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O que se passa na minha cabeça de escritora

Assim que aceitei escrever para o Notisul, em minha primeira crônica, pedi, em grupo privado e muito querido, ideias para escritas e opiniões sobre as minhas crônicas publicadas no portal. Aquele pedido parecia quase um socorro para que eu me sentisse acolhida. Rita, uma amiga, sugeriu: “o que se passa na cabeça do escritor para escrever?”. Parecia tão óbvio, tão fácil falar sobre o assunto.

No momento, recordei as histórias que já escrevi e as muitas que repousam. Sim, é necessário que o texto adormeça, e que durma profundamente.

Ao redigir a quarta crônica, percebi que escrever minhas histórias é bem diferente de escrever para a coluna. Embora sejam apenas três por mês, há o compromisso da escolha do tema e da entrega do material dentro do prazo.

Eu e Renata, amiga jornalista e cronista, já havíamos comentado sobre os apagões que afligem os cronistas, especialmente aqueles com colunas diárias e semanais, onde a pressão é ainda maior.

Vamos então ver como posso revelar o que se passa na “minha cabeça”. É, de fato, bem diferente e envolve um certo desconforto. Entendo que o maior desconforto hoje talvez derive da sobrecarga de informações que recebemos diariamente. Nos últimos dias, tantas coisas aconteceram que pensei: isto daria uma crônica interessante; vou escrever. Em seguida, outra notícia ou acontecimento parecia mais tentador.

Nesta quinzena trabalhei intensamente em várias frentes, o que parecia facilitar a escolha do tema; contudo, quanto mais vivi, menor a certeza me parecia.

Isabelle Borges, em sua newsletter desta semana na plataforma Substack, nos provoca com este assunto: “o que você faz antes de começar?”. Em sua reflexão, ela nos convida a retornar ao começo de qualquer coisa e ao nosso gesto imediato anterior ao ato. Ao ler o texto, lembrei de Rita, pois Isabelle em sua rica narrativa nos revela como faz para aquecer e ligar os motores.

“Na busca pela voz que escreve, ela segue procurando indícios, tentando romper o estado inerte.”

Chega a ler dois capítulos para ganhar ritmo e iniciar sua escrita.

Já Ilan Brenman, escritor, educador e contador de histórias, foi categórico em uma aula sobre literatura infantil: você quer escrever bem? Tenha sempre uma vara de pescar consigo. Sua fala me marcou. Tenha sempre um bloquinho e uma caneta, repetia, citando suas inúmeras histórias perdidas por confiar apenas na memória.

Ainda não tenho uma resposta pronta sobre o que passa na minha cabeça de escritora. Há momentos em que sobram ideias; em outros, parece que elas seguem seus próprios caminhos, deixando um vazio imenso dentro de mim.

Acredito que pensar demais não é vantajoso, e pensar de menos ainda não consigo. Embora não tenha lido Domenico De Masi, que popularizou no ano dois mil o conceito do ócio criativo, já passaram vinte e cinco anos, e é hora de refletir sobre a inatividade aparente quando aliada ao descanso,

“(ainda não consigo relaxar em uma rede pensando em tudo que tem para fazer)”

estudo e lazer, sendo essa pausa fundamental para a criatividade e a inovação. Talvez a resposta ronde esta ideia: de meus nove livros, oito foram escritos ao som dos pássaros e ao balanço do mar, lá na casa da floresta.

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