O diretor James Cameron revelou que descartou o final original de Avatar: Fogo e Cinzas, terceiro filme da franquia, após passar por uma profunda reflexão moral durante a pós-produção. O cineasta decidiu reescrever o clímax da história ao perceber que a cena planejada contradizia os valores centrais defendidos pela própria saga.
Segundo Cameron, o desfecho original mostrava o protagonista Jake Sully armando diferentes clãs Na’vi com armas automáticas para um confronto decisivo contra forças coloniais. A ideia foi abandonada ao ser comparada pelo diretor a práticas históricas de colonização e violência contra povos indígenas.
“Em certo ponto, simplesmente me ocorreu — isso corresponde à história colonial”, afirmou Cameron em entrevista ao The National. “Armar as tribos e colocá-las umas contra as outras é a coisa errada. Isso fez parte do genocídio de povos indígenas na América do Norte. Eu não posso ter o Jake fazendo a mesma coisa.”
Mudanças profundas no clímax do filme
A decisão foi tomada anos após o início da produção, quando Cameron revisava o material já filmado na sala de edição. Insatisfeito com o significado simbólico do confronto armado, o diretor optou por remover cenas, convocar os atores para regravações e reformular completamente o final do longa, priorizando valores diferentes dos inicialmente propostos.
De acordo com Cameron, a mudança foi bem recebida pelo elenco. “Os atores ficaram empolgados com isso. Eles disseram: ‘ah, sim, isso faz sentido’”, relatou.
Influência da experiência na Amazônia
A reflexão ética do diretor remonta a 2010, quando Cameron visitou a região amazônica do Brasil, meses após o lançamento do primeiro Avatar. Convidado por lideranças indígenas Kayapó, ele acompanhou de perto a mobilização contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu.
Na época, Cameron chegou a declarar publicamente que “a batalha decisiva da história humana está acontecendo durante nossa vida”, ao denunciar os impactos do projeto. Apesar da mobilização internacional, a hidrelétrica foi concluída em 2019, reduzindo drasticamente o volume do rio em alguns trechos.
A experiência reforçou, segundo o cineasta, a ideia de que histórias imersivas e de grande alcance podem ser ferramentas mais eficazes de conscientização do que a intervenção direta.
Processo criativo em constante mudança
Para Sam Worthington, que interpreta Jake Sully, revisões de última hora fazem parte do método de trabalho de Cameron. “Jim é como um pintor”, afirmou o ator. “Ele nos liga como se fôssemos médicos de plantão: ‘Você pode vir aqui? Quero testar uma coisa’. Ele nunca para de pintar.”
O próprio diretor reconhece essa abordagem flexível. “Não sou precioso com o que escrevi. Estou constantemente questionando. Vejo a pós-produção como uma espécie de reescrita”, explicou.
Estreia e expectativas de bilheteria
Avatar: Fogo e Cinzas estreou na Alemanha e nas Filipinas no dia 17 de dezembro e chega aos cinemas dos Estados Unidos nesta sexta-feira (19). A projeção inicial aponta para uma arrecadação de estreia entre US$ 100 milhões e US$ 130 milhões no mercado doméstico.
O desempenho do filme deve ser determinante para confirmar se Cameron seguirá à frente da direção do quarto e quinto capítulos da franquia.

