Os Estados Unidos suspenderam a tarifa adicional de 40% aplicada sobre diversos produtos agrícolas brasileiros. A decisão foi formalizada pelo presidente Donald Trump nesta quinta-feira (20) e tem efeito retroativo a 13 de novembro, revertendo semanas de incerteza no comércio bilateral. A sobretaxa atingia itens como café, carne bovina, cacau, açaí e frutas.
Conversa entre Trump e Lula impulsionou negociações
O decreto menciona diretamente a conversa telefônica realizada em 6 de outubro entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ambos concordaram em iniciar tratativas para reduzir tensões comerciais. Segundo o documento, houve “progresso inicial nas negociações com o governo do Brasil”, justificando a recomendação das autoridades americanas para retirar as tarifas.
A medida representa uma mudança importante no tom entre os dois países, após semanas de incerteza envolvendo produtores e exportadores brasileiros.
Inflação pressiona a Casa Branca
A decisão também foi interpretada por analistas como uma resposta à pressão inflacionária nos Estados Unidos. Entre janeiro e setembro de 2025, o preço do café subiu 15,3% no mercado americano, enquanto a carne moída avançou 14,2%.
A alta dos alimentos tem pesado sobre a popularidade de Trump.
Brian Winter, vice-presidente executivo da Americas Society, afirmou que, embora o governo americano cite negociações diplomáticas, a inflação — com bifes de carne bovina acumulando alta de 17% em um ano — “certamente teve influência”.
Setor cafeeiro brasileiro comemora alívio
O café foi um dos produtos mais afetados pelas sobretaxas. Entre agosto e outubro, período em que a tarifa esteve em vigor, as exportações brasileiras para os EUA despencaram 51,5%, de 2,03 milhões para 983.970 sacas.
Marcos Antonio Matos, diretor-geral do Cecafé, destacou que torrefadores americanos também pressionaram pela mudança.
“Agora estamos em pé de igualdade, é o que sempre quisemos”, afirmou.
O Brasil exportou US$ 1,96 bilhão em café para os Estados Unidos em 2024, mantendo a liderança no fornecimento. Com a suspensão, exportadores poderão solicitar reembolso das sobretaxas pagas desde 13 de novembro, conforme normas americanas.
Diplomacia acelerou acordo
O anúncio é resultado de rodadas intensas de negociação. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, encontrou-se três vezes no início de novembro com o secretário de Estado americano, Marco Rubio. A data retroativa coincide com a reunião formal entre os diplomatas em Washington.
Durante o Salão do Automóvel, em São Paulo, Lula celebrou a decisão:
“Eu não costumo tomar decisão quando estou com 39° de febre. Eu espero baixar. A vitória veio pelo diálogo”, disse o presidente, em tom bem-humorado.
Apesar do avanço, o governo brasileiro seguirá pressionando pela remoção total das tarifas impostas aos produtos nacionais.
