Uma das perguntas mais frequentes que recebo em sala de aula, quando trabalhamos o livro Sua Majestade: Donna Locomotiva, é sobre a escolha do nome da personagem que inclusive, ilustra a bela capa.
Até a semana passada, a resposta era simples:
“Catarina nasceu de um sonho que eu tinha em viajar pelas cidades do estado, trazendo temas, lugares e fatos históricos. Por isso, recebeu o nome inspirado em Santa Catarina.”
Catarina apareceu pela primeira vez no meu livro A Casa de Lata Quadrada, apresentando Urubici, cidade da serra catarinense. Naquela época, eu previa que a pequena viajante visitasse Tubarão, Laguna, Pedras Grandes e Curitibanos. A menina retornou, porém, no meu terceiro livro, Sua Majestade: Donna Locomotiva, apresentando, de forma lúdica, a história da Ferrovia Tereza Cristina e do Museu Ferroviário de Tubarão.
Mas, nesta semana, descobri que Catarina escapou das minhas mãos e seguiu sozinha pelos trilhos das letras — muito bem acompanhada, aliás. Com sua alegria e amor pelas histórias, passou a colaborar com professoras no processo de alfabetização, em projetos pedagógicos, feiras literárias, saraus, livros de recontos, peças teatrais, musicais e até composições musicais.
Catarina cresceu. Tornou-se bailarina, atriz, contista, desenhista, declamadora, escritora — e talvez tudo o que o coração de uma professora entusiasta e uma criança leitora puder imaginar.
“Por um instante, talvez por presunção, pensei que Catarina estivesse à espera de um novo livro, de um novo comando meu. Mas ela mostrou que não depende mais de mim.”
Seguindo o curso natural da vida e da arte, a pequena cresceu e se fez independente, aceitando cada ideia que lhe é proposta, reinventando-se em cada mão que a abre, em cada olhar que a lê.
As notícias chegam de todos os lados, e eu, curiosa, corro para consultar o mapa ferroviário no meu livro, tentando adivinhar em qual cidade a menina de personalidade tão forte está agora. Ao mesmo tempo, ouço histórias de visitantes que chegam ao Museu Ferroviário, guiados por essa viajante incansável. Dizem que, em sua fala leve, ela conta que “muitas pessoas daqui do Sul devem ser apaixonadas por trem” — e parece descobrir isso a cada parada.
A professora Raquel, de Pescaria Brava, escolheu trabalhar com o livro Sua Majestade: Donna Locomotiva em 2025. Encantada pela história e pela personagem, de quem se tornou amiga, resolveu extrapolar os muros da escola e os limites da leitura, para quem ainda pense que exista algum. Este ano, ao sair dos trilhos, ela e seus alunos bordaram uma nova história.
Raquel convidou Catarina para visitar as famílias dos alunos, levando consigo uma maleta cheia de livros.
O livro era escolhido, a leitura realizada, e durante a semana alguém da família, com o filho ou a filha, compartilhava na escola, a experiência de receber a pequena personagem — com o objetivo de espalhar a leitura como quem espalha sementes.
Em uma das casas, a emoção foi tão grande que todos ainda comentam o que aconteceu.
Ao receber Catarina, o avô da pequena Valentina, seu José, ficou curioso. Quis saber de onde vinha aquela encantadora entregadora de livros. Ele, que fora um dos mecânicos mais apaixonados pela ferrovia, não conteve a emoção ao descobrir a origem da menina. Correu para pegar uma fotografia antiga e mostrou-a para Catarina: ele e a equipe, na oficina das locomotivas.
Conversaram horas e horas sobre aquele tempo. Catarina prometeu voltar para mostrar o livro da Ferrovia do qual ela fazia parte e, por um instante, o som da locomotiva pareceu ecoar de novo no quintal da casa.
“Uma semana depois, a família retornou à escola para contar a experiência da leitura — e do encontro entre gerações que uma menina de papel foi capaz de provocar.”
Catarina, que um dia nasceu de um sonho, agora caminha livre pelos sonhos dos outros.
E eu, sua primeira autora, sigo apenas observando — maravilhada com o poder que a leitura tem de transformar palavra em presença, história em afeto, e imaginação em vida.
Nos encontramos nas próximas linhas!