É fato! Cada vez mais os consumidores estão obtendo acesso a variadas opções em compra de produtos fabricados não só no Brasil, mas também no exterior, e o comercio eletrônico faz com que as fronteiras físicas não se constituam mais como empecilho para o consumo.
Contudo, também é fato que o consumo não está associado apenas as facilidades trazidas pela internet e pela variada gama de produtos disponíveis para compra; também está relacionado ao fetiche intrínseco as mercadorias, que é impulsionado por campanhas publicitárias inspiradas em artistas famosos, promoções e outlets.
É como se hoje, vivêssemos um confronto entre o “homem novo, moderno” que tem tudo ao seu alcance, principalmente o último lançamento e o “homem velho e antiquado”, que preserva suas aquisições para que estas durem e ele as aproveite o máximo possível.
Agimos como se não fizéssemos parte da natureza e como se não pertencêssemos a realidade social. Por isso, usamos os nossos sistemas tecnológicos para expurgar de nós, elementos do orgânico e do relacional, daquilo que denuncia que somos apenas uma minúscula parte do mundo em que vivemos.
Mas, não podemos esquecer, que na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável. A característica mais proeminente da sociedade de consumidores – ainda que cuidadosamente disfarçada e encoberta – é a transformação dos consumidores em mercadorias (BAUMAN, 2008).
Quando olhamos a realidade dessa forma, é inevitável que nos perguntemos: são realmente as necessidades humanas que incitam o consumo supérfluo e desenfreado? Ou é o nosso atual modelo econômico que cria para nós necessidades que nem imaginávamos ter? Está na natureza humana o desejo de possuir bens (que muitas vezes nem precisamos) ou é a sociedade e o mercado que cria e manipula o desejo das pessoas?
Não são questões fáceis de responder. Como compradores, fomos adequadamente preparados a cumprir o papel de sujeitos de um faz-de-conta que se experimenta como verdade viva; um papel desempenhado como “vida real”, mas que com o passar do tempo afasta essa vida real, despindo-a, nesse percurso, de todas as chances de retorno.
A alegria está toda na compra e na ostentação; já que a aquisição em si, com seus efeitos diretos e colaterais (pagamento, crédito, prestações, obtenção do dinheiro para quitar a dívida, manutenção do bem, estoque, etc.) apresenta uma alta probabilidade de gerar frustração, dor e remorso (BAUMAN, 2008).
Para agravar esta situação a desigual distribuição de bens sociais, a discriminação, o desrespeito às diferenças, a incerteza, a involução de valores foram gradativamente perdendo o status de anomalias e, tornando-se constituintes do pensamento globalizado e do processo econômico em curso. Assim, é normal que uns tenham e outros não… É natural (e até satisfatório) que uns possam adquirir e outros não… É merecimento, pensam alguns… Será?
São todos esses pontos que nos levam a concluir que, deixar as coisas como estão, manter o status quo, significa conservar intocável, fora do alcance de uma análise crítica, o tecido social e todos os elementos que tangencialmente o perpassam. Significa abster-se do essencial, focalizando apenas o periférico. Significa ser consumido pelo consumo!
Então, que tal pensar sobre isso e avaliar um pouco mais o que realmente é necessário e essência nas suas compras?

