“Cada macaco no seu galho” — e a bagunça dos galhos na política brasileira

ARTE Gerada por IA Notisul

A expressão popular “cada macaco no seu galho” é uma daquelas pérolas da sabedoria popular que, embora simples, traduz uma profunda lição de organização e respeito à hierarquia e de competências. Seu significado é claro: cada pessoa deve cuidar do que lhe compete, agir dentro do seu campo de atuação e conhecimento. Quando isso não acontece, o resultado é o caos — e poucos cenários retratam melhor esse desarranjo do que a atual conjuntura política brasileira.

Nos últimos anos, e com intensidade ainda maior neste 2025, temos assistido a um preocupante embaralhamento de funções entre os Três Poderes da República. O Supremo Tribunal Federal (STF), cuja missão constitucional é zelar pela legalidade e pela Constituição, tem avançado sobre competências que, pela Carta Magna, cabem ao Legislativo e ao Executivo. Decisões monocráticas — ou seja, tomadas por um único ministro — têm interferido em políticas públicas, na condução do governo federal e na autonomia de estados e municípios.

Essa judicialização da política e politização do Judiciário é sintoma de um país em que os galhos estão sendo trocados e os macacos parecem confusos — ou oportunistas. Exemplo claro disso está na interferência direta da Justiça nas câmaras de vereadores de municípios como Laguna, Armazém e, mais recentemente, Pedras Grandes. Em todos os casos, decisões judiciais impediram ou atrasaram o processo legítimo de escolha dos presidentes das casas legislativas. Em Pedras Grandes, o impasse é tão grande que a câmara está sem comando, num vácuo institucional que só favorece a desordem.

Não bastasse a confusão entre os galhos institucionais, há também desordem interna nos próprios macacos — ou melhor, nas bancadas políticas. O recente caso de Capivari de Baixo é emblemático: o prefeito Claudir Bittencourt, recém-eleito, foi afastado pela própria câmara de vereadores, após denúncia de contratação irregular na Secretaria de Educação. Uma semana de agitação e o prefeito retorna ao cargo. Mas a imagem está arranhada, foi gerada uma crise entre Câmara e Executivo municipal, com olhares atravessados. O que se quebrou aqui terá conserto? O mais espantoso: vereadores da base aliada, eleitos com o apoio do prefeito, votaram pelo seu afastamento. Falta de fidelidade? Talvez. Falta de compromisso? Certamente. Falta de entendimento sobre o papel de cada um? Com certeza absoluta.

A crise é, portanto, dupla: de competências e de condutas. Quando os Poderes da República invadem atribuições uns dos outros, perdem-se os freios e contrapesos que garantem o equilíbrio democrático. Quando os parlamentares abandonam o compromisso com o mandato e com a coerência política, perdem-se os princípios que sustentam a confiança da população.

“Cada macaco no seu galho” não é apenas um ditado; é um apelo à racionalidade, ao respeito institucional e à integridade ética. Que os ministros do Supremo cuidem da Constituição, que os parlamentares legislem com firmeza e fidelidade aos eleitores, e que o Executivo governe com responsabilidade. Que todos respeitem seus galhos, para que a árvore da democracia brasileira não desabe de vez.