Nos textos anteriores falamos bastante sobre produtividade, válida para empresas e pessoas como um todo.
Nos próximos temas, vamos expandir um pouco mais o nosso escopo.
E, nesse dia de hoje, falaremos sobre um modelo de gestão bizarro que nasceu e se espalhou pelas empresas: o famoso “jeitinho corporativo.”
Você já viu aquela cena clássica: o projetor não funciona, o cabo HDMI sumiu, o café acabou, a cafeteira EXPLODIU.
E alguém solta a frase mágica: “Relaxa, a gente dá um jeito.”
Pronto.
Esse é o momento exato em que o improviso começa o seu reinado de terror.
E o problema não é improvisar uma vez.
O problema é quando o improviso vira modelo de gestão.
O mito do improviso heróico
Nas empresas brasileiras, o “improvisador” ou o famoso “multitarefa” costuma ser exaltado como herói.
É aquele que resolve tudo, corre de um lado pro outro, resolve onde dá e como dá, e usa fita adesiva onde faltava planejamento.
Esse sai como “o cara que faz acontecer.”
Ou o clássico:
“Sim, sim, o fulano é o nosso coringa aqui dentro — ele faz o comercial, o administrativo e o RH. É um dos melhores que temos aqui dentro, o cara é bom.”
Mas, no dia seguinte, ninguém sabe onde está a fita, o cabo, nem o tal herói.
E sobra apenas a frase:
“Funcionou, né?” — funcionou… por enquanto.
Improvisar é como usar silver tape num avião: pode segurar por um tempo, mas você realmente quer voar assim?
Quando o jeitinho vira rotina
O improviso nasce da boa intenção: resolver rápido, entregar soluções, servir bem o projeto ou a empresa de que você faz parte — ou que você é dono.
Mas quando ele se repete, cria uma cultura silenciosa: a de não planejar.
Aí vem o ciclo vicioso:
- nada é documentado;
- nada é estruturado;
- acontece o famoso “acúmulo de funções” (que você e eu sabemos muito bem o que é, não é?);
- ninguém sabe o padrão;
- o retrabalho come solto;
- e o time vive com a sensação de que “tudo é urgente.”
Resultado?
Gente cansada, processos confusos e a sensação coletiva de que o fogo nunca apaga — porque o galão de gasolina está dentro da sala.
Isso acontece muito em empresas com equipe enxuta ou em projetos onde a fase de planejamento simplesmente não existiu.
(Todo mundo rindo igual ao Coringa.)
O custo invisível do “depois a gente vê”
A conta do improviso não vem no boleto, mas ela chega.
Chega em forma de atraso, de cliente perdido, de colaborador exausto.
Chega quando a empresa cresce e descobre que nada tem manual, nada tem planejamento e cada um faz “do seu jeito.”
E, convenhamos, o “seu jeito” às vezes é o inferno do outro.
Como sair do modo “jeitinho”
Dica 01 – Padronize o básico
Não precisa criar um manual de 200 páginas.
Comece com checklists simples: “como enviar proposta”, “como atender cliente”, “como abrir chamado.”
O segredo é transformar o improviso em processo — e o processo em hábito.
Dica 02 – Estruture e defina as funções
Deixe claro quem faz o quê.
Por exemplo: cozinheiro não pode ser auxiliar administrativo.
Você entendeu, né?
Dica 03 – Planeje o que se repete
Se algo acontece toda semana, não é emergência: é rotina.
E rotina sem dono vira bagunça institucionalizada.
Dica 04 – Elogie quem previne, não só quem apaga incêndio
O verdadeiro herói corporativo não é o que corre com o balde d’água —
é quem viu o fogo antes e instalou o extintor.
No fim das contas…
Dar um jeitinho é humano, brasileiro e até simpático.
Mas quando a empresa vive disso, o improviso vira uma espécie de religião:
todo mundo reza pra tudo dar certo — e torce pra fita adesiva aguentar mais um dia.
E você?
Prefere ser o herói do “jeitinho” ou o estrategista do “feito pra durar”?
Porque no mundo dos negócios, o improviso salva o dia — mas o planejamento salva a empresa.
E, de quebra, deixa as pessoas menos doentes.

