Ano passado, quando participei do musical Criciúma em suas Estações, estrelado pelos alunos do segundo ano do Colégio Madre Teresa Michel, vivi uma das maiores emoções da minha trajetória como escritora. Ver aquelas crianças trocando de roupas e cenários com tamanha independência, disciplina e, claro, profundo conhecimento do conteúdo — fruto da leitura de meu livro Sua Majestade Donna Locomotiva e de todo o processo de pesquisas e visitas a campo — encheu-me de orgulho e encantamento.
A peça, lindamente escrita e dirigida, durou cinquenta minutos que me fizeram cantar, aplaudir, chorar e viajar pelos trilhos da história da cidade.
Ao final do evento, caímos no riso quando uma das irmãs comentou que eu havia me emocionado “um pouquinho”. Um pouquinho? Eu tinha me derramado em lágrimas e mal conseguia falar de tanta emoção.
Entre abraços de alunos, professores e de toda a equipe do colégio — sempre tão comprometida com o cuidado emocional, o acolhimento e a formação humana de cada estudante — eu me preparava para sair quando fui apresentada à irmã Cláudia, que fez questão de assistir ao espetáculo antes de se recolher.
Eu, que já me sentia abençoada cada vez que adentrava o Gigante Cor-de-Rosa, tive então a oportunidade de abraçar a irmã que ajudou a fundar o colégio. Aos noventa e nove anos, ela estava ali para escrever o prefácio do livro comemorativo que seria lançado nas festividades dos setenta anos da instituição, previstas para o ano seguinte.
Mãos finas, olhos claros e um sorriso encantador, ela me abraçou e disse ter gostado demais do musical. Parabenizou-me pelo livro e, depois disso, confesso que não lembro bem das palavras, pois mergulhei no brilho de seus olhos.
Mesmo relutando, tentei imaginar o quanto aquela religiosa foi importante para a história do colégio e quão destemida precisou ser ao aceitar dirigir um Jeep, tornando-se a “motorista da hora” das irmãs que construíram, tijolo a tijolo, um dos colégios mais importantes do estado.
Irmã Cláudia me impressionou — e me impressionou, igualmente, o amor e o cuidado das demais irmãs, hoje diretoras do Colégio Michel, dedicadas àquela que teve papel fundamental na formação da instituição que se tornaria referência em educação integral, emocional e humana.
Este mês recebi o convite para o lançamento do livro e lá fomos nós, emocionados com a deferência e ansiosos por reencontrar todos com quem trabalhamos nos últimos três anos. Eu já me emocionava com cada abraço antes mesmo de entrar no teatro; porém, a grande estrela da noite estava logo na entrada, recebendo os convidados.
Irmã Cláudia — agora com cem anos recém-completos — me reconheceu. Nos abraçamos rapidamente, pois o cerimonialista já pedia que todos ocupassem seus lugares.
O livro foi lançado. A autora, a jornalista Suzi Nascimento, discursou muito emocionada; mas foram as falas das irmãs Cláudia e Vergínia que mais me tocaram.
Irmã Vergínia nos lembrou que, ao lermos o livro comemorativo, embarcaríamos em uma jornada que atravessa sete décadas, revisitando memórias, conquistas e valores inabaláveis que moldaram gerações de estudantes. Isso me alcançou profundamente, pois compartilho desse propósito em minhas atividades no colégio: acolher, escutar, fortalecer vínculos e educar pela empatia — pilares que o Colégio Michel cultiva com tanto zelo.
Já irmã Cláudia, com sua humildade inesquecível, pediu desculpas por um eventual tropeço, pois havia perdido os óculos. Leu, olhou para o público diversas vezes e voltou ao discurso sem qualquer vacilo. Com doçura, agradeceu os alunos que representavam a primeira turma de formandos.
Encerrando suas palavras, falou do amor pela Congregação das Pequenas Irmãs da Divina Providência — responsável por projetos sociais e educacionais transformadores —, e do carinho profundo pelo povo e pela cidade de Criciúma.
Agradeceu aos benfeitores e a todos que mantêm viva a chama que um dia foi sonho da fundadora.
A fila do autógrafo era longa, mas cada minuto de espera valia a pena. Guardarei para sempre o momento em que recebi o autógrafo da irmã Cláudia, que atendeu, com delicadeza, cada pessoa que aguardou sua vez.
Que a fé e a determinação dessas religiosas, inspiradas em Madre Teresa Michel, cubram de bênçãos o Colégio — hoje carinhosamente chamado de Casa de Luz e Saber — e que cada um de nós possa honrar seus preceitos e compromissos.
Foi memorável. E eu me sinto, verdadeiramente, grata por ter sido convidada para celebrar essa história viva, afetiva e luminosa.
Nos encontramos nas próximas linhas!

