quarta-feira, 23 julho , 2025

A fragilidade de um ajuste fiscal às custas do desenvolvimento e do bem-estar social

O anúncio desta sexta-feira, dia 30, do congelamento de R$ 31,3 bilhões no Orçamento da União de 2025 pelo governo Lula, com bloqueios que atingem diretamente áreas essenciais e investimentos estruturais, evidencia as contradições e fragilidades da condução da política econômica do país. O esforço ostensivo para cumprir a meta de déficit zero, que mais parece uma camisa de força imposta pela ortodoxia fiscal, revela um governo acuado entre o compromisso com o equilíbrio das contas públicas e a necessidade premente de estimular o crescimento econômico e preservar políticas sociais.

O congelamento — que inclui R$ 10,6 bilhões bloqueados e R$ 20,7 bilhões contingenciados — é uma medida drástica motivada por fatores que, em grande medida, não dependem exclusivamente da gestão do Executivo, como o aumento de gastos previdenciários, a não compensação da desoneração da folha, a greve dos auditores da Receita Federal e, sobretudo, a política monetária restritiva conduzida pelo Banco Central. A taxa Selic, que alcançou impressionantes 14,75% ao ano, é o maior obstáculo ao crescimento, impondo um ambiente de crédito caro, retração do consumo, desaceleração do PIB e elevação brutal do custo da dívida pública.

Nesse contexto, o ajuste fiscal tem se dado principalmente por cortes e contingenciamentos que penalizam políticas públicas e investimentos estratégicos. Ainda em março, o governo cortou R$ 7,7 bilhões do Bolsa Família — medida justificada sob o argumento de saneamento do programa e combate a fraudes —, ao mesmo tempo em que ampliou em R$ 3 bilhões o Auxílio-Gás. A escolha de cortar uma política social amplamente reconhecida, ainda que parcialmente compensada, gera um sinal preocupante sobre as prioridades da política econômica.

A decisão mais recente, que resultou em um bloqueio linear de quase 25% das despesas discricionárias, atingiu particularmente ministérios como Agricultura, Turismo e Cidades, além de impor um corte de 15% no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Essa redução compromete diretamente a capacidade do Estado de realizar obras e investimentos estruturais imprescindíveis para o desenvolvimento do país. Não por acaso, a estimativa de crescimento do PIB foi reduzida de 3,4% para 2,3% em 2025.

A preservação do orçamento da Educação é um alento, apesar da grave situação das universidades federais, mas a redução de R$ 5,9 bilhões na Saúde — ainda que proporcionalmente menor — compromete a já combalida capacidade do sistema público de saúde em um cenário de inflação de serviços e medicamentos. O corte nas emendas parlamentares (RP7), embora tecnicamente justificável, tende a gerar tensões políticas adicionais, minando a base de apoio do governo no Congresso e dificultando a aprovação de outras pautas essenciais.

Por outro lado, é inevitável reconhecer que o governo se encontra prisioneiro de uma armadilha fiscal: para cumprir a meta de déficit zero — que conta com uma margem de tolerância de R$ 31 bilhões —, desenhada pelo próprio governo antes da posse do presidente Lula, precisa cortar onde há mais flexibilidade, isto é, nas despesas discricionárias. Contudo, ao fazê-lo, mina a capacidade do Estado de induzir crescimento, gerar emprego e melhorar a qualidade de vida da população. O resultado é um círculo vicioso: cortes que inibem o crescimento, que reduz a arrecadação, que força novos cortes.

Não menos grave é o impacto da política monetária adotada pelo Banco Central. Mesmo com a indicação do presidente Lula de Roberto Galípolo para a presidência da instituição, o ciclo de elevação da Selic não foi revertido, após a saída do critica Campos Neto, mantendo-se no maior patamar em quase duas décadas. A justificativa segue sendo o combate à inflação persistente, mas o remédio parece mais nocivo do que a doença: juros elevados encarecem o crédito, retraem o consumo e os investimentos, elevam o custo da dívida pública e sufocam a atividade econômica, sem produzir os efeitos desejados no controle da inflação, que segue resistente.

O aumento adicional do IOF, que elevou ainda mais o custo efetivo do crédito, funcionando na prática como uma Selic próxima a 15,25% ao ano, agrava a recessão induzida pela política monetária. O resultado é um quadro de estagnação, com prejuízos evidentes para o mercado de trabalho, a renda das famílias e a competitividade das empresas brasileiras.

Em síntese, a condução da política econômica brasileira em 2025 expõe uma clara dissociação entre o rigor fiscal e a promoção do desenvolvimento. O governo, ao mesmo tempo em que critica o Banco Central e sua política de juros, não conseguiu alterar de forma significativa a trajetória da política monetária, optando por um ajuste fiscal que penaliza investimentos e políticas sociais fundamentais. Trata-se de uma estratégia arriscada, que pode resultar não apenas no não cumprimento da meta de déficit zero — dado que as projeções ainda indicam possibilidade de déficit entre R$ 50 bilhões e R$ 97 bilhões —, mas também em mais pobreza, desigualdade e perda de dinamismo econômico.

O Brasil precisa urgentemente romper com a lógica do ajuste pelo corte cego, adotando uma estratégia que combine responsabilidade fiscal com políticas de estímulo ao crescimento, à geração de empregos e à redução das desigualdades. Persistir na rota atual é escolher um caminho de mediocridade econômica e injustiça social.

Continue lendo

I-See: tecnologia Volvo FH que antecipa relevo da estrada

A Volvo implementou no modelo FH o sistema I-See, uma tecnologia de leitura de relevo em tempo real. Utilizando inteligência artificial, sensores e conectividade...

Lagunense que lutava na guerra da Ucrânia morre aos 31 anos

A família de Gustavo Viana Lemos, de 31 anos, natural de Laguna, confirmou nesta terça-feira (22) sua morte durante missão como voluntário no exército...

Focos do mosquito da dengue seguem estáveis em Tubarão

Tubarão registrou estabilidade nos números relacionados ao mosquito Aedes aegypti nesta semana. De acordo com a Vigilância Sanitária, os focos subiram levemente de 768...

Como fazer o morango do amor

Visual irresistível, sabor marcante e uma pitada de nostalgia. Assim é o morango do amor, doce que virou tendência nas redes sociais e se...

Vencedor do Nobel de Economia elogia o PIX e afirma que Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro

O economista norte-americano e vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, publicou nesta terça-feira (22) um artigo no site Substack no...

Angeloni Tubarão tem vagas com efetivação imediata; seleção acontece nesta quinta

O supermercado Angeloni de Tubarão está com vagas abertas para contratação com efetivação imediata. A seleção será realizada nesta quinta-feira, 24 de julho, das...

Santa Catarina terá tempo nublado e com chuva entre quarta e sexta-feira

A chegada de instabilidades ao estado de Santa Catarina provocará mudanças nas condições do tempo entre quarta-feira (23) e sexta-feira (25). O tempo nublado...
×

Olá!

Clique no contato abaixo para conversar conosco.

× Converse no Whatsapp