Na abertura das festividades da Semana do Livro e da Biblioteca, o Museu Ferroviário de Tubarão, em parceria com a ACATUL – Academia Tubaronense de Letras –, promoveu, em suas belas, históricas e acolhedoras instalações, o lançamento de duas obras literárias do escritor José Warmuth Teixeira: Warmuth por escrito: Contos e Crônicas e África Oriental: Terra, povo e vida selvagem.
Essa união entre o Museu e a Academia, como foi dito no protocolo, não tratava apenas do lançamento de dois livros, mas do próprio ato de criar e contar histórias — um gesto de resistência cultural e de amor à palavra.
Essa fala inicial do protocolo chamou muito minha atenção, especialmente após as falas que sucederam o discurso do escritor. Mas abrirei um parêntese para falar um pouco dele, o verdadeiro “dono da festa”.
José Warmuth Teixeira é carioca de nascimento e tubaronense de coração. Foi o primeiro médico anestesista da cidade de Tubarão e região, iniciando suas atividades no Hospital Nossa Senhora da Conceição após concluir o curso de Medicina no Rio de Janeiro, na década de cinquenta. Atuou como médico trabalhista por quatro décadas na Ferrovia Tereza Cristina. É membro fundador da Academia Tubaronense de Letras – ACATUL, onde ocupa a cadeira de número sete, e também da Academia de Médicos Escritores – SOBRAME, entre outras instituições acadêmicas nacionais e internacionais.
O médico e escritor é, ainda, membro fundador do Museu Ferroviário de Tubarão. Esportista aplicado e disciplinado, conquistou cinco títulos cariocas de halterofilismo. Para surpresa de muitos presentes, soube-se que ele também foi apaixonado pelo basquete e que, na década de sessenta — mais precisamente em 1966 —, atuou como técnico e atleta nos Jogos Abertos de Santa Catarina, realizados em Lages. Comprometido com as causas em que acreditava, sua atuação no esporte foi determinante para a realização de diversos eventos desportivos na cidade.
Aos 92 anos, lançando sua vigésima terceira obra, José Warmuth é o que se pode chamar de um escritor eclético. Suas produções transitam entre os gêneros infantojuvenil, histórico, poético, contos e crônicas.
Voltando às falas das autoridades, a unanimidade se fez presente em cada palavra, em cada voz: a reverência ao médico, ao escritor, ao atleta, ao visionário, ao sonhador. Em cada discurso, revelava-se uma noite de reconhecimento, partilha e inspiração. Os convidados enalteceram a palavra escrita, a criação literária e o poder dos livros de Warmuth em aproximar pessoas.
Vozes exaltaram o visionário homem que literalmente mudou a história de nossa cidade, de nosso estado e, de certo modo, do país, ao sonhar com um museu ferroviário que hoje se configura como o maior da América Latina em número de locomotivas a vapor.
Quando vejo os vagões alinhados que parecem sussurrar histórias, compreendo que a criação do Museu Ferroviário não foi apenas a montagem de uma exposição: foi a coragem de preservar o passado para iluminar o presente e guiar o futuro. Conservação patrimonial não é mera guarda de ferrugem — como costumo dizer em minhas intervenções escolares —, é a guarda das pessoas que aqui viveram, das trajetórias que moldaram a cidade, dos rituais cotidianos que teceram a vida de cada família. Essa reflexão é inspirada na convivência com a museóloga Silvana, que respira a história ferroviária e tanto nos ensina.
Ao erguer o museu, Dr. José Warmuth Teixeira e sua geração de sonhadores — especialmente os integrantes da SALV, Sociedade dos Amigos da Locomotiva a Vapor — fizeram mais do que instituir um espaço de referência: devolveram à cidade um fio que liga o passado ao presente, um elo que nos concede identidade e responsabilidade.
Hoje, Tubarão não apenas guarda locomotivas a vapor; guarda também um pacto com a memória. Cada galpão restaurado, cada fragmento de história recuperado é uma semente de educação para as futuras gerações.
Quando nosso convívio com o museu se estreita, passamos a enxergar nele uma escola que ensina o valor da paciência, do trabalho em equipe e da sabedoria em lidar com o tempo — lembrando que grandes conquistas nascem, literalmente, da persistência.
No prefácio do livro Warmuth por escrito: Contos e Crônicas, escrito por Maciel Brognoli, pude sentir a mesma emoção que vivi em dois momentos com o Dr. José. O primeiro foi quando autografei meu livro A Casa de Lata Quadrada, após ele permanecer um bom tempo na fila de autógrafos; sua humanidade e humildade me comoveram naquela noite. O segundo momento de forte emoção foi conduzir o protocolo deste evento, que ficará para os anais da história.
Encerrando esta crônica peço licença ao meu querido confrade Maciel Brognoli para citar um trecho do seu prefácio que me tocou profundamente:
“Essa mesma força visionária se revelou quando, diante de vagões enferrujados e trilhos esquecidos, ele viu um museu. Onde a cidade via escombros, ele reconheceu história. E, com a firmeza de quem já soubesse transformar peso em impulso, ergueu, com coragem e esforço contínuo, o Museu Ferroviário de Tubarão — fruto de sua fé no passado e de sua determinação em trazê-lo à luz… Não por acaso, Tubarão é hoje a Capital Catarinense do Turismo Ferroviário: foi preciso que um homem ousasse sonhar. E, mais que isso, ousasse levantar do chão aquilo que muitos julgavam impossível.”
Dr. Warmuth, que sua obra permaneça inacabada — que cada visitante, ao atravessar a porta do nosso Museu Ferroviário, testemunhe que a memória, que o sonho pode e deve partir para a ação. Suas palavras e seus feitos deixaram de ser apenas lembranças: tornaram-se parte do patrimônio vivo de nossa cidade. Um viva ao Senhor!
Nos encontramos nas próximas linhas!
