Em 1816, René Laennec inventou o estetoscópio. Um tubo de madeira simples, mas revolucionário, que permitiu ao médico “ouvir” melhor o corpo humano. Dois séculos depois, outro objeto começa a disputar esse papel de símbolo da medicina: o smartwatch.
O que antes era apenas um relógio, hoje é um verdadeiro laboratório de bolso — ou melhor, de pulso. Modelos como Apple Watch, Galaxy Watch e Fitbit já monitoram batimentos cardíacos, realizam eletrocardiogramas simples, medem oxigenação do sangue, acompanham padrões de sono e atividade física. Alguns até identificam quedas bruscas e ligam automaticamente para serviços de emergência.
E não se trata de ficção científica. Em 2018, a Apple anunciou que seu relógio havia detectado arritmias compatíveis com fibrilação atrial em milhares de usuários, levando muitos deles a procurar atendimento médico antes de uma complicação grave, como um AVC. Estudos recentes publicados no New England Journal of Medicine mostraram que dispositivos vestíveis podem identificar alterações cardíacas com alta sensibilidade.
Mas os relógios são só uma parte dessa história. Hoje temos:
Pulseiras fitness que monitoram passos, calorias e qualidade do sono.
Anéis inteligentes (como o Oura Ring), discretos e já usados até por atletas olímpicos para medir recuperação e performance.
Sensores vestíveis médicos, como os de glicemia contínua (Dexcom, Freestyle Libre), que permitem ao diabético acompanhar a glicose em tempo real sem precisar furar o dedo várias vezes ao dia.
Fones e roupas inteligentes que medem temperatura, frequência respiratória e até nível de estresse.
Segundo a consultoria Deloitte, já são mais de 400 milhões de pessoas no mundo usando algum tipo de wearable. No Brasil, a venda desses dispositivos cresce ano após ano, acompanhando a popularização dos smartphones.
O que isso muda na prática?
Antes, a saúde era medida em momentos pontuais: um exame anual, uma consulta de rotina. Agora, temos dados contínuos, que permitem ao médico acompanhar a vida real do paciente. Isso significa diagnóstico mais precoce, acompanhamento mais próximo e, em alguns casos, até prevenção de emergências.
Claro, nem tudo são flores. Ainda precisamos discutir como lidar com a avalanche de informações, a privacidade dos dados e a ansiedade que pode surgir em quem monitora cada detalhe do próprio corpo. Além disso, nenhum relógio substitui a consulta médica. A tecnologia amplia o olhar, mas não substitui a escuta humana, o vínculo e a empatia.
Mas ja imaginou que legal seu médico poder ter acesso a um smartwatch bem calibrado e acompanhar gráficos da sua qualdiade do sono, batimentos cardiacos e até pressão arterial e glicemia sem precisar lhe pedir exames ou solicitar algo, e poder te avisar no seu próprio celular sobre o que ele ta observando de alterações e o que deveriamos fazer pra melhorar isso? Bacana né? Já é uma realidade, e cada vez mais próxima de todos.
Do estetoscópio ao smartwatch, a essência continua a mesma: ouvir o corpo para cuidar melhor. A diferença é que agora o corpo fala o tempo todo — e cabe a nós, médicos e pacientes, aprender a interpretar essa nova linguagem.