lidar com sentimentos
A coach de vida e especialista em Relações Humanas, Vivian Tamai, relata que existem várias interpretações para a preferência da população por informações que tenham alguma conotação trágica. Um destes possíveis motivos seria que ao se deparar com o fato trágico alheio, dá a sensação de que a sua situação pessoal não é tão ruim, e te distrai dos seus próprios problemas. “A carência humana que nos últimos 40 anos vem nos acometendo… pessoas que cada vez mais necessitam estar fora de suas casas para conseguir seus sustento, pouco ‘olho no olho’, sentimentos de sombras que não sabemos lidar como medo, raiva, tristeza e o principal de todos, usando uma frase de Louyse Hay: “somos vítimas de vítimas”. Se não lidarmos com tudo isso e sempre colocarmos no outro a ‘culpa’ de nossa dores, a tendência é perigosa”, pontua.
Estudos revelam que quando a pessoa passa por um momento desconfortável, ao ver uma notícia ruim, ou uma tragédia, ela acaba percebendo que existem pessoas que estão sofrendo mais do que ela no momento, o que não deixa de ser um conforto no seu momento de sofrimento. Para a coach, buscar objetivos concretos de vida pode auxiliar no equilíbrio emocional. “Pessoas focam apenas nas incertezas e desesperanças. Ter objetivos positivos é renovação de vida e sem lembrar negatividades. Ninguém luta para salvar sua vida pensando na crise econômica, jogos infundados pela internet ou guerras mundiais”, reflete.
A especialista
Vivian Tamai é coach de vida especialista nas Relações Humanas, coach empresarial, e empresária. Pós-graduada em Marketing e Vendas, atuou como trainer dale carneie curse e está em Core para instrução Master Mind (Treinamentos de Alta Performance). Ela também é voluntária do CVV nas regiões da Amrec e Amurel.
Suicídio aumenta na região
Crise econômica, desemprego, cobranças, relacionamentos superficiais. São diversas as causas que podem levar uma pessoa ao suicídio, que hoje está presente entre as dez causas de morte em todo o mundo. A taxa cresceu 60% desde os anos 1980, no Brasil. Na região, o município de Braço do Norte tem registrado uma alta taxa de suicídio nos últimos tempos, o que levou à implantação do Centro de Valorização da Vida (CVV). A entidade, sem fins lucrativos, presta importante serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio para todas as pessoas que necessitam conversar, com a garantia de total sigilo.
A especialista Vivian Tamai atua como voluntária do CVV na região e atende centenas de pessoas que lidam com o problema. “O suicídio é um assunto tabu, extremamente polêmico e que deve ser tratado com respeito. Minha experiência como voluntária há quase um ano no CVV, e mais de 1,8 mil atendimentos, diria que a carência humana é cada vez mais crescente”, constata.
O CVV
A missão do Centro de Valorização da Vida, como seu nome sugere, é valorizar a vida. Sua principal iniciativa é o Programa de Apoio Emocional realizado por telefone, chat, e-mail, VoIP, correspondência ou pessoalmente. O atendimento é gratuito e funciona 24 horas na maioria das cidades em que há uma unidade. As pessoas podem conversar sobre todos os assuntos que considerarem importantes. Como o serviço é anônimo, o CVV não tem identificador de chamada e os voluntários não pedem dados pessoais dos que buscam ajuda. Em Braço do Norte, a sede do CVV fica anexa ao prédio do Samu, na rua Senador Nereu Ramos, ao lado do Caps. Temporariamente, o telefone para atendimento é o (48) 3658-2646. Em breve, o número 141 já estará em funcionamento.
60%
foi o aumento na taxa de suicídio desde 1980 e contabiliza-se 11.821 mortes no último levantamento global em 2012.
10%
foi o aumento da taxa de suicídios. Na população de 15 a 29 anos subiu de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014.
8º
O Brasil de dimensões continentais ganha visibilidade nos relatórios: é o oitavo país com maior número de suicídios no mundo, segundo ranking divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2014.
43
suicídios foram registrados na região em 2016, e 11 já contabilizados neste ano.

